31 de julho de 2009
A Nação, Cidade Velha e Fesman
1. A Nação atingiu o nº 100, e conhecendo o chão que pisamos, não poderia deixar de desejar muita força ao Jornal e congratular-me com a ideia de pluralidade mediática que o semanário ajudou a erguer. Nessa edição, que me pareceu comemorativa, um grupo de colunistas habitues, ou não, lançaram um olhar especial sobre o Jornalismo, também especializado. Como era de se esperar, foram os outros (tão somente) a falarem do jornalismo, e nunca os próprios jornalistas. Lourenço Lopes diz, a dada altura no seu artigo, que “A Comunicação Social deve poder exercer a sua função pedagógica, criando as condições para se debater as grandes questões sociais do país, desempenhando o seu papel insubstituível de mediador da informação entre a sociedade e os poderes públicos”.
É também este pesado e redutor conceito reinante na "Província", que o Jornal A Nação, nesta data comemorativa, deveria ajudar a desconstruir...
2. O Comité de Gestão e da Comissão Consultiva da Cidade Velha – Património Mundial reuniu-se ontem pela primeira vez, e esse encontro deverá ser o ponto de partida, a todo o vapor, para as transformações que o país aguarda: melhorar as condições de vida das populações locais, conservar e agir no sentido da recuperação da linha arquitectónica do Sítio. (algumas construções aberrantes terão de ser demolidas, garante Carlos Carvalho). Quanto ao reforço da gestão e valorização, aquele responsável do INIPC diz que os projectos para Cidade Velha (públicos e privados) são inovadores e respeitam a vocação histórico e cultural do Sítio. De resto, esse Comité que para os trabalhos no terreno criou um Gabinete Conjunto, deverá também trabalhar em cima das recomendações da UNESCO, onde se destaca a qualificação urgente dos guias turísticos que, a priori, devem ser naturais do Concelho. Outra recomendação ao Município, vai para a urgente elaboração e aprovação dos instrumentos e planos de desenvolvimento urbanísticos.
3. Finalmente, numa reunião do Conselho de Ministros, na semana passada, o governo senegalês optou pelo adiamento para 2010 do FESMAN III.
30 de julho de 2009
S.Filipe: histórias do quotidiano
Uma iniciativa de preservação que salta à vista de quem visita a ilha do Fogo, é a Casa da Memória da cidadã Suiça Monique Widmer que escolheu a cidade para viver.
Casa da Memória, o canto etnográfico da ilha, situa-se na parte histórica da cidade e é uma antiga casa de habitação e, depois, casa comercial, que serviu, nos anos 60, para projectar filmes, funcionando assim como o primeiro cinema ao ar livre do Fogo.
Desde a sua restauração, em 2001, a Casa da Memória tornou-se num museu incontornável que acolhe em permanência uma exposição etnográfica dos diferentes aspectos da cultura e da história da Ilha do Fogo.
Ultimamente a casa recebeu um novo espólio (uma biblioteca) com raridades que atravessam séculos, diferentes géneros de publicações e alguns discos. Obras que dormiam há décadas no Sobrado de João Monteiro de Macedo, a mais emblemática e bonita casa da cidade.
Ultimamente a casa recebeu um novo espólio (uma biblioteca) com raridades que atravessam séculos, diferentes géneros de publicações e alguns discos. Obras que dormiam há décadas no Sobrado de João Monteiro de Macedo, a mais emblemática e bonita casa da cidade.
29 de julho de 2009
O lugar das palavras
“Os momentos” recebeu um comentário particular, vindo do poeta Jorge Carlos Fonseca… e como neste canto as palavras que tocam nunca se esvaem, republicamos em jeito de cumplicidade o trecho seguinte....
“É como entrar numa casa que não é luxuosa, mas encanta pela sua cómoda arrumação, pelo esmero posto na singela decoração, pela música que parece atravessar os corredores estreitos que separam as divisões.
Talvez por isso, tive dificuldade – ou terá sido cerimónia? - em entrar: por esta porta ou por este canto delicioso?”
