31 de janeiro de 2010

O aulido do tempo

tempo














O azul é também uma forma de mágoa
que embota nosso silente acordar. Soluço
erguido lá no alto, porejando o céu ruço,
à nossa fé lograremos submetê-lo, à tábua

da nossa imperfeita lei? Que nos lembre,
sem amargura, que saber sofrer é um dom,
que o passado com seu´scuro álgido som
do virente futuro léguas segue sempre

à frente. Onde mora o prevenido não
há lugar para a inquietação; mas o tempo,
que é válido, ergue-se já num silencioso

aulido. Terá aquilo que se chama vocação?
Chegará como um gentleman em seu lento
Afã? Embotado pelo azul, predizer não ouso.

in: "Cidade do mais antigo nome", obra de José Luiz Tavares (poema) e Duarte Belo (foto), lançada ontem na Cidade Velha.

25 de janeiro de 2010

Flashes: PAI, MPD e Delano


















1. Terminou, ontem, o 12º Congresso do PAICV sob o signo “Vamos continuar juntos”, cabo-verdianos e cabo-verdianas de todas as ilhas de Cabo Verde, do arquipélago ao mundo. Esta é obviamente uma re (apropriação) minha, depois de ter ouvido os longos discursos de José Maria Neves, durante os três dias que decorreram o evento. Do meu ponto de vista, foi um congresso bem organizado, animado, com muita emoção, e muitas palavras de afecto. Isso é bom também.

2. Não sei se se percebe, mas Carlos Veiga já está no terreno (literalmente). Há dias, pelos bairros da Capital, hoje, na Ilha do Fogo… e assim por diante. Esta estratégia terra-a-terra e sol-a-sol deu certo para Ulisses Correia e Silva na Capital, lembram-se? É a tal proximidade que ainda conta muito para as cabo-verdianas e os cabo-verdianos destas ilhas atlânticas.

3. As pessoas que conhecem o meu trabalho sabem que como jornalista me interesso muito por notícias/histórias do passado, e pelas glórias do presente (um particular gozo pelas vitórias da nossa diáspora). Acredito nesse jornalismo de construção e antecipação, por isso, destaco em cartaz, Love Hurts, uma peça com o actor Delano Barbosa (o careca da foto), um filho de pais cabo-verdianos da Ilha do Fogo. O que impressiona em Barbosa (e a mim me impressionou) é a sua obsessão pelo trabalho duro no palco; e a sua trajectória tem sido esta… Eis a nota da peça, a decorrer em Nova York, nos dias 2, 4 e 5 de Março:

LOVE HURTS!! A STORY OF A GROUP OF HIGH SCHOOL FRIENDS WHO MEET UP EVERY VALENTINE'S DAY TO CELEBRATE AS COUPLES, AND EVERY YEAR THEY PLAY A GAME OF TRUTH OR DARE BUT THIS YEAR IS A DIFFERENT YEAR. A YEAR WHERE DARK SECRETS OF THE PAST ARE REVEALED AND A YEAR WHERE HEARTS ARE SHATTERED."


BRAVO DELANO!

23 de janeiro de 2010

Luís Romano e os famintos de Cabo Verde

famintos




















“Finalmente os pedintes ergueram-se e enfiaram-se pelas ruas do Povoado. O número de pessoas aos lamentos era enorme. Como massa escura, a leva espalhava-se pelas vielas, a mendigar pelos portões. Os cães latiam enervados. Nas janelas, atrás dos resposteiros, as donas olhavam, cheias de pena. Depois, escondiam-se nos quartos, por causa dos ruídos, e faziam paninhos de renda para serviços de chá.

Ao pé do Pelourinho, quem passasse nem já olhava por alguns corpos que vieram até lá render o último suspiro. As cenas repetiam-se constantemente e quase ninguém fazia caso; os cadáveres parte do empedrado onde tombaram.

No entanto, os sinos tocavam ave-maria, os senhores descobriam-se, faziam o sinal da cruz, enquanto os comerciantes fechavam as portas, seguravam as trancas. Da rua ouvia-se o telintar das moedas nas gavetas dos balcões e o reflexo da luz, dentro das lojas, fugia pelas frinchas das portas ou passando pelas gretas das fechaduras.

