19 de outubro de 2009
Jornalismo vs culto de personalidade
Esperei para ver em algum jornal on-line, impresso, ou outro fórum qualquer, uma reacção da Universidade Jean Piaget à carta da Presidente da Câmara Municipal de S. Vicente endereçada ao Conselho de Administração da RTC (alguns trechos foram publicados no A Semana on-line): as questões da forma como foram colocadas são por si só subsídios para fundas abordagens sobre o “hábito jornalístico nas ilhas” e, sobretudo, a visão enviesada que alguma classe política cabo-verdiana tem desse metiér. A Universidade Jean Piaget, como a única instituição que se dedica ao ensino do jornalismo neste país, tem por obrigação encarar este desafio. Personalidades como Isaura Gomes estão tão mal habituadas, a ponto de começarem a exigir, sem pejo algum, tratamentos “jornalísticos” especiais, enquanto autoridades. Diante disso, faço o meu legítimo exercício nas alíneas seguintes:
1. As reuniões ordinárias das Câmaras Municipais não merecem ser elevadas à categoria de notícia, porque fazem parte da rotina da equipa camarária que, a priori, sabe-se, foram eleitas também para tomar decisões. Uma cobertura transforma-se num servilismo (que se convencionou tomar por um direito adquirido) para mostrar o quanto trabalham os eleitos municipais.
2. As reuniões de Conselho de Ministros, salvo em raríssimas excepções, alinham-se na mesma normalidade da primeira, por isso, mostrar todas as quintas-feiras os tantos decretos e projectos de lei aprovados e apreciados pelo Governo só serve para cansar os telespectadores e reduzir à completa nulidade o trabalho jornalístico.
3. Nada mais desinteressante do que um ministro, autarca, director-geral, ou presidente de instituto de regresso ao país, que resolve dar uma conferência de imprensa para falar dos encontros, ganhos e acordos efectuados no exterior. E o jornalista que não esteve presente terá ou não motivos para duvidar desses relatos!?
4. Assinatura de acordos, não importa os domínios, é outro assunto que deveria passar ao largo. A quem, a quantos, e de que forma interessa assistir ou ler sobre a assinatura de um acordo para a obtenção de recursos que visam isso ou aquilo?
5. A título de exemplo, a visita de Catarina Furtado a Cabo Verde não é assunto para cobertura jornalística. E a sua apreciação sobre o nosso Programa de Saúde Reprodutiva, seguida da declaração de que “em Cabo Verde estamos melhores” não deveria merecer qualquer destaque jornalístico, por razões óbvias.
6. Todos sabem que a Senhora Presidente da Câmara Municipal de S. Vicente é a autoridade máxima da ilha, mas "exigir" aos jornalistas que não dêem voz off nas peças em que participa, e dispensar atenção especial à sua pessoa, em detrimento dos “inferiores hierárquicos” da ilha é, sem dúvida, das reivindicações mais alucinantes e inadequadas que uma autoridade conseguiu colocar em forma de carta. É caso para perguntar, nestas paragens, quem anda a dar as cartas no jornalismo?!
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6 comentários:
Em relação ao ponto (2),
O próprio parlamento cria canais de televisão em muitos países para que as pessoas interessadas puderem acompanhar.
E,.. há um documento chamado Boletim Oficial para esse efeito.
O problema é, como diz aqui, o estado/governos (centrais e locais dependente se em situação), estão habituados a tais serviçais, e acham normal poderem reclamar o mesmo.
Ma pa frenti ê ki ê caminho..
Um hábito e tanto... das partes, convenhamos.
Há um site que tem tudo sobre Câmaras e Vereadores. Eu me cadastrei e recebo todos os dias notícias. O site é:
www.vereadores.net vale conferir.
Assino, este post, por baixo!
Ainda bem!
Excelente, Margarida Cabo Verde precisa cada vez mais de jornalistas com as tuas qualidades. Estou contigo.
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