31 de outubro de 2007

Traduzir-se

Uma parte de mim é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim é multidão:
outra parte estranheza e solidão.

Uma parte de mim pesa, pondera:
outra parte delira.

Uma parte de mim almoça e janta:
outra parte se espanta.

Uma parte de mim é permanente:
outra parte se sabe de repente.

Uma parte de mim é só vertigem:
outra parte, linguagem.

Traduzir uma parte na outra parte
- que é uma questão de vida ou morte –
Será arte?

Gullar em mim

Sei que me repito. A matéria da matéria é inalienável, e pouco ou nada muda, dependendo do ínfimo dos ventos. Na permanência da dor, procuro os meus, entre a vida e a morte, onde tu estás...

Traduzir-se (poema de Ferreira Gullar-foto-)
Gullar em mim (a minha declaração de amor)

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Margarida,
É um imenso prazer ester visitando teu blog repleto de material cultural.
Recebas meu cordial abraço do Brazil
Geraldo

pura eu disse...

Valeu Geraldo.
Muito desse material bebe nas fontes do seu imenso país. A imortalidade poética de Gullar é apenas um exemplo.
Volta sempre.

Abraços

Margarida