No Adro da Sé os sem-nome abrigavam-se às dezenas, unidos, aquecendo-se uns aos outros e a gemer de quando em quando. A miudagem dormia encolhendo os ombros debaixo do corpo dos mais velhos. Os piolhos passavam de um ponto para o outro, as pulgas sugavam o pouco de energia que ainda restava e as pulguinhas que deformam os pés, enchiam os dedos de casulos brancos, a desenvolver cavernas, atrofiando a marcha dos maltrapilhos.

E dentro da Sé a quietude impressionava. Nos nichos, nas redomas, nos andores, as imagens de santos contemplavam o vazio com olhos cheios de bondade.

Na rua, contra a porta, a cacimba atormentando os desamparados.”

Trechos de “Famintos”, um livro referência: um retrato documental, jornalístico (se se quiser), umas vezes lírico, outras subjectivamente narrado, deixado por Luís Romano… (1922 - 2010)

Morreu o autor de "Famintos"

Luis Romano













Navio-berço de menino crioulo,
navio-guia que ficou sem ir
“navio idêntico ao navio da nossa derrota parada”, assim escreveu Luís Romano, em 1963, no poema "Clima".

Na colectânea “Reino de Caliban I”, Manuel Ferreira enquadra Luís Romano na lista dos Poetas das Sete Partidas. Poetas que começaram a ser nómadas e um dia encontraram poiso longe das ilhas, mas apenas fisicamente. Poetas que continuaram a beber da seiva crioula…O escritor e ensaísta Luís Romano faleceu, ontem, no Brasil, Rio Grande do Norte, (onde vivia há 48 anos) vítima de doença prolongada.

Romano foi desde cedo um intelectual militante que inspirou futuros integrantes da gesta libertadora que conduziu à independência nacional. Com a sua produção literária ultrapassou o “terra longismo” e o telurismo característico dos claridosos, para ser um dos escritores que com mais profundidade abordou o drama social e ambiental do arquipélago:

O seu livro “Famintos” constitui uma das maiores denúncias contra a situação dramática de fome e abandono a que as ilhas estavam votadas no período colonial. Por causa das suas obras, de forte denúncia, foi exilado no Brasil, onde continuou a sua actividade literária e de pesquisa etnográfica, sem nunca esquecer as suas raízes e a sua língua materna: actividades que mereceram o justo reconhecimento do governo brasileiro.

Luis Romano nasceu em 1922, na Ilha de Santo Antão. É também autor de vários contos cabo-verdianos incluídos em publicações diversas.

Bibliografia

Famintos, romance popular caboverdiano, 1962, Rio de Janeiro, Brasil
Clima, poemas, 1963, Recife
Cabo Verde - Renascença de uma civilização,1967 e 1970, Lisboa
Negrume/Lzimparín, contos caboverdianos, 1973, Rio de Janeiro, Brasil
Contravento, antologia poética bilingue, 1982, EUA
Cem Anos de Literatura Caboverdiana, 1985, USP-São Paulo, Brasil
Teknosal, vade mécum salineiro, 1990, Col.Mossoró, RN, Brasil
Ilha, estórias caboverdianas, 1991, S. Vicente
Kriolanda - Estigmas, 1999, S.Vicente
Kabverd Civilização e Cultura, 2000, Rio de Janeiro, Brasil

22 de janeiro de 2010

Deixou-nos há três anos

Padre Jesualdo








Em memória a este grande homem, o Padre Gesualdo, que faleceu há precisamente três anos, hoje recordamos (Os momentos cita Liberal) as suas palavras em resposta às perguntas de José J. Cabral e António Silva Roque, em Agosto de 2004, um dia após a cessação de funções. Esta entrevista foi radiodifundida no programa “Vidas com História", da Rádio de Cabo Verde.

