25 de setembro de 2009

A conquista do véu...

véu




















Henry Miller, Ítalo Calvino e Vladimir Nabokov são alguns dos meus autores preferidos por uma razão em comum. Muito além das suas escritas, individuais no percurso, esses autores oferecem ao leitor a possibilidade de alargar horizontes, pela forma peculiar como se referem aos livros que os marcaram. Qualquer leitor interessado pode, por essa via, elaborar uma lista curiosa de leitura recriando critérios de escolha.
O mesmo acontece com a escritora iraniana Nazar Nafisi no seu livro “Ler Lolita em Teerão”. Antes de iniciar a leitura, condicionada pelos últimos acontecimentos no Irão, imaginei que o livro se restringisse aos insólitos da obra Lolita, de Nabokov, e as proibições de leitura num meio revolucionário e dominado pelo radicalismo islâmico. Mas Nafisi vai muito além e propõe uma lista essencial entre títulos e autores: o próprio Nabokov, Henry James, Monte dos Vendavais, entre outros. Dos escritores sobressaem, à semelhança da autora, o paradoxo do tensionamento psicológico em face da (s) ideologia (s) da escrita.
Nafisi, no “Ler Lolita em Teerão”, traça uma radiografia não necessariamente linear da vida no Irão no período revolucionário: a divindade de Komeini, o papel desempenhado pelos jovens, os intelectuais, o lugar da universidade e do seu apoderamento político e islâmico, a guerra entre Irão e Iraque, etc. Percorrendo esses caminhos todos, a escritora demonstra o poder invencível das ideias, da convicção e da luta pela liberdade na qual acredita.
O que se percebe no livro e de modo incontornável é o lugar da América e do Ocidente como antítese conducente às radicalizações político-religiosas. E disso depreende-se uma disputa de civilizações com bases históricas muito enraizadas, mas bastante difusas.

Da actualidade africana...

Saindo do livro, mas continuando nessa dualidade, é curioso olhar o actual cenário islâmico em África (continente fortemente marcado pela colonização). Ascende no continente sorrateiramente um sentimento anti América, que, muitas vezes, em se tratando de religião, leva a questionar qual o lugar da crença e da profecia em si. O Islão, como religião oficial, configura-se como um claro objectivo no continente; as várias frentes radicais islâmicas criam terror sob pretexto do anti-americanismo, os apoios multiplicam-se, e caminhamos a passos largos para um confronto civilizacional.

Da diáspora ...

As ramificações do islamismo que percorrem o Sahra, e atravessam o Mar Vermelho e o Mar Mediterrâneo banham toda a parte. Amin Malouf propõe, por exemplo, um “pacto laico internacional”, à semelhança do ocorrido em 1648 com o Tratado de Vestefália. A situação não se augura pacífica, pois uma parte do mundo ainda acredita que uma guerra pode ser santa…

imagem: autora do blog rendida ao véu na Líbia

2 comentários:

Tchale Figueira disse...

Lembro-me que uma vez aqui em São Vicente num encontro, um Caboverdiano (fanático)emigrante no Canadá argumentou que nós os africanos deviamos todos convertermos ao Islão, pois, esta, é, a religião dos Africanos, e não o Cristianismo. Tomando a palavra, disselhe que, ambas as religiões, fomam impostas com conquistas, com a espada, cruz, semitarras, e crescente, lembrei-lhe que os Africanos eram animistas, antes da chegada do Islão e do Cristianismo... Ammin Malouf tem razão, mas que fazer com os fanáticos?... Onde se congegue o livro de Nasar Nafisi?

pura eu disse...

Os tempos são verdadeiramente cíclicos, para o bem e para o mal... e a África tem sido vítima incontornável, a todos os títulos.

Bem, Nasar Nafisi foi uma prenda, mas se não me engano a livraria Nhô Eugénio na Praia também trabalha sob encomenda...