16 de junho de 2008
Não-coisa: II
... só o sabes no corpo
o sabor que assimilas
e que na boca é festa
de saliva e papilas
invadindo-te inteiro
tal do mar o marulho
e que a fala submerge
e reduz a um barulho,
um tumulto de vozes
de gozos, de espasmos,
vertiginoso e pleno
como são os orgasmos
No entanto, o poeta
desafia o impossível
e tenta no poema
dizer o indizível:
subverte a sintaxe
implode a fala, ousa
incutir na linguagem
densidade de coisa
sem permitir, porém,
que perca a transparência
já que a coisa ë fechada
à humana consciência.
Nota: Neste exercício de post faço uma associação entre a desconstrução (rebeldia) poética de Ferreira Gullar, e o imperativo dadaísta de Kurt Schwitters (poster). Ambos encontraram no non-sense um caminho seguro para a arte de exprimir: um exercício suado de reflexão, autocrítica e criatividade.
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