JCF
28 de julho de 2009
Os novos encantos do Fogo
Quem sabe não terá chegado a hora de vermos (e vivenciarmos) a Ilha do Fogo para além do seu portentoso vulcão, dos seus soçobrados sobrados e das suas caudalosas bandeiras? Quem sabe não terá chegado a hora de acrescentarmos algo mais que o instituído e seus clichés para que possamos descortinar outros horizontes que já começam a ser reais na Ilha do Fogo?
Novos elementos, pela sua qualidade e pelos seus encantos, terão de entrar no roteiro e no circuito desta ilha, na medida em que estes marcam alguma singularidade e evidente diferencial em relação ao resto do arquipélago cabo-verdiano.
Antes de mais, valerá dizer que a Ilha do Fogo alberga o único hospital privado de Cabo-Verde. O Hospital São Francisco, graças ao activismo solidário do Padre Octávio Fasano e ao programa de intercâmbio com diversos hospitais e organizações de saúde europeus, é uma unidade hospitalar que presta várias valências e especialidades médicas. Utentes do Fogo e da Brava, bem como doutros pontos do País, procuram os seus serviços de qualidade e a custos sociais. Nesse fim-de-semana, por exemplo, foi feito no hospital o primeiro implante orbital, inédito no país.
Este hospital é um projecto associativo da ASDE, (Associação Solidariedade e Desenvolvimento) sem fins lucrativos, cuja sustentabilidade depende parcialmente da dinâmica do projecto que lhe é indexado, o Casas do Sol, vila turística paradisíaca com dezenas de apartamentos e complexos logísticos para eventos (subentendendo os culturais também), sobranceira à praia de Fonte Vila.
Outro mega projecto dessa associação é a Vinha Maria Chaves. Projecto vinícola, incapaz de deixar qualquer visitante indiferente. São 25 hectares de terreno, na zona Maria Chaves, onde foram plantadas 30. 000 videiras vindas da Itália, desde Junho passado e se projectam 106.000 mil pés de vinha, num horizonte de 6 meses. A produção, a cabo de um pessoal já especializado pelo labor vinícola, estima-se, dentro de dois anos, em cerca de 250. 000 garrafas de vinho por ano. Algo que introduz um novo paradigma agrícola em Cabo Verde, instaurando o necessário conceito de agronegócio.
Não posso deixar de escapar alguma emoção sempre que abordo os projectos que têm o dedo mágico do Padre Capuchinho Octávio Fasano que, através de duas associações por ele criadas, a ASDE (em Cabo Verde) e AMSES (na Itália), para dinamizar e projectar um conjunto de obras que irá mudar a cara do Fogo.
Quem sabe não terá chegado a hora de revermos (e revivenciarmos) a Ilha do Fogo?
Continua...
ilustração: rui sousa
24 de julho de 2009
Nostalgia do Presente
Naquele preciso momento o homem disse:
«O que eu daria pela felicidade
de estar ao teu lado na Islândia
sob o grande dia imóvel
e de repartir o agora
como se reparte a música
ou o sabor de um fruto.»
Naquele preciso momento
o homem estava junto dela na Islândia.
poema de Jorge Luis Borges, in "A Cifra"
tradução de Fernando Pinto do Amaral
bom fim-de-semana
23 de julho de 2009
Novas do poeta
O confrade do blog Djaroz trouxe vivas notícias de Luis Romano da Cidade de Natal, no Brasil, onde o poeta de S. Antão reside há várias décadas. O encontro aconteceu a 10 de Julho passado, dois dias depois dos órgãos digitais cabo-verdianos "anunciarem a morte" do escritor, (notícia retomada por alguns digitais internacionais) seguido de "sentidas condolências" do Ministério da Cultura.
Djoy Amado relata que ficaram "espantados com este senhor de 87 anos, cuja aparência física debilitada contrasta em absoluto com a vivacidade e a lucidez da alma”. Acrescenta que “mandou vir grogue e, contrariando recomendações médicas, não resistiu em deixar-se levar à sua terra natal (Santo Antão) pelo gosto da cana misturada com ervas”.
