20 de setembro de 2008
O negro, a história (o cabo-verdiano)
Há duas semanas trouxe para aqui a visão rácica do crítico literário Pires Laranjeira trazida a lume num artigo denominado “O Stock negro na Claridade”. Por uma questão de interesse, que gostaria de compartilhar com todos, resolvi publicar a visão síntese do sociólogo e historiador António Correia e Silva sobre esta questão. Uma outra vertente analítica que nos recorda um bocado a narrativa de Teixeira de Sousa que eventualmente, por caminhos diferentes, deixou laivos disso mesmo no seu livro "Ilhéu de Contenda".
“Gostamos de ser cabo-verdianos”. Não existe neste arquipélago a reinvenção de uma “beleza negra combativa e reactiva”. Isto porque o projecto branco foi derrubado em Cabo Verde. É certo que houve ensaios para reerguer esse projecto: a chegada dos degredados da colónia ao longo do século XVIII, a vinda nos anos 40 dos militares da metrópole para a promoção de casamentos brancos, mas essas tentativas não vingaram.
A elite resiste, sempre: são curiosos os dizeres dos testamentos das famílias brancas, principalmente na Ilha do Fogo, que sentenciavam que “Se casar com homem preto, o que dela não espero, será deserdada”. A resistência à mestiçagem nunca ganha terreno, porque as bases sociais do racismo foram desmontadas (nas representações estéticas e na linguagem), existindo hoje, apenas resquícios de tensões rácicas nestas ilhas.
Numa sociedade escravocrata, segundo Correia e Silva, é de se esperar haver uma negação à condição herdada do esclavagismo, (da humilhação e da diminuição humana a que foi votado o negro). Mas por cá, escasseiam-se os brancos, e a mestiçagem é irreversível, em todos os domínios.
São recorrentes estudos e posições que tentam aproximar o quadro rácico do Brasil ao de Cabo Verde. Situações muito diferentes, afiança Correia e Silva.
Nessa mesma linha (ainda que sob outras premissas) o estudioso tem em curso uma tese que pretende demonstrar o surgimento em Cabo Verde de uma nova África, e nunca um prolongamento da Europa, e muito menos aquela ideia descentrada de "país da morabeza".
fotu: a semana
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