6 de novembro de 2008

O poder e Obama*














Poderia começar este artigo por trocar a ordem das palavras deste título: Obama e o Poder. A retumbante vitória de Obama nas eleições norte-americanas soa para os EUA e para o Mundo com o som fonético e, sobretudo, com o valor semântico de um verdadeiro «hossana». «Hossana», do hebraico «hoshi’anna» quer dizer: «salva, peço-te». Obama, no contexto actual da situação dos EUA e do Mundo, encarna essa petição: «Salva-nos».
Quem estendeu esta passadeira para esta triunfal entrada de Obama na Casa Branca foi George W. Bush. Bush deixa a mítica branca residência com o mais baixo índice de popularidade de sempre (26%). Nos EUA e no Mundo havia um enfado muito grande por este homem que, simbolicamente, guarnecido do maior poder do Mundo estava a cavar a mais profunda onda de falta de confiança. A crise financeira actual, melhor dito, a crise do sistema financeiro foi óbito final de dois mandatos que denegriram o papel motor dos EUA face ao estado do Mundo. Iraque, Afeganistão, Irão, Palestina, Israel, não são apenas nomes e histórias de países. São capítulos, dossiês, alforges de problemas que a administração Bush deixa em legado ao próprio Obama. E só por manobra ilusionista ou fraca consciência do estado actual dos EUA e do Mundo alguém pode ignorar que o caminho de Obama está cheio de minas e armadilhas.
Obama chega em ombros à Casa Branca porque do fundo do túnel surgiu o custo zero de toda a esperança. Praticamente desconhecido, sem ter andado nos corredores do Poder a ter de cumprir falsas promessas, homem simples, a bem dizer meio negro, meio branco, «nascido a pulso» como tanta aprecia a mitologia americana, com uma mensagem da força do que pode valer o querer, com um apelo forte e renovado de que o «sonho americano» ainda está por cumprir, de linguagem simples e voz firme e sonora, Obama, por seu mérito e não só, reunia as óptimas condições para ser o vulto e o promontório de uma nova réstia de esperança para todos aqueles que estão em vias de perdê-la por completo. E se são indesmentíveis as qualidades pessoais de Obama, as circunstâncias conjunturais da actualidade encontraram nele o modelo exacto, para numa operação de marketing político numa democracia e que acima de tudo é profundamente mediática, montar uma campanha eleitoral de indiscutível êxito. Como já alguém disse, neste sentido, até o nome ajudava, era verdadeiramente um nome de marketing Barack Obama. A mobilização do eleitorado multiétnico norte-americano foi grandiosa. O entusiasmo contagiante. O ambiente de festa na saudação da nova era que despontava tornou-se empolgante. Obama é o novo presidente dos EUA.
Obama chegou ao Poder. A partir de agora começa a maratona da gestão desse poder conquistado e conferido pela grande maioria dos norte-americanos. De um poder que deixará de ser apenas de Barack Obama mas da Casa Branca. O mesmo seja dizer da poderosa teia de poder que governa os EUA.
Não é só a crise financeira e do próprio sistema que traz as incertezas dos tempos que vivemos. É a própria crise dos «fundamentos do sistema democrático como a legitimação e justificação do poder» em profunda mudança (Timóteo Alvarez, em «Gestão do Poder diluído», 2006).
É importante para o Mundo que Obama não se transforme em mito, mas no novo nome do Poder.

* Paquete de Oliveira (cedido pelo autor)

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