Como dissera numa entrevista de há dois anos, marcaram a sua formação literária e humana, “o espectáculo de ver compatrícios morrer à fome, sem revolta, esperando pelas chuvas resignadamente, num fatalismo passivo e revoltante, ao desamparo.” Palavras indeléveis que, de resto, imortalizam a sua obra primeira Famintos (1962).
(…)
Navio-berço de menino crioulo
navio-guia que ficou sem ir
“navio idêntico ao navio da nossa derrota parada”.
Clima (1963)
22 de julho de 2009
Revolte-se...
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
título: pura eu
poema: fernando pessoa
21 de julho de 2009
(Gosto de) Roman Polanski
Saio de uma mente brilhante para entrar numa outra: a do realizador polaco Roman Polanski (foto1). Dos vários filmes que adensam a excelente carreira cinematográfica de Polanski, creio que “O Pianista” condensa o que de “definitivo” esse realizador desenhou para o seu percurso. O próprio reconheceu, aliás, esse feito.
Varsóvia, 1937, Segunda Guerra Mundial. Um pianista judeu e sua família sobrevivem ao aperto do certo alemão. É um tempo de privação e de provação dos judeus. As restrições de circulação e acesso. A versatilidade e a genialidade do Wladyslaw Szpilman. A paixão deste por uma jovem alemã. O surgimento dos guetos (a retirada de Varsóvia), os assassinatos à calha e, finalmente, o campo de concentração e o extermínio. A esse destino, escapa o pianista para um sofrimento mais pausado, dilacerante e humilhante. A música e o piano salvam-no. E é ajudado, inclusive, por um oficial alemão que no fim, no reverso da situação, vai precisar da mesma compaixão.
O Pianista (foto2) arrebatou Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2002. Um enredo de diálogos esparsos e definitivos, impressionou o Júri. O silêncio, os espaços entre o tempo, a cor acinzentada, a música sempre presente anunciando algo que nunca chega, capta a sensibilidade de todos que enfrentam este filme, diga-se.
Polanski, ele próprio, cresceu num dos guetos de Varsóvia e perdeu os pais num Campo de Concentração. Entretanto, ele não assume que O Pianista tenha algo de autobiográfico. Wladeck, o protagonista ficcionado, existiu realmente e é autor de O Pianista, Romance. Só veio a falecer no ano 2000. Com 88 anos.
“São alguns factos de que recordo”, afiança, entretanto, o cineasta. A intensidade (ainda que fria) do filme O Pianista chega a ser sensorial, dir-se-ia que somos transportados pelas ruas de Varsóvia e, por um instante, experimentamos as excrescências da desumanidade: a indignidade, a morte e, mais que isso, ao verdadeiro extermínio da alma humana…
20 de julho de 2009
MENTE BRILHANTE
(…) A MEMÓRIA É DEVERAS um pandemónio, mas está tudo lá dentro, depois de fuçar um pouco o dono é capaz de encontrar todas as coisas. Não pode é alguém de fora se intrometer, como a empregada que remove a papelada para espanar o escritório. Ou como a filha que pretende dispor minha memória na ordem dela, cronológica, alfabética, ou por assunto (…)
Este é um passeio pelo enredo de “Leite derramado”, último livro de Chico Buarque. Quando terminei de o ler balbuciei para os meus botões: espectáculo! Assim reajo quando um livro me extravasa as expectativas. As latitudes que me prenderam: a forma como o autor conta o percurso de um país, (O Brasil) através das memórias de um velho aristocrata decadente, num monólogo absoluto, nele despontando a narrativa.
Num leito do hospital do Rio de Janeiro, um velho da linhagem D`Assumpção, genealogia de família tradicional, resiste em desperdiçar os seus últimos dias como um anónimo e decide contar as suas lembranças a quem o quisesse ouvir - os médicos, a enfermeira a quem chega inclusive a prometer casamento e à filha que o manda internar, entre outros.
