30 de dezembro de 2004

Festa "Santo Amaro" homenageia Mário Lúcio

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O músico e escritor Mário Lúcio Sousa vai ser o grande homenageado este ano da Festa de Santo Amaro, no Tarrafal de Santiago, que acontece nos dias 14 e 15 de Janeiro.

Uma homenagem merecida, porquanto este filho da Vila do Mangue já deu o seu contributo para esse rico caldeirão que é a cultura cabo-verdiana.

Há menos de um mês, por exemplo, lançou o seu quinto romance, Vidas Paralelas – uma rica homenagem aos lugares e às pessoas que contribuíram para a sua formação identitária.

Essa homenagem é uma oportunidade de Mário Lúcio apresentar as suas obras, musicais e literárias, ao “terreiro” que o viu nascer.
Um encontro, de facto, entre o Mar e o Rio, por uma não mais “Vidas Paralelas”.

27 de dezembro de 2004

900 obras de arte roubadas na Argentina

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O quadro negro de Picasso

Novecentas obras de arte roubadas a coleccionadores na Argentina, entre as quais se encontram quadros de Pablo Picasso e Pierre Auguste Renoir, são actualmente procuradas pela Interpol, segundo noticia, citada pela Lusa
As 901 obras roubadas fazem parte de um registo criado na Internet pela organização intergovernamental, ao qual têm acesso os 180 escritórios da Interpol espalhados pelo mundo.
Na lista, inaugurada em 2002 com 61 obras, encontram-se também quadros de Henri Matisse, Paul Degas, El Greco, Henri Toulouse-Lautrec e Edgar Cézanne, entre outros.
O valor total a que ascende o número de pinturas argentinas roubadas "é de vários milhões de dólares".
Actualmente, no mundo, o roubo de obras de artes mobiliza mais de mil milhões de dólares por ano, de acordo com as estatísticas policiais.

26 de dezembro de 2004

Blog - a nova onda feminina

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Os homens, se calhar, é que deram o ponta pé de saída como blogistas, mas hoje já não é este o caso. De acordo com uma pesquisa, dos mais de quatro milhões de blogs da Empresa “Perseus Development”, 56% foram criados por mulheres.
Outra má notícia para os rapazes: os homens são mais propensos a abandonar os seus blogs depois de criados do que as mulheres.

Fonte: Time

24 de dezembro de 2004

Feliz Natal

Desejamos um Feliz Natal a todos os amigos sejam eles virtuais ou não... nós sabemos apreciar "Os Momentos" que fazem com que "cada dia que passa" seja, em essencia, diferente.

Um abraço natalício da Margott a todos vocês.

22 de dezembro de 2004

Serenidade

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O Pensador, Rodin

Qualquer um pode zangar-se, pois isso é muito simples. Mas zangar-se com a pessoa adequada, no grau exacto, no momento oportuno, com o propósito justo e de modo correcto, isso, não é tão fácil como isso.

(Aristóteles - Ética a Nicómaco)

21 de dezembro de 2004

Mário Lúcio lança "Vidas Paralelas"

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Vidas Paralelas é um retorno à infância e uma dramática procura das várias “personas” que fazem um ser humano. Mário Lúcio faz, desta feita, uma narrativa diferente centrada na Vila do Mangue, no Tarrafal de Santiago, terra que o viu nascer e moldou a sua identidade.
O livro revela estórias incríveis, em que o real e o fantástico se entrecruzam, o existencial e o social se confundem, para nos pincelar um tempo histórico e um espaço simbólico de pertença.

Esse livro é uma homenagem, porque eu acho que as pessoas são realmente o percurso que elas fazem, e a sorte de encontrar os lugares certos… eu passei por estes lugares….eu me considero muito o produto dos meus encontros e dos meus passos, da minha geração, das pessoas que eu encontrei e das pessoas que vieram antes de mim, e que me deixaram obras extraordinárias, descreve.

As várias histórias que fazem as tramas de Vidas Paralelas são contadas, a partir da metáfora dos espelhos, levando o leitor a um olhar reflectido que projecta e virtualiza nos dramas da vida.
De texto moderno, linguagem solta e assumidamente emancipada Mário Lúcio, aos 40 anos, faz da meia-idade um período existencial criativo. Neste ano ele escreve a "Carta de Salvador", na sequência de uma Cimeira da CPLP, deixa a liderança do grupo musical “Simentera”, lança o seu primeiro álbum a solo “Mar e Luz” e publica uma obra de teatro.
Advogado, colunista, artista plástico, poeta, romancista já premiado, dramaturgo, director musical da raiz de polon, o cidadão Mário Lúcio é uma complexidade que ora dá à estampa parte da sua autobiografia com o livro “Vidas paralelas”, apresentado, no dia 22 deste mês na biblioteca nacional.

Vidas Paralelas, de Mário Lúcio Sousa: Biblioteca Nacional, Cidade da Praia
Quando: Quarta-Feira, 22 de Dezembro, às 18h30

20 de dezembro de 2004

Txota Suaris

Txota Suaris, o exímio tocador de gaita “berdiano”, natural do Tarrafal, foi, de facto, homenageado no passado Sábado, pelo Ministro da Cultura, Manuel Veiga. Foi uma cerimónia simples e directa, abençoada pelos músicos e amigos do homenageado, Kaká Barbosa, Codé di Dona e Lela Violão.
Tabanka “Tchada Grandi” e “batucaderas di monti agarro” também agraciaram o acto com uma pitada do que de melhor sabem fazer. Foi um momento alto que congregou, no mesmo espaço, vários personagens e manifestações que enformam a nossa cultura tradicional.
Lamentável foi apenas a ausência da TCV e da RTP África. Não entendi muito bem esse deslize…afinal, na nossa profissão, há que ter o sentido de oportunidade… que muitas das vezes se revelam únicas.

Austríaca Elfriede Jelinek ganha o prémio Nobel de Literatura

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Cena do Filme "A professora de Piano"

A escritora austríaca Elfriede Jelinek recebeu, esta semana, em Viena, o prémio Nobel de Literatura 2004. Além do diploma e de uma medalha de ouro com a efígie do inventor e mecenas sueco Alfred Nobel, o secretário da Academia, Horace Engdahl, entregou à escritora um cheque de 10 milhões de coroas suecas (cerca de US$ 1,8 milhão).Jelinek é a autora de 'A Professora de Piano', que foi adaptado para o cinema pelo Realizador Michael Haneke em 2001.

