
1. Um dos projectos mais pendentes de que tenho memória em Cabo Verde foi o Museu Municipal de S. Filipe, daí, também, o seu ineditismo. A restauração do sobrado di nha Francisquinha (nome popular), a recolha dos objectos etnográficos e a efectivação do protocolo entre a Câmara Municipal de S. Filipe e a Câmara Municipal de Palmela (Portugal) duraram 12 anos. Finalmente, o espaço foi inaugurado no passado dia 13 de Dezembro, e a partir de meados de Janeiro de 2009 estará aberto ao público das 10H à 15H, e das 17H às 20H. De recordar que o Museu situa-se mesmo ao lado da Casa da Memória, outro espaço etnográfico de grande servidão aos turistas e estudantes na Ilha do Fogo. Expectativa: que o Museu da Cidade receba muitos turistas e curiosos e trabalhe em sintonia com a Casa da Memória.
2. Os momentos tristes também podem ser grandes, pela simbologia que carregam. No ano 2008 faleceu na Cidade da Praia, Francisco Fontes. O decano das bandeiras da Ilha do Fogo. Nhô Mulato, como era conhecido, faleceu com 103 anos, e desde os seus 11 anos era o Cordidjêru (chefe) da maior festa popular de Cabo Verde. A Banderona que celebra S. João, acontece durante 22 dias antes do Carnaval na zona de Campanas Baixo, Fogo. De recordar que esta bandeira é secular e foi fundada por três famílias originárias da região de Campanas, o que obriga a que “a bandeira seja tomada” apenas por membros dessas famílias. Expectativa: Que mesmo sem a figura de Mulato a Banderona continue a preservar a memória, a resgatar valores, e a perpetuar a união.
3. Faleceu Manu Mendi, tido como o último tocador e construtor de Cimboa, instrumento tradicional usado no batuque. Permitir que se perca um legado é um pecado. Expectativa: que se dinamize seriamente a convenção da UNESCO sobre a Diversidade Cultural rectificada no âmbito da CPLP, antes que outras perdas do tipo se repitam. Penso nas várias manifestações de cariz popular e religiosas existentes em ilhas como S. Nicolau, Brava e Santo Antão. Recordo-me de “Canizade” na Ilha do Fogo que hoje praticamente ninguém sabe do que se trata.
4. A inauguração do Museu de Tabanca em “Tchan di tanqui”, e do Centro Cultural Norberto Tavares no coração da Assomada carregam, do nosso ponto de vista, muita simbologia: imortaliza um ritual e perpetua um homem. Expectativa: 1. alma e muita cultura aos “dois chãos” que representam o lado mater desta nação crioula. 2. Auguramos bom porto para a emblemática casa onde residiu Amílcar Cabral em Achada Falcão; e a prometida Casa di Morgado (na antiga e enigmática casa do Morgado da Ribeira dos Engenhos).
5. Foi anunciada o início da obra para a recuperação do antigo Orfanato de Caleijão, que vai albergar o Museu Sacro em S. Nicolau. Já é repetitivo falar e escrever sobre as pérolas sacras (objectos do século XVIII) que estão depositadas numa das salas do Seminário-Liceu, (os objectos em ouro estão guardados numa caixa do banco) da Ilha de Chiquinho. Expectativa: Que a obra avance logo. Caso contrário, não teremos museu algum, já que os objectos não têm merecido devido cuidado.
6. A Língua cabo-verdiana foi tema, e conheceu alguns progressos em 2008, apesar da “ala regressiva”. O debate sobre o crioulo deve ser alargado, (e a língua é pujante, sabe-se) mas a sua instrumentalização e posterior oficialização interpelam questões de ordem técnica e política. Expectativa: que não tenhais receios.
7. O CD Spiga de Princezito é um corolário de cores, ritmos e cheiros. Foi a prenda que mais ofereci no ano de 2008.
8. José Luíz Tavares foi galardoado pelo Ministério da Educação do Brasil, com o prémio «Literatura para todos» pela obra inédita «Os Secretos Acrobatas». Em Novembro deste ano lançou na 8ª Bienal internacional do livro de Ceará a obra intitulada «LISBON BLUES seguida de DESARMONIA» (dois livros inéditos, reunidos num único volume). Em Moçambique, José Luíz Tavares lançara Cabotagem & Ressaca, publicado pela Escola portuguesa de Maputo: uma selecção de poemas de «Paraíso apagado por um Trovão», «Agreste Matéria Mundo» e inéditos.
9. A vitória de Barack Obama foi um momento ápice na história da humanidade (sim, senhor). Expectativa: que são se deposite demasiadas expectativas nas suas costas, nem pressões “incompreendidas” como as que já se notam por causa dos ataques em Gaza.
10. O falecimento de Miriam Makeba, a diva africana do Século XX, foi um forte aperto nos nossos corações. Expectativa: sejamos firmes, todos e todas.
11. De Francisco Fontes (jornalista português) recebi isso: “Em 2008 realizámos algo que, infelizmente, não é muito comum. Pela união de disponibilidades e de vontades, generosamente, conseguimos criar uma obra capaz de divulgar alguma da nova e boa poesia cabo-verdiana, com “Destino de bai! Foram projectos de crença, para os quais cada um teve uma participação decisiva. Cada contributo enriqueceu o projecto e tornou-o viável, e foi indutor de outras participações. Parece demasiado romântico, ou da dimensão do utópico, mas foi realizado. Conseguimos!” Expectativa minha: um lançamento em Cabo Verde em 2009, já que apesar de ter sido uma das participantes, ainda não tomei contacto com o livro.
Senti falta de ...
Mário Lúcio: Gosto dele no palco a cantar, e gosto das palavras do escritor (como de as ler). Por incúria minha, talvez, não tive esse prazer. Hoje, cruzei-me com ele no seu carrinho na descida de Achada Mato.
Matilde Dias: Muitas histórias e muitas reportagens ficaram pelo caminho sem o toque da Matilde.
Beto Dias: O novo disco já está pronto e só sai em Janeiro. Dias se distanciou das características que o destacavam nos Rabelados e nos seus primeiros dois discos, mas deixa falta.
Poesia, e de ti.