O velho Eulálio, narrador e protagonista, por sua vez, escolhe um alter-ego, a esposa Matilde, de quem guarda as mais belas e tristes recordações. Igualmente, retive como brilhante o retrato de todo o fausto e requinte vivido entre Brasil e Europa, passando pela política, pelas relações entre classe e raça, em que o amor de Eulálio e Matilde fenece com a sensação de desolação eterna e absoluta. Diz o texto que Matilde foge, se apaixona por outro, morre num manicómio… enfim, meandros da imaginação de um velho derrotado pela vida.
“Leite derramado” não é (auto) biográfico. É narrativa existencialista. Com tudo o que de realista e de fantástico se nos empresta a existência. As lembranças do velho Eulálio são desconexas, anacrónicas sem o mínimo esforço cronológico, mas a sua força psicológica é existencial.
Chico Buarque reafirma, neste romance, que, para além de conhecedor profundo do processo histórico brasileiro, é um “caçador de heranças” culturais, sociais e familiares. Ironizando sobre o manancial das heranças com que promove o seu processo criativo, ele próprio diria que “tenho uma mãe centenária”, o que, na minha opinião, mexe com qualquer pandemónio da memória
o título: com devida vénia à procedência…
16 de julho de 2009
Bad news!
O FESMAN III, marcado para acontecer entre os dias 1 e 14 de Dezembro de 2009, no Senegal, acaba de ser adiado para 2011 pelo presidente senegalês Abdoulaye Wade (foto). Essa comunicação foi feita ontem em Nova York perante a presença de uma centena de jornalistas. As razões de fundo desse adiamento ainda não foram apresentadas, mas sabe-se que algumas vozes da diáspora já vinham sugerindo um possível reescalonamento do Festival, tendo em conta o nível de exigência técnica e logística que acarreta. A decisão, entretanto, parece não ter sido partilhada entre os responsáveis ministeriais ligados ao evento, bem como a própria organização do Festival. Tanto que ela já mereceu desmentido do Ministro das Comunicações senegalês 'A ce jour, aucune proposition de report du Fesman n'a été enregistrée', disse o governante. Entrementes, aguardamos todos novos desenvolvimentos.
Em todo o caso, a acontecer o adiamento do III Festival das Artes Negras, seria um grande fiasco, porquanto, como se sabe, a abertura simbólica do evento aconteceu a 25 de Junho em Salvador da Bahia com o próprio presidente senegalês a dizer no seu discurso que FESMAN é “uma vitrina de excelência da fecunda criatividade do mundo negro e, também, um campo de fortalecimento moral e de mobilização de todas as propostas para o desenvolvimento da África”. Sem contar toda a mobilização diplomática, cultural, política e financeira que aconteceu em prol do evento no último ano envolvendo dezenas de países, (entre os quais Cabo Verde), governos e personalidades da cena internacional.
Ademais, a III Edição do Festival das Artes Negras foi um projecto pessoal de Wade que quis reeditar a iniciativa do poeta presidente Senghor, patrono do primeiro FESMAN, organizado em Dakar, em 1966. De recordar que a segunda edição teve lugar, em 1977 em Lagos, Nigéria. Esta edição ora incerta aconteceria sob o lema “O Renascimento Africano” e teria como grande homenageado o Brasil.
15 de julho de 2009
Gullar...
O meu poeta diz que "a noite é mais veloz nos trópicos", e eu concordo.
Badju conjunto
O conceito está de volta... a proposta é de Aldino Cardoso e o regresso será marcado com Tito Paris no antigo aeroporto da Praia, 1 de Agosto às 20 horas. Os bailes di conjuntu faziam a festa nos idos anos, (finais de 70 e 80) numa época em que os grupos musicais eram uma realidade, e a música assumia um determinado papel sócio cultural. De recordar, que os grupos musicais centravam-se marcadamente na Praia, mas regularmente em momentos festivos viajavam para as outras ilhas para animar as salas de badju e os palcos.
