5 de dezembro de 2008
Os nós da solidão
II
Dantes havia os colonos
que alvos e algarvios
defronte das estátuas
e demais monumentos
de aquém e além-mar
bebiam sequiosos
o suco da cana
o sumo da terra
a espuma do mar
e raivosos
nos mandavam recolher
o bagaço sacarino
e as vértebras de outros restos
e em sarcasmo gregário
se reluziam ao sol
e seduziam a nua
e tisnada virgindade
dos subúrbios
II
Séculos depois
ainda alvos e algarvios
sob uma lua muito redonda
muito mais gregários e raivosos
do que dantes
por mor das colunas de fumo
que dos monumentos
se despenhavam
e despedaçavam o mar
por mor das efígies de bronze
que das penedias da cidade tombavam
os colonos
e os seus próceres islenhos
os colonos
e os seus rebentos indígenas
atravessaram o mar
velejando um ódio ainda mais amargo
e cada vez mais absentista
III
E ficámos sós
cogitando sobre os nós da solidão
e da nossa possível essência negra
E ficamos sós
reverberando ansiosos
os signos da desolação
ante o sibilino assobiar
dos alísios sobre os montes
e o oceano de todos os dias
e a sua inútil ondulação
vazia de veleiros e marinheiros
entre o cais de são januário na cidade da praia
e a foz do geba na guiné-bissau
entre a rua da praia de botes no mindelo
e o promontório do cabo verde em dakar-senegal
poema: José Luís Hopffer C. Almada
imagem: Abraão Vicente
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2 comentários:
De clique em clique, cheguei a essa janela cabo-verdiana-brasileira, e que grata surpresa, após envolver-me com outrostextos, aportei no que trata sobre o congresso entre os dois países, o que me deixa imensamente feliz. Estamos criando um grupo de estudos e envolve estudantes das mas diversas áreas do conhecimento (aqui da Universidade do Porto, nos vários níveis de grados), uma pertinência já apontada aqui. E voltarei mais e mais vezes para apreender tudo que aqui há.
Felicidades!
;)
Volte, sim, mais vezes. Obrigada!
:)
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