O protagonismo da emigração para a Itália, Padre Gesualdo é uma das referências da memória colectiva da ilha de São Nicolau. Figura discreta e humilde, é considerado pioneiro e promotor da formação profissional na ilha, ainda na época colonial, altura em que nem sequer havia planos ou orçamentos nesse domínio; É sobre o seu percurso invulgar, que Padre Gesualdo fala com a lucidez que se lhe reconhece, na primeira pessoa, um acto que pela humildade se tem esquivado a praticar…

Abriu todavia este parêntesis, para nos falar do caminho por ele percorrido, desde Fiuggi, Frisinone na Itália, até Tarrafal de São Nicolau em Cabo Verde, da sua concepção filosófica de vida, de suas realizações …

… em nome do seu grandioso amor pelo semelhante

José. J. Cabral e António Silva Roque (JJC & ASR) - Em primeiro lugar gostaríamos da saber um pouco de sua origem.

Padre Gesualdo Fiorini (PG) - Eu sou um Italiano; Há um artigo subscrito por José J. Cabral, ele que é um amigo, no qual ele traçou o meu perfil, fundamentalmente que sou um Ítalo-Cabo-verdeano. Foi um artigo muito apreciado, porque ele procurou com compreensão, dar conta do meu modesto contributo em prol do desenvolvimento da ilha de São Nicolau. Mas numa perspectiva mais concreta, gostaria de lhe dizer que sou um Padre Capuchinho, que saiu da Itália para vir estabelecer em Cabo Verde.

JJC & ASR – Originário da Itália, estamos ainda a conhecer os primeiros passos do seu percurso … Conte-nos um pouco de sua história.

PG – A minha origem familiar está entre dois domínios, entre a riqueza e a pobreza. Quero dizer que minha família não era nem rica nem pobre. Meu pai trabalhava no domínio dos transportes, que nessa altura era feito com mulas. A minha mãe também era de origem humilde. Um dia perguntaram-me se queria ser padre e entrar para a ordem dos Capuchinhos. Eu não hesitei. Assumi por inteiro a proposta. Havia uma grande casa de formação dos Capuchinhos, e fiquei impressionado com a ambiência. Encontrei lá muitos rapazes que também estavam orientados para esse fim. Entrei no Seminário em 1935. Fiz os estudos liceais paralelamente aos estudos religiosos.

Ler mais, no Liberal

21 de janeiro de 2010

Algo profundo...

love

















... Amar é qualquer coisa de mais grave e significativo do que o entusiasmo pelas linhas de um rosto e a cor de uma face; é decidirmo-nos por um certo tipo de ser humano que é simbolicamente anunciado nos pormenores do rosto, da voz e dos gestos.

O amor é uma escolha profunda.

José Ortega y Gasset

14 de janeiro de 2010

O Haiti e (o estado das coisas)

haiti














“Inferno é o que resta para os sobreviventes do sismo no Haiti”: ouvi algo semelhante de José Alberto Carvalho que comandava uma cobertura exemplar da RTP sobre a tragédia no Haiti. A comunidade internacional, as potências mundiais, os homens de boa vontade têm a oportunidade de provar que somos todos seres humanos e iguais perante os céus.

O embaixador do Haiti nos Estados Unidos chorou na CNN quando pedia ajuda para o seu país. Uma catástrofe indescritível que nos abala no âmago.

Jornalista agredido

O jornalista da TCV, António Gomes, foi ontem agredido e humilhado por um Inspector da Polícia Judiciária. Tudo aconteceu no meio da manhã, quando o jornalista tentava ouvir a versão da PJ, na sequência de uma manifestação organizada pelos familiares de um dos jovens assassinados por thugs na semana passada em Achada Grande.

As imagens do “vexame” foram emitidas na íntegra no Jornal da Noite da TCV de ontem, onde via-se que, além da humilhação ao jornalista, o tal agente escorraçava o grupo de familiares que clamava por justiça.

Diante de tal situação, além do repúdio da Direcção da TCV, os profissionais desse órgão fizeram um abaixo-assinado onde pedem a demarcação inequívoca da Direcção da PJ, e esperam acções em conformidade “contra um indivíduo que, manifestamente, não tem perfil adequado para desempenhar a função que exerce.