O objectivo do promotor desta ideia é proporcionar uma alternativa de diversão que marcou geração às pessoas "mais maduras", e ao mesmo tempo dar a conhecer aos mais jovens esse modelo. Uma boa ideia...
14 de julho de 2009
Pedido
Remenda meu amor rasgado,
Cura essa dor sem fim
Escuta as palavras não ditas,
Refaz os caminhos perdidos,
Ouve todos os meus lamentos,
Estanca a poesia que escorre em mim,
Olha para mim, aqui estou.
Espero meu amor, inteiro,
Saro de toda a dor,
Nem terei palavras a dizer,
Voltarei pelo mesmo caminho,
Sem me lamentar…
Mas, sem a poesia a me ter…
Procurarás, onde estou?
Morri.
poema: Marly Costa
na imagem: Simone de Beauvoir
nota pura: Um feminino desabrido (o íntimo, o lírico, e a morte à espreita no império da Poesia) …. uma dedicatória aos amigos e visitantes que gostam de poesia.
Minha banda, meu selo …
(…)
Eu pensei te dizer
tanta coisa
Mas pra quê
Se eu tenho a música (música)
(...)
nota pura: Há quase 30 anos que o grupo Roupa Nova canta e encanta dentro e fora do Brasil … é a banda com mais trilhas sonoras passadas nas telenovelas, e ao contrário de muitos outros grupos e artistas da praça brasileira, sobreviveu às gramáticas do tempo e continua apostado em fazer da vida, pela via da música, uma "balada" simples e feliz …
13 de julho de 2009
Lauro Moreira voltou...
Noite de poesia e tertúlia literária esta quarta-feira, na Cidade Velha, a cargo de Lauro Moreira, (foto) embaixador do Brasil na CPLP, de visita a Cabo Verde, a convite da Edilidade de Ribeira Grande de Santiago e do Centro Cultural Brasileiro. O móbil desta visita, com pendor fortemente cultural, tem a ver com Cidade Velha, recentemente eleita pela UNESCO a Património Mundial da Humanidade.
Essa personalidade complexa e multifacetada, declamador poético de grande nomeada, vai realizar um sarau intitulado “Vozes Poéticas da Lusofonia”, tendo, para além disso, um encontro marcado com escritores e intelectuais cabo-verdianos. É da autoria de Lauro Moreira o CD “Manuel Bandeira – o Poeta em Botafogo” (conversa entre Bandeira e Lauro Moreira, em casa deste no Rio de Janeiro).
Pela certa, o homem irá recitar poemas lusófonos, sem esquecer Jorge Barbosa e, quem sabe, Arménio Vieira, Prémio Camões 2009. Tudo isso, a prestigiar Cidade Velha, berço da nacionalidade cabo-verdiana e património da Humanidade. Naturalmente…
Antes de assumir a Missão Permanente do Brasil na CPLP, em Lisboa, Lauro Moreira dirigia a Agência Brasileira de Cooperação, e nessa qualidade ele visitou Cabo Verde pela primeira vez. No background desse diplomata, constam ainda os cargos de embaixador no Marrocos e coordenador das comemorações dos 500 Anos do Descobrimento do Brasil.
Curiosidades
Lauro Moreira já foi presidente da Academia de Letras do Rio de Janeiro e foi marido (tal como João Cabral de Mello Neto, saiba-se) de Marly de Oliveira, um dos vultos da poesia lusófona. Esse casamento de 1964 (foto 2) teve como padrinhos a delacerante escritora Clarice Lispector e o poeta dos abraços Manuel Bandeira...
... mais palavras para quê?!