Com a escritora Jelinek, dez mulheres já ganharam o prémio desde 1901, quando foi criado:

- 1909: Selma Lagerloef, Suécia
- 1926: Grazia Deledda, Itália
- 1928: Sigrid Undset, Noruega
- 1938: Pearl Buck, Estados Unidos
- 1945: Gabriela Mistral, Chile
- 1966: Nelly Sachs, Alemanha
- 1991: Nadine Gordimer, África do Sul
- 1993: Toni Morrison, Estados Unidos
- 1996: Wislawa Symborska, Polónia
- 2004: Elfriede Jelinek, Áustria

Fonte: Folha Ilustrada

17 de dezembro de 2004

O Abraço de Gilberto Gil

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“… Apesar da gratidão pessoal e cidadã pela herança europeia, pela herança mediterrânea, pela herança iluminista, e todas as outras heranças que nos proporcionaram a colonização, eu tenho particular entusiasmo por tudo que ainda podemos ter, por tudo ainda que nós podemos herdar das nossas culturas continentais, da América do Sul, da Africa; dos nossos continentes que foram colonizados. Eu tenho me manifestado nesta viagem e noutras que faço, uma coisa importante que se relaciona ao Brasil. Eu costumo dizer que apesar da grande contribuição que a Europa deu à formação do Brasil, à formação dos países da América do Sul; o caso do Brasil, particularmente, foi a África o principal factor civilizatório; foi a África basicamente que civilizou e continua civilizando o Brasil. Eu tenho muito orgulho dessa ligação africana entre nós”.

Extrato de entrevista concedida por G.G em Cabo verde

Ingmar Bergman

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Ingmar Bergman, 85 anos: o grande pensador do cinema do século 20

Sick Bacchus, de Caravaggio

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Sick Bacchusc. 1593
Oil on canvas, 67 x 53 cm
Galleria Borghese, Rome

16 de dezembro de 2004

Ìylè Àsè Màrìwóláje vai ser tombado

O Ministro da Cultura do Brasil, Gilberto Gil, continua a marcar ponto na sua agenda de preservação dos patrimónios materiais e imateriais de raiz negra. No dia 1º de Dezembro viajou de Brasília para Salvador para participar da 45ª Reunião do Conselho Consultivo do Património Cultural, que aconteceu no Museu de Arte Sacra.

Já está aprovado o tombamento do Terreiro do Alaketo – Ìylè Àsè Màrìwóláje, como bem cultural do Património Material, e o registro, no Livro dos Saberes do Património Imaterial, da Viola-de-Cocho, de Mato Grosso, e do Ofício da Baiana de Acarajé, como bens culturais de natureza imaterial.

Por intermédio do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Ministério da Cultura tem desenvolvido políticas de protecção de bens e sítios vinculados ao património cultural afro-brasileiro. Além do Terreiro do Alaketo (Ilê Maroiá Láji), outras antigas casas de candomblé da Bahia foram inscritas nos Livros do Tombos do Património Cultural.

Estão tombados os terreiros da Casa Branca do Engenho Velho (Ilê Axé Iyá Nassô Oká, em 1986), do Ilê Axé Opô Afonjá (em 1999), do Gantois (Ilê Iyá Omin Axé Iyamassé, em 2002) e do Bate Folha (Manso Banduquenquá, em 2003).

13 de dezembro de 2004

Antes que anoiteça

Nasceu perto de Holguín, Cuba, em 1943. Escritor dissidente, a sua vida foi uma luta constante pelo direito à liberdade de expressão total. Falamos de Reynaldo Arenas.

Reynaldo Arenas é uma das figuras maiores da literatura cubana. O seu primeiro romance, "Celestino antes del Alba", obteve uma menção honrosa num dos mais prestigiados prémios cubanos de literatura. No entanto, depois, os seus livros viriam a tornar-se proibidos por serem considerados contra-revolucionários na Cuba de Fidel Castro. Perseguido, viu o manuscrito de "Otra vez el mar" ser três vezes destruído e três vezes por si reescrito. Nos anos 60 e 70, tentou, várias vezes, a fuga para os EUA, acabando por ser preso durante cinco anos.
Para além da sua palavra, considerada perigosa pelo regime castrista, Reynaldo Arenas foi também perseguido por ser homossexual.
Numa das suas fugas da cadeia, esteve dois meses escondido num parque no centro de La Havana, chamado Parque Lénine. Foi aí que começou a escrever "Antes que anoiteça", uma obra autobiográfica, cativante pela força com que o autor descreve a sua luta pela liberdade de criar e de se exprimir. Esta obra ficaria, porém, incompleta durante largos anos. Novamente encarcerado, Reynaldo Arenas apenas voltaria a pegar neste impressionante testemunho pessoal quando já conseguira fugir para Miami.
Doente com Sida, Arenas "escreveu" grande parte deste livro gravando a sua voz para inumeráveis cassetes, sendo as suas palavras posteriormente convertidas à forma escrita. Esta obra foi adaptada ao cinema, em 2000, por Julian Schnabel, tendo Javier Bardem interpretado o papel do escritor cubano.
Reynaldo Arenas suicidou-se no dia 7 de Dezembro de 1990, em Nova Iorque, aos 47 anos de idade. Morreu, citanto António Mega-Ferreira no prefácio deste livro, "antes que se fizesse noite na sua alma"...

Ricardo Simões, in Muita Letra

6 de dezembro de 2004

Gil em Cabo Verde


O cantor, compositor, poeta e atual Ministro da Cultura do Brasil, Gilberto Gil, estará em Cabo Verde nos dias 7 e 8 deste mês para uma visita de Estado.

5 de dezembro de 2004

Cafuca

‘Cafuca’ é o nome do Cine Clube criado, ontem, na Praia, por um grupo de jovens. Pessoas que apreciam a sétima arte e almejam conquistar um espaço onde se pode discutir, trocar ideias e debater os diversos sentidos e propostas que envolvem o cinema. É de facto lamentável a falta de oferta de filmes de qualidade na nossa cidade. O Centro Cultural Frances faz o que pode e está de parabéns por isso. Que haja cinema no Cine Clube Cafuca.

4 de dezembro de 2004

A pintura

Repara como é denso o seu olhar,
como ele se assemelha ao olhar de uma ave
perdida no mar,


como é brando o seu corpo, sem ferir,
como se acabasse de nascer

Francisco José Viegas

3 de dezembro de 2004

Presença


Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces, porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida, e eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.

Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados. Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.

Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face. Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada. Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa. Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.

Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas. Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Ausência, de Vinícius de Moraes

Para Você

Tom, piano e voz ao vivo


A vida e a obra de Tom Jobim certamente serão lembradas, no Rio – Brasil, no dia 8 de Dezembro, quando se completam dez anos da morte do maestro. A data redonda pode suscitar as homenagens de praxe, como reportagens especiais ou o lançamento de colectâneas um tanto oportunistas. Contudo, dificilmente o cantor e compositor teria uma homenagem à altura de seu legado para a música brasileira como o álbum Antônio Carlos Jobim em Minas ao vivo – Piano e voz.

