22 de setembro de 2008
J.M. COETZEE, o autor de "Desgraça"
“Perdeste o emprego, o teu nome anda de rastos, os teus amigos evitam-te, escondes-te na Torrance Road como uma tartaruga com medo de meter a cabeça de fora da carapaça. Pessoas que nem aos teus calcanhares chegam dizem piadas a teu respeito. Não tens a camisa passada a ferro, sabe Deus quem te cortou o cabelo. Vais acabar como um desses velhos a remexer os caixotes do lixo.”
É desta forma sentenciada que Rosalind reprova a atitude do ex. marido David Lurie. Um professor universitário da cidade do Cabo que se envolve com uma aluna muito mais jovem. “Desgraça” de M.J. Coetzee é uma intensa narrativa de rendição perante uma viragem existencial, primeiro na vida de David, segundo, numa África do Sul pós apartheid.
A violência perpassa a obra de Coetzee, antes quando o professor se envolve com a jovem e é vilipendiado e expulso da universidade. Ao mudar-se para o campo, refugiando-se de tudo e de todos, presencia outra violência junto da filha Lucy (violações e chantagens) perante uma passividade incompreensível e angustiante desta.
Um livro que fala do absurdo, de sentimentos incontroláveis, da vergonha, da impotência perante a ordem das coisas…de um certo esgotamento colectivo e social. Coetzee nos propõe um romance denso que convida para uma leitura sem linha, nem margem. Do infinito, pois apesar da estrutura do livro, não tem princípio, nem fim...
Dá que pensar: uma obra sublime! De J.M. Coetzee.
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