Permanência
A pedra continua inerte
A loucura continua efémera
O sonho continua eterno
O solilóquio da solidão continua terno
O caminho das lanternas continua traiçoeiro
As promessas da madrugada continuam incertas
A água de cada dia continua térmica
Os insultos no estádio da várzea continuam esféricos
O amor na praça da cidade continua
/desinibido e espérmico
O trópico de câncer de olhar posto em santiago
/continua aridamente hemisférico
A aurora para além dos labirintos do subúrbio
/continua quimérica
O polegar de txibita continua cadavérico
e ressequido sobre o deserto do seu crânio
Os pedintes continuam elegantemente raquíticos
e sentados compõem o requiem do quotidiano
A ilusão continua verde
(do verde lunar das serenatas)
nesta cidade
de pedras
que sonham
na face imaginada da água
e rejubilantes
digerem
a esperança
sempre erecta
no seu verdejar
na aurora do pedinte…
nota pura: poema de erasmo cbral de almada (ao Mito) constante do seu último livro Praianas: uma revisitação às Coisas e às Causas da Cidade...
foto: Duarte Belo
9 de julho de 2009
Se Oriente
Pela curiosidade de ver
Onde o sol se esconde
Vê se compreende
Pela simples razão de que tudo depende
De determinação
Gilberto Gil. Oriente
Os detalhes têm força quando nos conseguem desviar do genérico... assim penso e, partindo de um pequeno detalhe, esboço estas curtas linhas sobre a comunidade cabo-verdiana em Macau.
É tocante deambular por Macau acompanhada por um ou dois cabo-verdianos e ter a sensação de que são conhecidos por muita gente. Uma terra minúscula com cerca de 28 quilómetros quadrados, no Extremo Oriente, mas que é um formigueiro de cerca de seiscentas mil pessoas entre residentes e turistas. O paradoxo da familiaridade, direi.
Os poucos mais de quarenta cabo-verdianos formam uma comunidade interessante e peculiar, porquanto estão nas mais diferentes esferas profissionais e encontram-se perfeitamente integrados. Ao contrário do que se poderia pensar, nem o factor língua e muito menos a cultura oriental criaram barreiras para essa gente que lá nos confins da China vive Cabo Verde da forma mais intensa possível. Fazem-no através da música, do incontornável crioulo, dos convívios, das pequenas histórias e lembranças.
Os cabo-verdianos, além de reconhecidos profissionais, ocupam cargos directivos em bancos, hospitais, e associações profissionais; alguns conciliam a carreira profissional com a docência universitária. Na TDM (Teledifusão de Macau) o jornalista Jorge Silva, nascido na Praia, apresenta o jornal das 8: 30 e coordena a redacção, e na política temos o cardiologista Mário Évora, (foto, à direita) filho de cabo-verdianos nascido em Macau, a integrar uma das listas que irá concorrer para o próximo pleito eleitoral.
Os primeiros cabo-verdianos foram para Macau nos anos 40/50 na qualidade de funcionários públicos. Alguns ficaram por lá e constituíram famílias, (hoje é uma realidade a segunda geração de cabo-verdianos em Macau). Mais recentemente, alguns estudantes universitários aumentam o contingente da comunidade crioula. Em sentido literal do termo. “Orientam-se” em Macau e por lá ficam radicados. Pela simples razão de que tudo depende
De determinação…
Estas histórias, muitas das quais de sucesso, serão contadas em primeira pessoa num especial documentário sobre os Cabo-verdianos em Macau, brevemente na Televisão de Cabo Verde.
Foto: Humberto e Mário Évora
8 de julho de 2009
Amor, quantos caminhos
“ Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo,
que solidão errante até tua companhia!
Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.
Em taltal não amanhece ainda a primavera.
Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos,
juntos desde a roupa às raízes,
juntos de outono, de água, de quadris,
até ser só tu, só eu juntos.
Pensar que custou tantas pedras que leva o rio,
a desembocadura da água de Boroa,
pensar que separados por trens e nações
tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos
com todos confundidos, com homens e mulheres,
com a terra que implanta e educa cravos.” pablo neruda
Pura música
Por caminhos distantes, soletrando as horas, se tenta voltar ao rio dos (re) encontros improváveis... inabalávelmente desejados. É assim, quando se volta arredada da razão das coisas ... é assim quando a música acontece! pura eu
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