3 de junho de 2008

Anthony Hopkins

Zé Cunha, ao comentar o post sobre Spacey, fez uma acertada referência ao Anthony Hopkins, e senti tentada a acrescentar algo mais, chamando à cena esses dois actores, pela sua intensidade dramática como vilão.

Existem similitudes entre Spacey e Hopkins, e cada um se afirma em cenários diferentes. Kevin Spacey actua com discrição, (ao mesmo tempo com expressividade) e não é propriamente um homem de grandes embates. Um excelente coadjuvante, e pelo que se percebe, tanto ele, quanto os directores sabem disso, e enquadram com competência o facto.

Hopkins consegue ser um extremoso psicopata, bastante expressivo e dominador. Tanto assim é, que já esteve, variadíssimas vezes, na pele de grandes nomes da humanidade: Nixon, Picasso, Adolf Hitler, Charles Dickens …
Mas uma coisa é certa, tal como Anthony Perkins (Psico, 1960) e Malcolm McDowell (Laranja Mecânica, 1971), Anthony Hopkins será para o cinema um eterno psicopata, o que compromete, acho, a sua actuação em outros papéis (da perspectiva de quem o assisti, apenas).

4 comentários:

Alex disse...

Viva
Os dois actores têm muitas coisas em comum como ambos referimos.
No outro Post eu tentei sublinhar uma forma de interpretar que fez escola nos filmes dramáticos, cuja linhagem vem de muito atrás, e que estes actores representam dois momentos altos (e próximos). Fui buscar os outros dois exemplos (Perkins e McDowell) pela negativa, dois grandessíssimos papéis, cuja carreira terminou no momento em que as duas referidas actuações se tornaram maiores do que eles próprios, de tal forma a carreira deles se confunde com aqueles papéis, o que é raro. Com Spacey e Hopkins tal não aconteceu, creio eu por dois motivos: 1º porque já estavam avisados desse risco, logo são ambos devedores dos actores de Psico e Laranja Mecânica; 2º porque ambos começam e cimentam a sua qualidade de actores no Teatro (o que dá outra preparação).
Até aqui tudo bem. Já não concordo contigo na conclusão que tiras quanto à carreira do Hopkin's, e à associação que fazes dele a papéis de psicopata. Ou então percebi mal a tua ideia. Discordo pelo seguinte. Creio que ele é muito mais versátil do que o Spacey. Dou dois exemplos de papéis em que tenho dificuldade em ver o Kevin S. assegurar com o mesmo à vontade: Howards End e The Remains of the Day, ambos do J. Ivory. Versatilidade que também se lhe reconhece em papéis históricos tão diferentes (nem todos de psicopatas).
Com isto quero dizer que, quanto a mim, o KS é muito mais previsível como actor do que AH.
Gosto de ambos, como é óbvio. Mas Hopkins para mim tem um lugar muito especial. Deslumbrou-me mais vezes do que KS.
Forte Abç
ZCunha

Anónimo disse...

Zé Cunha,
Concordo, em pleno, contigo, na avaliação que fazes do S. e do H. O exercício comparativo que fizemos aqui, interessante, diga-se de passagem, cingiu-se aos papéis de vilão/psicopata desses dois actores. E é claro que em outras escalas não faria, de modo algum, comparações entre Spacey e Hopkins. Spacey não seria nunca um James Stevens. É uma outra história… Hopkins é versátil, completamente, e extraordinário. Entretanto, da perspectiva de quem o assiste (hoje) poderá existir uma incessante ou ténue ligação aos seus papéis de “psicopata”. Uma leitura muito pessoal.
Por exemplo: uma das actuações mais inesquecíveis de que tenho memória foi Hopkins na pele do mordomo James de J. Ivory. Marca, simplesmente, assim como as suas actuações em filmes históricos.

Um abraço

Margarida

Alex disse...

Volto ao local do crime. Há algo nestas duas escolas (a Americana e a Inglesa) de profundamente distinto. Algo que as separa de uma forma tão nítida, que seria um a pena não o referir. Do que tenho visto no cinema, creio que só os Russos se aproximam desse trabalho fundamental, que nenhuma apologia da imagem e dos efeitos pode disfarçar ou anular.
A escola da VOZ. A dicção. Na Escola Inglesa (e em parte na Russa - lembro-me dos filmes do Tarkovsky) mais do que ler textos, e dizer com profissionalismo e eficácia as falas, é o ACCENT, a pronúncia, a ênfase, a expressão, a entoação, que os torna únicos. Não sei se contigo já aconteceu, mas já dei comigo muitas vezes de olhos fechados a "comer", a saborear, a tactera com os ouvidos aquele grão de voz inconfundível dos actores britânicos. Arte de dizer, amor à palavra dita, uma festa, uma celebração do discurso.
Sem paralelo.
ZC

pura eu disse...

O ACCENT cristalino e elaborado é notável nos filmes ingleses, principalmente naqueles de produção inglesa. Estou a lembrar-me aqui de alguns filmes do nosso já citado J. Ivory que é americano, mas só integra produções inglesas. Além da cultura do falar bem, vejo também nos filmes de produção britânica um cuidado notável com a cenografia... enfim, uma escola com as suas linhas bem distintas, e notáveis.

Abraços

Margarida