In JB

Fiquei com água na boca! Se fores, não sei onde, desde que saias daqui, traga-me esse disco que eu pago a rodada de táxi até à loja, e o preço do disco, claro! – Se cobrares o serviço, pode deixar que eu pago.

2 de dezembro de 2004

cinema sueco no ccf

Está a passar no Centro Cultural Francês da Praia, todas as quartas feiras...filmes do Realizador Sueco, Ingman Bergman... A estréia aconteceu há duas semanas com o filme "Sétimo Sêlo".



"Bergman propunha em seus filmes o compromisso com a verdade interior dos seres, no lugar do divertimento, a arte. Por isso seus filmes não eram sucessos de bilheteria, não entusiasmavam os distribuidores e tampouco os exibidores ávidos para vender amenidades... ele era um artista que se negava a mentir, a fazer concessões, por isso entre ele e o grande público sempre houve um abismo". (Armando, 1988:66)

22 de novembro de 2004

A estética do videoclip destrói o cinema actual?

A linguagem do cinema, hoje, velozmente influenciada (deturpada, dizem alguns) pela estética do videoclip é um debate actual e interessante. Um fenómeno que nos faz reflectir sobre a essência do cinema...a arte de contemplar. Aí reside o conflito. Ou se trata de uma nova linguagem de uma arte em evolução? Existe ou não conflito? Vejamos o que diz o mestre Setaro sobre esta matéria, polémica para alguns, para outros, nem por isso...


Setaro dixit...

A estética do videoclipe se espraiou, como metástase virulenta, na estrutura narrativa dos filmes oriundos da indústria cultural hollywoodiana. Nada contra, bem entendido, o vídeoclip, mas que a sua estética seja restrita a essa modalidade de expressão mais conveniente de ser aplicado dentro dos limites de sua configuração. Mas que seja uma tônica do cinema comercial contemporâneo é profundamente lamentável e bastante sinalizador de uma decadência flagrante na construção do espetáculo cinematográfico. Assim, as tomadas são rápidas, condicionando, com isso, o ritmo do próprio filme, que fica estilhaçado sem dar a oportunidade ao espectador da contemplação, porque tudo passa muito depressa. A aplicação, no entanto, vem a atender aos apelos de uma platéia aniquilada pelo império do audiovisual, uma platéia feita pela sociedade de consumo, pela pressa desenfreada, pela busca desesperada para a inserção no reinado da coisificação. O público desaprendeu a contemplar e é na contemplação que se inicia o processo cognoscitivo, que se dá a possibilidade de um maior conhecimento. Basta ver a maneira pela qual a platéia dos complexos denominados multiplexes reage ao espetáculo cinematográfico para se ter uma idéia da tragédia que os tempos pós-modernos estão a administrar o caos cultural, o caos criativo, o caos cinematográfico, restando pouco, muito pouco, àquele que pretende usufruir o cinema como uma manifestação de prazer e arte mithos e logos.

A tesoura está a parecer o fundamento da articulação narrativa, porque nos filmes contemporâneos, no lixo que se oferece no circuito comercial, o espectador não tem a oportunidade de contemplação de uma determinada tomada, de um determinado plano dada a rapidez em que se nos apresentam. A metástase, porém, se espalhou em obras de todos os gêneros e até mesmo um filme medíocre, é verdade como O sorriso da Mona Lisa, de Mike Newell, com Julia Roberts, a metodologia da tesoura é uma constante. Na feitura do produto, portanto, há como uma regra geral, senão explícita, implícita, que condiciona a instalação do estilhaçamento da construção narrativa. O cinema sempre foi feito por fragmentos, e a impressão de uma continuidade, ilusória, era decorrência de um processo que a sugeria, quando o que sempre houve foi a justaposição de fragmentos, de tomadas. Mas se um filme médio, vinte anos atrás, tinha, por exemplo, 600 tomadas, hoje possui em torno de 1000, excetuando-se, aqui, os ultra-rápidos como Moulin Rouge...

To be continued...

12 de novembro de 2004

As Homenagens ao Lobo Solitário

O malogrado cantor Ildo Lobo, falecido a 20 de Outubro passado, vai ser homenageado, pela comunidade cabo-verdiana em Angola.
O tributo ao artista que durante mais de duas décadas foi a voz e a cara de um dos grupos mais marcantes da música cabo-verdiana, Os Tubarões, conta com a participação de vários artistas cabo-verdianos residentes nesse país da CPLP.
Casa 70, a mais prestigiada casa de espectáculos de Luanda, vai albergar, no dia 13 deste mês, a grande homenagem.
Desde a sua morte que não têm faltado menções e homenagens à sua vida e obra. Na cidade da Praia, o Palácio da Cultura já leva o seu nome. E a 25 de Novembro, na Ilha do sal, data em que o malogrado completaria 51 anos, um evento marcará o lançamento do seu último álbum a título póstumo. Em Portugal, tanto a comunidade cabo-verdiana como a imprensa honraram a memória do artista.
Ildo Lobo nasceu a 25 de Novembro de 1953 em Pedra de Lume, Ilha do Sal, numa família de músicos e foi por mais de 20 anos o líder vocal do grupo "Os Tubarões”, com o qual gravou vários álbuns marcantes da moderna música popular cabo-verdiana. Durante a sua carreira a solo, publicou “Nôs Morna”, editado em 1997, a que se seguiu “Intelectual”, em 2001, ambos pela Lusáfrica.
O artista, pouco antes da sua morte, tinha acabado de gravar um novo álbum em Paris. "Incondicional" deverá ser lançado no final deste ano pela Harmonia em Cabo Verde e no início de 2005 pela Lusáfrica em todo o mundo.
A contribuição de Ildo Lobo à afirmação da cultura de Cabo Verde e sua projecção internacional é de enorme valor não só pela enorme quantidade de músicas registadas em disco, em cerca de 30 anos, mas principalmente pelo factor qualidade que foi sempre a tónica dominante de todas as suas interpretações.

1 de novembro de 2004

ELEIÇÃO NOS EUA

Nem os jornalistas aprovam a cobertura


Nem eles mesmos gostam do que escrevem? Levantamento feito de 8 a 15 de Outubro entre 499 jornalistas e professores de Jornalismo filiados ao CCJ (Committee of Concerned Journalists, ou Comité de Jornalistas Preocupados, http://www.journalism.org/), grupo que discute a qualidade da imprensa americana, mostra que sim: apenas 3% deram nota A à cobertura das eleições presidenciais dos Estados Unidos; 27% deram nota B; 42% deram nota C; 22%, nota D; e 5%, nota F…

… Uma das respostas conclama a uma reflexão maior: "Todas as redacções deveriam parar um ano para pensar e responder à questão: a forma como nós fazemos jornalismo está a ajudar ou a prejudicar a nossa democracia?”