Um dos pontos do documento passamos a citar:

“Recusa-se a fazer a cobertura jornalística de qualquer acto oficial da PJ, enquanto a Direcção Central da mesma não se demarcar publicamente da atitude indigna de um Inspector da PJ contra um jornalista da TCV, em pleno exercício das suas atribuições profissionais.”

13 de janeiro de 2010

Vadú

Vadú




















O jovem compositor e intérprete Vadú (1977- 2010) era um promissor músico da nova geração.

Numa hora em que o país ainda chora a morte de “Codé di Dona”, os cabo-verdianos acordaram inconsoláveis com a triste nova do desaparecimento do autor de “Preta”.

A trajectória artística de Vadú ficou marcada por três álbuns, nomeadamente Ayan (obra colectiva de 2001), Nha Raiz (2005) e Dixi Rubera (2007), para além de inumeráveis e surpreendentes espectáculos em Cabo Verde e no estrangeiro. Vadú era considerado um nome promissor da música contemporânea de Cabo Verde, e fazia parte do rol de talentos da denominada Geração Pantera.

Tinha uma característica peculiar e eclética, introduzindo rudimentos do jazz e alternantes no mais tradicional da música crioula. Trouxera de Cuba, onde estudou, o gosto pela viagem inter-rítmica.

Era, por um lado, fundamentalista nas suas raízes do Batuco, Funaná e Tabanka. Por outro lado, aberto aos sons múltiplos da “world music”, sem se descurar doutros mil tons das cantigas cabo-verdianas, este artista parecia um alquimista quando compunha e interpretava as suas canções. Era-o assim também quando reinterpretava as músicas de Orlando Pantera, Princesito, Tcheka Andrade, entre outros que lhe eram contemporâneos.

A multiplicidade de estilos se fazia sentir também nos poemas das suas composições, onde as questões sociais e culturais vinham ao de cima como aspectos determinantes do seu processo criativo. Esta característica entre o urbano e o rural, entre o local e o universal era Vadú, quem nos cantava Ladridja, Dixi Rubera e Lus, esta última composição magistralmente interpretada pela cantora Nancy Vieira.

A voz que ora se cala, na sequência de um estúpido acidente ainda por esclarecer, na via entre Ponta do Sol e Ribeira Grande, na Ilha de Santo Antão, continuará a ecoar na memória de todos.

Vadú nascera na Cidade da Praia, em 1977, e teve uma vida curta e meteórica, mas o suficiente para se inscrever no panteão dos nomes da Cultura de Cabo Verde.

8 de janeiro de 2010

Hwo Cares?

hwo cares






















O post anterior mereceu comentários muito relevantes de João Branco, da Caps e Edy: pistas que me parecem pertinentes para o debate ou reflexão. Dai o seu reaproveitamento parcial.

1. O fenómeno da violência urbana não tem incidência apenas na Praia. O quadro actual do que estamos vivendo no Mindelo é MUITO preocupante. (João Branco)

2. Um sociólogo cabo-verdiano terá dito em tempos que: (dito nosso)
-Nós somos uma sociedade violenta na forma de estar, e não é de hoje. O que mudou foi a forma como essa violência é praticada; ... expressões do tipo "Uipo!!" e outras que mais não significam que o impacto físico. (da Caps)

3. O problema, que não é o nosso, é que algumas instituições estão a "falhar" na sua tarefa de socialização das crianças e dos jovens: a escola e a família (alguns sociólogos defendem até que a escola deixou de ser uma instituição). (Edy)

7 de janeiro de 2010

Who`s Guilt?

guilt

















2010 já vai no seu sétimo dia, e a capital cabo-verdiana já testemunhou dois assassinatos: o primeiro, ocorrido no passado dia 5, no bar "Voz di Povo", e o segundo caso que teve lugar ontem à noite, em Safende, vitimando um taxista.

