7 de janeiro de 2010

Who`s Guilt?

guilt

















2010 já vai no seu sétimo dia, e a capital cabo-verdiana já testemunhou dois assassinatos: o primeiro, ocorrido no passado dia 5, no bar "Voz di Povo", e o segundo caso que teve lugar ontem à noite, em Safende, vitimando um taxista.

Esta manhã, na apresentação de cumprimentos de Ano Novo ao Presidente da República, José Maria Neves disse que “um dos grandes desafios de Cabo Verde, neste momento, tem a ver com a delinquência juvenil e os níveis de violência e de criminalidade resultantes das actuações dos grupos organizados de jovens thugs”.

Na Praia, não se fala em outro assunto: alguma impotência nota-se. O Governo não tem conseguido travar o rumo das coisas. Os muitos discursos e encontros organizados à volta da questão da criminalidade e da violência (inclusive a doméstica) ficam pela cosmética, porque nunca transitam ao plano seguinte: o da acção.

O fenómeno (a complexidade)

Este fenómeno da criminalidade juvenil é transversal à classe social. É um quadro urbano nacional, com maior incidência na cidade da Praia.

As respostas policiais e securitárias, importantes como medidas de acção pontual, não são suficientes para as mudanças estruturais contra o clima da marginalidade e da violência entre os jovens. A situação carece de uma abordagem sociológica mais assertiva, (dizem os entendidos) importando para a cena da análise temas como a moral, os bons costumes e os valores familiares, sem descurar a problemática da liberdade com responsabilidade.

Parece estar a prevalecer a cultura do rebelde e do desordeiro, prevalecente entre grupos de jovens, numa situação que não dispensa o alcoolismo, a toxicodependência e o tráfico de drogas, a par das disputas por espaços de influência nos bairros e na mobilização dos jovens pela cidade.

O transvio dessa juventude exige um olhar de toda a sociedade e através de uma vontade colectiva de instaurarmos a paz e a tranquilidade no convívio social.

4 comentários:

Unknown disse...

Margarida: apenas uma retificação em relação a um texto que concordo na sua (quase) totalidade: o fenonemo da violência urbana não tem incidência apenas na Praia. O quadro actual do que estamos vivendo no Mindelo é MUITO preocupante. Mortes, agressões gratuitas (já nem se pode falar em assaltos, é para magoar mesmo, sem ver a quem), destruição de património individual por pura diversão, guerra generalizada de gangs (ainda ontem me disseram que um dos gangs de zona tem mais de 200 membros, incluindo crianças de 11/12 anos).

Abraço

da caps disse...

Pois é.
Um Sociologo que passei a prezar muito, julgo estar agora na UniCV, fez no início do século, uma abordagem na TV muito interessante sobre esta questão, mas que se por parecer descabido, não sei, não foi levado em conta, pelo menos em termos de combate social à criminalidade.
Entre outros factores que acompanharam o aumento nível de vida "dos cabo-verdianos e das caboverdianas" e que alteraram a forma de educar os filhos, e o nível de exposição dos mesmos a 'perigos' de instabilização, este sociólogo disse qualquer coisa como:
-Nós somos uma sociedade violenta na forma de estar, e não é de hoje. O que mudou foi a forma como essa violência é praticada;
-Há expressões que ganharam destaque na sociedade porque caem naturalmente bem na forma de ser, expressões do tipo "Uipo!!" e outras que mais não significam que o impacto físico.

Nem vou alongar mais.
Se acharem que faz sentido e quiserem saber mais, falem com esse sociólogo que ele é acessível.

Edy disse...

olá miúda,
acho que a "moral",os "bons costumes",os "valores familiares" ou a "liberdade com responsabilidade" não serve de muito à uma análise sociológica do tema e,para ser franco,nem à solução do problema em si.Entendo a perspectivas das pessoas ao levarem estes pontos para o debate: compara-se a moral e os valores da sociedade,aquelas que são consideradas "correctas",com os valores desses jovens que são considerados como não tendo valores.O problema é o contrário: esses jovens têm valores,só que são valores diferentes da maioria que,à vista desses jovens,são considerados dominantes.O problema,que não é so nosso,é que algumas instituições estão a "falhar" na sua tarefa de socialização das crianças e dos jovens: a escola e a familia (alguns sociólogos defendem até que a escola deixou de ser uma instituição).Sendo socializados na rua,em grupos de amigos de rua,o normal é interiorizarem outros valores,os valores próprios do grupo de amigos de rua...tem ainda várias outras explicações que complementam o que acabei de escrever,mas a explicação seria muito longa..como dizes,e bem,estamos perante um fenómeno complexo que tem de ser analisado a nível macro e a nível micro...
bjs

pura eu disse...

Comentários que fornecem luzes interessantes para o debate. Um debate que precisa ser feito sem tabus e com pressupostos práticos... sem desmerecer as reflexões sociológicas.

abraço aos três,

ps: Vou destacar trechos de cada comentário em formato de post, com a vossa permissão.

Margarida