In Observatório da Imprensa

21 de outubro de 2004

Jornalista bielo-russa é assassinada em Minsk

A jornalista bielo-russa Veronika Cherkasova foi assassinada a punhaladas em seu apartamento em Minsk, informou quinta-feira, 21 de Outubro, a agência russa Interfax que cita fontes do ministério do Interior de Belarus.

A jornalista, de marcada trajectória na imprensa independente e opositora ao regime do presidente Alexandr Lukashenko, foi achada "com múltiplos ferimentos de arma branca", em sua casa, disse à Interfax o chefe do Departamento Geral do ministério do Interior da capital bielo-russa, Anatoli Kuleshov."

A polícia investiga todas as possíveis versões do crime", acrescentou. Cherkasova deixou a televisão estatal bielo-russa após dez anos de trabalho para dedicar-se à imprensa escrita. Destacou-se nos jornais "Golase Radzimy", "Imia", "Belorruskaya Delovaya Gazeta", "Trud v Belorrusii" e, por último, no "Solidarnost".

30 de setembro de 2004

O regresso de Domingas

A HISTÓRIA de Domingas e de Antonieta, mãe e filha, separadas há 39 anos pelos destinos da história, conhece um final feliz. Há um mês, graças à Radiotelevisão Portuguesa, fizeram-se os primeiros contactos via telefone e uma reportagem de ponta a ponta – estando a filha em Cabo Verde e a mãe em São Tomé e Príncipe. A chegada de Domingas e de seu filho Armando ao aeroporto da Praia, a 25 de Setembro, fruto de uma verdadeira “operação resgate”, conta uma pequena parcela do grande drama humanitário que tem sido a emigração cabo-verdiana em São Tomé e Príncipe. Domingas não regressa a Cabo Verde apenas para o “descanso da velha guerreira”, mas para fugir à fome e reencontrar, pela primeira vez em quase 40 anos, a filha Antonieta, que deixou com apenas alguns meses. “Estou feliz, tenho uma grande alegria dentro de mim”, desabafa Antonieta. Em Tira-Chapéu, bairro suburbano da cidade da Praia, foi notória a alegria dos familiares, dos amigos e dos vizinhos. Ainda não refeitos da comoção deste reencontro, subsistia na face dos recém-chegados as marcas da reintegração e do regresso. Se São Tomé e Príncipe, tanto na poética como no imaginário colectivo cabo-verdianos, persiste como um “caminho longe”, o regresso, ainda que “pródigo”, não exorciza de todo o trauma dos anos passados em regime de quase escravatura e de uma vida comunitária sem cidadania. Depois de trabalhar durante três anos em S. Tomé, Domingas quis voltar. Arrumou a sua carga, pronta para partir para o porto da Praia, quando deu conta que o marido lhe tinha tirado a folha do contrato da emigração. “Diante disso, tive que desistir e tempos depois arrebentou o 25 de Abril”, diz. Apesar da dramática história, o desfecho não deixa de ser feliz para Domingas e sua família. Em verdade, milhares de outros cabo-verdianos saídos de Cabo Verde há muitas décadas e contratados como serviçais nas roças de cacau de São Tomé e Príncipe continuam a viver em condições infra-humanas. Forçados a emigrar para o “Sul”, para fugir às sucessivas fomes e para preencher a demanda de mão-de-obra semi-escrava nas roças de São Tomé e Príncipe, durante o período colonial, eles nunca viram o resultado do seu trabalho. As independências de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe nunca lhes conferiram qualquer tipo de cidadania. A descolonização portuguesa tão-pouco lhes emprestou alguma dignidade humana. Mais de 50 mil cabo-verdianos, de muitas gerações, mantêm viva a “ideia” de Cabo Verde como “Terra Prometida”. O primeiro-ministro, José Maria Neves, durante a Quinta Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da CPLP, em São Tomé e Príncipe, teve oportunidade de constatar esse verdadeiro desastre humanitário. O estadista cabo-verdiano chorou diante da realidade, e a visita às roças tê-lo-á marcado profundamente. “Há um antes e um depois desta visita a essa comunidade na vida política de José Maria Neves”, afirmou um membro da delegação cabo-verdiana. Anos antes, o Presidente da República, Pedro Pires, tinha chamado à solidariedade os cabo-verdianos do mundo inteiro em relação às emigrações mal sucedidas, numa clara referência aos casos de São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique. Os cabo-verdianos, na sua maioria, nos países africanos – mesmo nos casos da Guiné-Bissau, Senegal e Costa do Marfim –, não se consideram bafejados pela sorte. Também aqueles que vivem nos bairros degradados nos países do Norte – Portugal, França e Estados Unidos –, não se podem considerar bem sucedidos. Só que, dos vários dramas que condicionam a vida de muitos cabo-verdianos pelo mundo, o de São Tomé e Príncipe é de longe o mais gritante. E desumano…

Margarida Fontes

22 de setembro de 2004

Luis Represas em Cabo Verde

O eterno lider dos "Trovante", Luis Represas, esteve entre nós para uma actuação no Festival de Santa Maria, na Ilha do Sal. Um espectáculo que trouxe ao convívio do público as músicas dos Trovante e dos discos a sólo desse astro português. Numa entrevista, em directo, na TCV, Luis Represas falou-nos do dueto que fez com Mário Lúcio, no seu mais recente disco "Mar e Luz". Como não poderia deixar de ser, Represas disse-nos o quanto foi dificil o fim da sua banda, que foi considerada, na década de 80, em Portugal, o percursor de um novo cancioneiro português.
A actuação de Luis Represas foi marcante, como sempre. Para quem, como eu, assistiu pela primeira vez o espectáculo desta referência da música lusa, valeu muito a pena.

7 de setembro de 2004

Mar e Luz de Mário Lúcio

A Mala Produções e a Celluloid promove o avant-primière do álbum MAR E LUZ, de Mário Lúcio, a ter lugar no Farol Maria Pia, em Ponta Temerosa, a 10 de Setembro de 2004, pelas 18h30.