Esta manhã, na apresentação de cumprimentos de Ano Novo ao Presidente da República, José Maria Neves disse que “um dos grandes desafios de Cabo Verde, neste momento, tem a ver com a delinquência juvenil e os níveis de violência e de criminalidade resultantes das actuações dos grupos organizados de jovens thugs”.

Na Praia, não se fala em outro assunto: alguma impotência nota-se. O Governo não tem conseguido travar o rumo das coisas. Os muitos discursos e encontros organizados à volta da questão da criminalidade e da violência (inclusive a doméstica) ficam pela cosmética, porque nunca transitam ao plano seguinte: o da acção.

O fenómeno (a complexidade)

Este fenómeno da criminalidade juvenil é transversal à classe social. É um quadro urbano nacional, com maior incidência na cidade da Praia.

As respostas policiais e securitárias, importantes como medidas de acção pontual, não são suficientes para as mudanças estruturais contra o clima da marginalidade e da violência entre os jovens. A situação carece de uma abordagem sociológica mais assertiva, (dizem os entendidos) importando para a cena da análise temas como a moral, os bons costumes e os valores familiares, sem descurar a problemática da liberdade com responsabilidade.

Parece estar a prevalecer a cultura do rebelde e do desordeiro, prevalecente entre grupos de jovens, numa situação que não dispensa o alcoolismo, a toxicodependência e o tráfico de drogas, a par das disputas por espaços de influência nos bairros e na mobilização dos jovens pela cidade.

O transvio dessa juventude exige um olhar de toda a sociedade e através de uma vontade colectiva de instaurarmos a paz e a tranquilidade no convívio social.

6 de janeiro de 2010

CODÉ DI DONA: 1940-2010

Codé di Dona






















Codé di Dona tem um perfil de funaná que cativou a atenção da nação” disse Eutrópio Lima da Cruz em entrevista à TCV.

Todos são unânimes em considerar Codé di Dona (1940-2010) como uma das figuras incontornáveis do funaná, género musical outrora confinada à Ilha de Santiago, hoje com ressonância universal.

Compositor de músicas definitivas do repertório nacional, como “Febri Funaná”, “Fome 47”, “Praia Maria”, “Yota Barela”, “Rufon Baré” e “Pomba”, entre dezenas de outras, Codé di Dona emocionou os cabo-verdianos, ao longo de uma meteórica vida artística, com a singularidade das suas melodias e a poesia das suas letras. A composição “Fome 47”, só para citar um exemplo paradigmático, constitui uma imensa referência sobre uma das realidades históricas mais marcantes de Cabo Verde: a estiagem, a fome e a emigração para São Tomé e Príncipe. A imagem da partida do navio “Ana Mafalda” faz parte do imaginário colectivo dos cabo-verdianos, tanto que essa música é entoada, como um hino, pelos seus vários intérpretes.
Codé di Dona era também exímio tocador do acordeão, a concertina, um dos instrumentos referentes do funaná, em parelha com o ferrinho. Nessa qualidade de instrumentista, Codé di Dona gravou dois álbuns: o primeiro, nos anos noventa, em França, e, o segundo mais recentemente, acompanhado dos filhos.
Entretanto, a música de Codé di Dona faz parte da discografia dos Bulimundo, Finaçon, Simentera, Zeca di nha Reinalda, Lura e Mário Lúcio Sousa, entre outros.

"Saudade, amor e amizade são três irmãos" que faziam gemer o seu acordeão, afirmara Codé di Dona numa entrevista à Agência Lusa. Ele assumia-se, humildemente, como um "trabalhador de Cabo Verde, agricultor, pastor e tocador". Reformara-se como guarda-florestal e permaneceu o resto da sua como o “guardador de rebanhos” da sua arte singular.

Natural de Chaminé, concelho de São Domingos, Gregório Vaz, de nome artístico Codé di Dona, viveu sempre na localidade de São Francisco, no mesmo concelho, onde curiosamente nasceu e viveu outro expoente da música cabo-verdiana, Ano Nobo, também já falecido. E é exactamente um dos mestres da música crioula que se calou, deixando Cabo Verde mais pobre e mais triste neste ano acabado de começar.