Uma das escritas eternas que guardo em mim saiu da pena de
Marguerite Duras. A dureza, a densidade, a confidência, e a profundidade são as marcas que se impregnam nos seus livros. São igualmente de notar as suas marcas cinematográficas: a adaptação ao cinema das suas obras
O Amante (1984)
Moderato Cantabile (1958) e a escrita do argumento do inesquecível
Hiroshima meu amor (1959).
Os eixos de sua escrita giram à volta de conflitos familiares, relações amorosas, paisagens marcantes, política (no seu sentido diverso), e a morte, numa urgente ânsia de falar de si... Duras soube, na sua escrita, dar vida à dor, ao ódio, ao amor, e à desilusão: a condição humana.
Toca-me tudo que vem desta senhora falecida em 1996, e me acontece, em momentos decisivos, estranhamente, (de nunca tê-la alcançado) sentir em lembrança a sua escrita.
Deixo aqui um trecho definitivo que ilustra a vida, o amor, a morte, e a eternidade: os pilares da escrita de Duras.
"Anos depois da guerra, depois dos casamentos, dos filhos, dos divórcios, dos livros, ele veio a Paris com a mulher. Telefonara-lhe. Sou. Ela reconhecera-o logo pela voz. Ele dissera: queria só ouvir a sua voz. Ela dissera: sou eu, bom dia.
Ele estava intimidado, tinha medo como dantes. A sua voz tremia de repente. E com o tremor, de repente,
ela voltara a encontrar a pronúncia da China. Ele sabia que ela tinha começado a escrever livros, soubera-o pela mãe dela que voltara a ver em Saigão. E depois dissera-lho.
Dissera-lhe que era como dantes,
que ainda a amava, que
nunca poderia deixar de a amar,
que a amaria até à morte."
O Amante