Com apenas 100 convidados, entre jornalistas, editores e amigos do artista, o avant-primière conta com o seguinte programa:

· Inauguração do Site Electrónico do artista;
· Apresentação vídeo de um making-off do álbum, com a participação de Gilberto Gil e Luís Represas;
· Apresentação de um clip disc do lançamento do álbum;
· Recital de cinco temas sobre MAR E LUZ;
· Conferência de Imprensa
· Oferta do álbum configurado para a imprensa;Cocktail

No dia 12 de Setembro, pelas 21h30, Mário Lúcio dará início à sua tounée pelas ilhas, com um espectáculo público ao largo da Biblioteca Nacional. Esse show iniciático será em homenagem ao 80º aniversário de Amílcar Cabral e «fecha as cortinas» do Seminário Internacional Amílcar Cabral. Dessa data até fins de Outubro, o artista estará na «estrada» a promover MAR E LUZ pelos palcos do país, primeira parte de um programa que contempla uma passagem pela Chã das Caldeira, no dia 21 de Outubro, onde Mário Lúcio celebra, num emblemático recital, o seu 40º aniversário.

Todo o mise-en-scene artístico de MAR E LUZ está a cargo do artista Manu Preto. E as apresentações na Praia são animadas por Filinto Elísio e Arnaldo Andrade.

Uma festa de arrombá, não acha?

1 de setembro de 2004

Setaro´s Blog

De todos os blog´s que tenho hábito de visitar, fascina-me particularmente o do André Settaro. São escritos livres sobre o cinema; informações valiosas para quem aprecia e está sempre à procura de mais luzes sobre o cinema...eu, particularmente visito sempre o Settaro´s Blog, porque foi o professor André Setaro que me fez começar a ver o cinema com olhos de ver.

31 de agosto de 2004

26 de agosto de 2004

ILHA

Tu vives — mãe adormecida —
nua e esquecida,
seca, fustigada pelos ventos,
ao som de músicas sem música
das águas que nos prendem…

Ilha:
teus montes e teus vales
não sentiram passar os tempos
e ficaram no mundo dos teus sonhos
— os sonhos dos teus filhos —
a clamar aos ventos que passam,
e às aves que voam, livres,
as tuas ânsias!

Ilha:
colina sem fim de terra vermelha
— terra dura —
rochas escarpadas tapando os horizontes,
mas aos quatro ventos prendendo as nossas ânsias!

Amilcar Cabral



E AGORA?

Jornalista que se preza não perde viagem. Se a pauta fracassa, o profissional procura um tema para não voltar à redação de mãos vazias. Há casos em que a notícia nova é melhor que a pautada. Por conta desta regra não escrita, entrou na galeria dos casos pitorescos da imprensa a história de um repórter de esporte que, em 1965, foi cobrir um jogo do Santos na Argélia. O país, que se libertara do jugo francês em memorável revolta, celebrada no filme A Batalha de Argel, do cineasta Gillo Pontecorvo, ainda era presidido por Ahmed Ben Bella. Ex-guerrilheiro, governante de orientação socialista, Ben Bella era, como Fidel Castro hoje, assunto obrigatório da imprensa. Mas as coisas não saíram conforme a pauta. Surpreendido por um golpe de Estado, o repórter telegrafou para a redação:– Jogo adiado. Ben Bella caiu.

Ao pesquisar sobre o argelino, Ahmed Ben Bella encontrei esta pérola...

23 de agosto de 2004

HISTÓRIA, Dire Straits... uma dentre tantas outras da minha banda preferida

Com uma harmonia perfeita de guitarra, teclados, bateria e músicas originais o DIRE STRAITS coloca o seu nome na história como uma das maiores bandas de todos os tempos.
Tudo começa quando os irmão Mark e David Knopfler resolvem formar uma banda de rock um tanto diferente das demais (pois estavam na época da plenitude do punk rock). Até então MK já tinha tido outras experiências em outras bandas (na época de formação da banda MK era um professor de inglês) e DK era funcionario público. David(guitarra), Mark(guitarra e vocal), John Illsley(baixo) e Pick Withers(bateria) que se integraram ao grupo, formaram uma banda chamada Cafe Racers que mais tarde passou a se chamar DIRE STRAITS. Juntos fizeram uma demo que incluia um, até então, futuro sucesso do grupo "Sultans of Swing", mais tarde assinaram com o selo Vertigo e conheceram Ed Bicknell que seria o empresária da banda brevemente. Logo lançaram em 1977 o seu primeiro álbum que intulava-se com o nome do grande sucesso da banda que já fora dito aqui.
Em 1979 lançaram o Communiqué que se tornou um sucesso ainda maior do que foi o primeiro alcançando o TOP 10 nos EUA. Após o lançamento deste albúm um dos irmãos Knopfler sai da banda, David, e no seu lugar entra Hal Lindes e junto com ele entra o tecladista Alan Clark. Com essa formação fazem o álbum Making Movies embalado pelos hits Romeo and Juliet e Tunnel of Love, apesar da presença marcande de Romeo and Juliet nas paradas o disco não repete o sucesso.
Em 1982 a banda lança Love Over God que chega a ser o nº 1 nas paradas inglesas e americanas, Terry Willians assume a bateria. Em 1983 MK lança Local Hero e mais tarde a banda lança o compacto Twisting by the Pool. A exemplo de outros lançamentos a banda segue fazendo turnês aonde chegam a bater recordes de público. Em 1984 a banda lança o duplo ao vivo Alchemy que chega a ter um sucesso expressivo (Guy Fletcher integra-se a banda como 2º tecladista). Inicia-se na banda uma produção de vídeos que tem um incentivo maior por parte da MTV.
Em 1985 a banda lança o álbum de maior sucesso de sua carreira e um dos melhores álbuns já de todos os tempos, Brothers in Arms que inova em tecnologia (lançado em CD) e emplaca como o disco mais vendido em todo mundo na época e um dos mais vendidos de todos os tempos consolidando o DIRE STRAITS como uma das maiores bandas de todos os tempos. As músicas do álbum quase todas estoram como grandes sucessos, inclusive Money for Nothing que emplaca com o clip que mais vezes passou na MTV, recordes de público, vendagem e audiência, a banda realiza tantas turnês que se torna a banda que mais tempo realizou turnês no mundo até então (221 shows em 366 dias). Neste álbum a banda tem um novo guitarrista Jack Sonni e um saxofonista, Chris White.
Depois do enorme sucesso de Brothers in Arms a banda dá uma parada e volta a gravar em 1990 (não contando alguns álbuns por fora de integrantes, compactos e trilhas sonoras) com o álbum On Every Street. A banda prossegue com as turnês que resulta no álbum ao vivo On The night. Em 1996 Mark Knopfler encerrou de vez com a banda (mas ninguém tem certeza mesmo), MK seguiu fazendo carreira solo onde dentre os ex-integrantes vem se destacando.

In: dedilhos de um fan algures neste vasto mundo cibernético

22 de agosto de 2004

Mais um disco de Beto Dias


O quarto CD a sólo do artista cabo-verdiano, Beto Dias, já está entre nós. ”Quase Perfeito” é o título. Um disco de 10 faixas essencialmente romântico que desnuda um artista sentimental e firme nas suas composições. Uma firmeza que também encontrou tradução na expressão vocal do artista.
Neste disco Beto Dias segue a sua linha habitual interpretando funaná, kolazouk e música lenta, todas da sua autoria.
Beto Dias do seu nome próprio Alberto Dias vai estar provavelmente no final do mês de Setembro em Cabo Verde para a divulgação do seu mais recente álbum, “Quase Perfeito”. O álbum chegou a Cabo Verde esta semana e já é presença frequente nas rádios nacionais. “Quase perfeito” é para Beto Dias mais um passo na busca incessante da perfeição, ainda que seja inatingível para o artista. Em entrevista a partir de Holanda à RCV, Dias, assumiu este axioma como parte do percurso do artista e da sua obra.
Neste disco, Beto dias prioriza ritmos como funaná, música lenta, colazouk de que a música “Quase perfeito” é exemplo acabado.
A produção deste trabalho esteve a cargo de Manuel da Silva da Kings Record, a produtora oficial do artista, e a qualidade dos arranjos, além de Dias contou com o forte empenho do baixista Danilo Tavares, o companheiro de sempre de Beto Dias desde as andanças do grupo “Rabelados” que deu o seu último espectáculo em Cabo Verde em 1996.
A contribuição de Beto Dias para a música cabo-verdiana na diáspora, vem desde a década de 80. Dias foi um dos fundadores do grupo “Rabelados”, um dos primeiros conjuntos da diáspora que, sem complexos, assumiu e trouxe ao público destas ilhas o funaná estilizado como marca.
Beto Dias conta já com quatro discos, a solo, “Sodadi”, “Sol Harmonia e Fé”, “Nós 2”, e “Quase Perfeito”. Os seus trabalhos com marca de originalidade com relação a alguns artistas jovens, residentes na diáspora, são esperados e apreciados por jovens e adultos. A cada lançamento, Beto Dias brinda o público cabo-verdiano com a sua voz firme e bonita e com composições que tocam a alma do mais simples camponês ao mais exigente dos cosmopolitas. O Jovem artista cabo-verdiano nasceu na Ribeira das Pratas no Concelho do Tarrafal, Ilha de Santiago e reside na Holanda há mais de duas décadas.

Margarida Fontes ( Num domingo, num momento, num lugar... )

19 de agosto de 2004

ENTREVISTA RELÂMPAGO COM PABLO NERUDA

Cheguei à porta do edifício de apartamentos onde mora Rubem Braga e onde Pablo Neruda e sua esposa Matilde se hospedavam - cheguei à porta exatamente quando o carro parava e retiravam a grande bagagem dos visitantes. O que fez Rubem dizer: "É grande a bagagem literária do poeta". Ao que o poeta retrucou: "Minha bagagem literária deve pesar uns dois ou três quilos".
Neruda é extremamente simpático, sobretudo quando usa o seu boné ("tenho poucos cabelos, mas muitos bonés"). Não brinca porém em serviço: disse-me que se me desse a entrevista naquela noite mesma só responderia a três perguntas, mas se no dia seguinte de manhã eu quisesse falar com ele, responderia a maior número. E pediu para ver as perguntas que eu iria fazer. Inteiramente sem confiança em mim mesma, dei-lhe a página onde anotara as perguntas, esperando só Deus sabe o quê. Mas o quê foi um conforto. Disse-me que eram muito boas e que me esperaria no dia seguinte. Saí com alívio no coração porque estava adiada a minha timidez em fazer perguntas. Mas sou uma tímida ousada e é assim que tenho vivido, o que, se me traz dissabores, tem-me trazido também alguma recompensa. Quem sofre de timidez ousada entenderá o que quero dizer.
Antes de reproduzir o diálogo, um breve esboço sobre sua carga literária. Publicou Crepusculário quando tinha 19 anos. Um ano depois publicava Vinte poemas de amor e uma canção desesperada, que até hoje é gravado, reeditado, lido e amado. Em seguida escreveu Residência na terra, que reúne poemas de 1925 a 1931, em fase surrealista. A terceira residência, com poemas até 1945, é um intermediário com uma parte da Espanha no coração, onde é chorada a morte de Lorca, e a guerra civil em geral que o tocou profundamente e despertou-o para os problemas políticos e sociais. Em 1950, Canto geral, tentativa de reunir todos os problemas políticos, éticos e sociais da América Latina. Em 1954: Odes elementares, em que o estilo fica mais sóbrio, buscando simplicidade maior, e onde se encontra, por exemplo, Ode à cebola. Em 1956, novas odes elementares que ele descobre nos temas elementares que não tinham sido tocados. Em 1957, Terceiro livro das odes, continuando na mesma linha. A partir de 1958, publica Estravagario, navegações e regressos, Cem sonetos de amor, Contos cerimoniais e Memorial de Isla Negra.
No dia seguinte de manhã, fui vê-lo. Já havia respondido às minhas perguntas, infelizmente: pois, a partir de uma resposta, é sempre ou quase sempre provocada outra pergunta, às vezes aquela a que se queria chegar. As respostas eram sucintas. Tão frustrador receber resposta curta a uma pergunta longa.
Contei-lhe sobre a minha timidez em pedir entrevistas, ao que ele respondeu: "Que tolice!"
Perguntei-lhe de qual de seus livros ele mais gostava e por quê. Respondeu-me:
- Tu sabes bem que tudo o que fazemos nos agrada porque somos nós - tu e eu - que o fizemos.
- Você se considera mais um poeta chileno ou da América Latina?
- Poeta local do Chile, provinciano da América Latina.
- O que é angústia? - indaguei-lhe.
- Sou feliz - Foi a resposta.
- Escrever melhora a angústia de viver?
- Sim, naturalmente. Trabalhar em teu ofício, se amas teu ofício, é celestial. Senão é infernal.
- Quem é Deus?
- Todos, algumas vezes. Nada, sempre.
- Como é que você descreve um ser humano o mais complexo possível?
- Político, poético. Físico.
- Como é uma mulher bonita?
- Feita de muitas mulheres.
- Escreva aqui o seu podema predileto, pelo menos predileto neste exato momento?
- Estou escrevendo. Você pode esperar por mim dez anos?
- Em que lugar gostaria de viver, se não vivesse no Chile?
- Acredite-me tolo ou patriótico, mas eu há algum tempo escrevi um poema:
Se tivesse que nascer mil vezes.Ali quero nascer.Se tivesse que morrer mil vezes.Ali quero morrer...

- Qual foi a maior alegria que teve pelo fato de escrever?
- Ler a minha poesia e ser ouvido em lugares desolados: no deserto aos mineiros do norte do Chile, no Estreito de Magalhães aos tosquiadores de ovelha, num galpão com cheiro de lã suja, suor e solidão.
- Em você o qeu precede a criação, é a angústia ou um estado de graça?
- Não conheço bem esses sentimentos. Mas não me creia insensível.
- Diga alguma coisa que me surpreenda.
- 748.
(E eu realmente surpreendi-me, não esperava uma harmonia de números).
- Você está a par da poesia brasileira? Quem é que você prefere na nossa poesia?
- Admiro Drummond, Vinícius e aquele grande poeta católico, claudelino, Jorge de Lima. Não conheço os mais jovens e só chego a Paulo Mendes Campos e Geir Campos. O poema que me agrada é o "Defunto", de Pedro Nava. Sempre o leio em voz alta aos meus amigos, em todos os lugares.
- Que acha da literatura engajada?
- Toda literatura é engajada.
- Qual de seus livros você mais gosta?
- O próximo.
- A que você atribui o fato de que os seus leitores acham você o 'vulcão da América Latina'?
- Não sabia disso, talvez eles não conheçam os vulcões.
- Qual é o seu poema mais recente?
- "Fim do Mundo". Trata do século XX.
- Como se processa em você a criação?
- Com papel e tinta. Pelo menos essa é a minha receita.
- A crítica constrói?
- Para os outros, não para o criador.
- Você já fez algum poema de encomenda? Se o fez faça um agora, mesmo que seja um bem curto.
- Muitos. São os melhores. Este é um poema.
- O nome Neruda foi casual ou inspirado em Juan Neruda, poeta da liberdade tcheca?
- Ninguém conseguiu até agora averiguá-lo.
- Qual é a coisa mais importante do mundo?
- Tratar de que o mundo seja digno para que todas as vidas humanas, não só para algumas.
- O que é que você mais deseja para você mesmo como indivíduo?
- Depende da hora do dia.
- O que é amor? Qualquer tipo de amor.
- A melhor definição seria: o amor é o amor.
- Você já sofreu muito por amor?
- Estou disposto a sofrer mais.
- Quanto tempo gostaria você de ficar no Brasil?
- Um ano, mas depende de meus trabalhos.
E assim terminou uma entrevista com Pablo Nerudo. Antes falasse ele é mais. Eu poderia prolongá-la quase que indefinidamente, mesmo recebendo como resposta uma única seta de resposta. Mas era a primeira entrevista que ele dava no dia seguinte à sua chegada, e sei quanto uma entrevista pode ser cansativa. Espontaneamente, deu-me um livro. Cem sonetos de amor. E depois de meu nome, na dedicatória, assinou: "De seu amigo Pablo". Eu também sinto que ele poderia se tornar meu amigo, se as circunstâncias facilitassem. Na contracapa do livro diz: "Um todo manifestado com uma espécie de sensualidade casta e pagã: o amor como uma vocação do homem e a poesia como sua tarefa".
Eis um retrato de corpo inteiro de Pablo Neruda nestas últimas frases.

Clarice Lispector

16 de agosto de 2004

Esses são os momentos...

A entrevista com Vinícius foi feita pela escritora brasileira, Clarice Lispector...Tão de repente Clarice também entrevistou Pablo Neruda no Brasil, certa vez....
Nota de momentos

Entrevista com Vinícius de Morais

VINÍCIUS DE MORAIS
"Detesto tudo que oprime o homem, inclusive a gravata."


MULHER, POESIA, MÚSICA

- Vinícius, acho que vamos conversar sobre mulheres, poesia e música. Sobre mulheres porque corre a fama de que você é um grande amante. Sobre poesia porque você é um dos nossos grandes poetas. Sobre música porque você é o nosso menestrel. Vinícius, você amou realmente alguém na vida? Telefonei para uma das mulheres com quem você casou, e ela disse que você ama tudo, a tudo você se dá inteiro: a crianças, a mulheres, a amizades. Então me veio a idéia de que você ama o amor, e nele inclui as mulheres.
- Que eu amo o amor é verdade. Mas por esse amor eu compreendo a soma de todos os amores, ou seja, o amor de homem para mulher, de mulher para homem, o amor de mulher por mulher, o amor de homem para homem e o amor de ser humano pela comunidade de seus semelhantes. Eu amo esse amor mas isso não quer dizer que eu não tenha amado as mulheres que tive. Tenho a impressão que, àquelas que amei realmente, me dei todo.
- Acredito, Vinícius. Acredito mesmo. Embora eu também acredite que quando um homem e uma mulher se encontram num amor verdadeiro, a união é sempre renovada, pouco importam as brigas e os desentendimentos: duas pessoas nunca são permanentemente iguais e isso pode criar no mesmo par novos amores.
- É claro, mas eu ainda acho que o amor que constrói para a eternidade é o amor paixão, o mais precário, o mais perigoso, certamente o mais doloroso. Esse amor é o único que tem a dimensão do infinito.
- Você já amou desse modo?
- Eu só tenho amado desse modo.
- Você acaba um caso porque encontra outra mulher ou porque se cansa da primeira?
- Na minha vida tem sido como se uma mulher me depositasse nos braços de outra. Isso talvez porque esse amor paixão pela sua própria intensidade não tem condições de sobreviver. Isso acho que está expresso com felicidade no dístico final do meu soneto "Fidelidade": "que não seja imortal posto que é chama / mas que seja infinito enquanto dure".
- Você sabe que é um ídolo para a juventude? Será que agora que apareceu o Chico, as mocinhas trocaram de ídolo, as mocinhas e os mocinhos?
- Acho que é diferente. A juventude procura em mim o pai amigo, que viveu e que tem uma experiência a transmitir. Chico não, é ídolo mesmo, trata-se de idolatria.
- Você suporta ser ídolo? Eu não suportaria.
- Às vezes fico mal-humorado. Mas uma dessas moças explicou: é que você, Vinícius, vive nas estantes dos nossos livros, nas canções que todo mundo canta, na televisão. Você vive conosco, em nossa casa.
- Qual é a artista de cinema que você amaria?
- Marilyn Monroe. Foi um dos seres mais lindos que já nasceram. Se só exisitisse ela, já justificaria a existência dos Estados Unidos. Eu casaria com ela e certamente não daria certo porque é difícil amar uma mulher tão célebre. Só sou ciumento fisicamente, é o ciúme de bicho, não tenho outro.
- Fale-me sobre sua música.
- Não falo de mim como músico, mas como poeta. Não separo a poesia que está nos livros da que está nas canções.
- Vinícius, você já se sentiu sozinho na vida? Já sentiu algum desamparo?
- Acho que sou um homem bastante sozinho. Ou pelo menos eu tenho um sentimento muito agudo da solidão.
- Isso explicaria o fato de você amar tanto, Vinícius.
- O fato de querer me comunicar tanto.
- Você sabe que admiro muito seus poemas, e, mais do que gostar, eu os amo. O que é a poesia para você?
- Não sei, eu nunca escrevo poemas abstratos, talvez seja o modo de tornar a realidade mágica aos meus próprios olhos. De envolvê-la com esse tecido que dá uma dimensão mais profunda e conseqüentemente mais bela.
- Reflita um pouco e me diga qual é a coisa mais importante do mundo, Vinícius?
- Para mim é a mulher, certamente.
- Você quer falar sobre sua música? Estou esperando.
- Dizem, na minha família, que eu cantei antes de falar. E havia uma cançãozinha que eu repetia e que tinha um leve tema de sons. Fui criado no mundo da música, minha mãe e minha avó tocavam piano, eu me lembro de como me machucavam aquelas valsas antigas.
- Meu pai também tocava violão, cresci ouvindo música. Depois a poesia fez o resto.
Fizemos uma pausa. Ele continuou:
- Tenho tanta ternura pela sua mão queimada...
(Emocionei-me e entendi que este homem envolve uma mulher de carinho.) Vinícius disse, tomando um gole de uísque:
- É curioso, a alegria não é um sentimento nem uma atmosfera de vida nada criadora. Eu só sei criar na dor e na tristeza, mesmo que as coisas que resultem sejam alegres. Não me considero uma pessoa negativa, quer dizer, eu não deprimo o ser humano. É por isso que acho que estou vivendo num momento de equilíbrio infecundo do qual estou tentando me libertar. O paradigma máxima para mim seria: a calma no seio da paixão. Mas realmente não sei se é um ideal humanamente atingível.
- Como é que você se deu dentro da vida diplomática, você que é o antiformal por excelência, você que é livre por excelência?
- Acontece que detesto tudo o que oprime o homem, inclusive a gravata. Ora, é notório que o diplomata é um homem que usa gravata. Dentro da diplomacia fiz bons amigos até hoje. Depois houve outro fato: as raízes e o sangue falaram mais alto. Acho muito difícil um homem que não volta ao seu quintal, para chegar ou pelo menos aproximar-se do conhecimento de si mesmo.
- Como pessoa, Vinícius, o que é que desejaria alcançar?
- Eu desejaria alcançar outra coisa. Isso de calma no seio da paixão. Mas desejaria alcançar uma tal capacidade de amar que me pudesse fazer útil aos meus semelhantes.
- Quero lhe pedir um favor: faça um poema agora mesmo. Tenho certeza de que não será banal. Se você quiser, Menestrel, fale o seu poema.
- Meu poema é em duas linhas: você escreve uma palavra em cima e outra embaixo porque é um verso.
É assim:
Clarice Lispector
- Acho lindo o teu nome, Clarice.
- Você poderia me dizer quais as maiores emoções que já teve? Eu, por exemplo, tive tantas e tantas, boas e péssimas, que não ousaria falar delas.
- Minhas maiores emoções foram ligadas ao amor. O nascimento de filhos, as primeiras posses e os últimos adeuses. Mesmo tendo duas experiências de quase morte - desastre de avião e de carro - mesmo essa experiência de quase morte nem de longe se aproximou dessas emoções de que te falei.
- Você se sente feliz? Essa, Vinícius, é uma pergunta idiota, mas que eu gostaria que você respondesse.
- Se a felicidade existe, eu só sou feliz enquanto me queimo e quando a pessoa se queima não é feliz. A própria felicidade é dolorosa.
Meditamos um pouco, conversamos mais ainda., Vinícius saiu.
Então telefonei para cada uma das esposas de Vinícius.
- Como é que você se sente casada com Vinícius?
Ela respondeu com aquela voz que é um murmúrio de pássaro:
- Muito bem. Ele me dá muito. E mais importante do que isso, ele me ajuda a viver, a conhecer a vida, a gostar das pessoas.
Depois conversei com uma mocinha inteligente:
- A música de Vinícius, disse ela, fala muito de amor e a gente se identifica sempre com ela.
- Você teria um 'caso' com ele?
- Não, porque apesar de achar Vinícius amorável, eu amo um outro homem. E Vinícius me revela ainda mais que eu amo aquele homem. A música dele faz a gente gostar ainda mais do amor. E "de repente, não mais que de repente", ele se transforma em outro: e é o nosso poetinha como o chamamos.
Eis pois alguns segredos de uma figura humana grande e que vive a todo risco. Porque há grandeza em Vinícius de Morais.


13 de agosto de 2004

"Jornalistas comprados com simples nota de 100 dólares”

O SECRETÁRIO-GERAL do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, o antigo jornalista da RDP-África Ismael Mateus, lamentou a falta de consciência profissional que torna a classe vulnerável a pressões, defendendo que os jornalistas devem ter uma "formação superior" que garanta condições para o exercício da profissão.

Ismael Mateus fez estas declarações a propósito da convocação dum congresso extraordinário do sindicato, a realizar entre 15 e 17 de Novembro, cerca dum ano antes de terminar o mandato da actual direcção.

"A classe jornalística angolana está vulnerável porque não possui consciência profissional. As pessoas são compradas com uma simples nota de 100 dólares, e isso fragiliza a classe", afirmou Ismael Mateus Para o dirigente sindical, a situação poderia ser diferente se os jornalistas possuíssem formação superior e se existisse uma carteira profissional "que permitisse saber quem é jornalista e quem não é".

"Os profissionais não estão bem preparados, porque lhes falta uma formação superior", frisou.

O actual secretário-geral do sindicato anunciou que não tenciona recandidatar-se ao cargo, mas manifestou esperança de que o seu sucessor possa "continuar o trabalho desenvolvido para bem da classe".

A expansão do sindicato a todo o país, a publicação da Lei de Imprensa e a definição do estatuto dos jornalistas e do código deontológico são, na opinião de Ismael Mateus, as tarefas em que a próxima direcção deve empenhar-se.

Relativamente ao próximo congresso, o dirigente sindical salientou que ele vai permitir "um debate em torno dos actuais desafios da classe face às grandes questões nacionais".

"Vamos analisar o desenvolvimento da comunicação social no país e suas perspectivas para o futuro, fazendo também uma abordagem exaustiva das condições económicas dos jornalistas", disse.

Segundo Ismael Mateus, a sindicalização dos jornalistas será outra questão em análise no congresso.

O sindicato tem actualmente cerca de 1.500 profissionais inscritos.