Voltei à Ribeira Grande de Santiago para o início de rodagem de um novo programa. Revisito o Santiago dos anos 1460, no tempo e espaço, e me elucidam, sempre, os depoimentos e pesquisas sobre a relação da ilha mãe com a Costa Africana, e posteriormente com a Europa e as Américas. Apercebi-me em crescente que aqui nasceu a primeira sociedade escravocrata do mundo: na cidade erguida pelos europeus como porto seguro, por onde passaram Vasco da Gama e Cristóvão Colombo nas suas viagens rumo a Índia e as Américas, respectivamente. Na Cidade onde existe a igreja colonial mais antiga do mundo construída em 1495. Verdades incontornáveis e paradoxalmente pouco críveis, tal o obscurantismo a que os nossos manuais (mentalidades, diga-se) nos votaram.
Ocorre-me a reunião de 1994 em Ouidah, Benin, que cria o projecto UNESCO “A Rota do Escravo”, e me quedo incrédula quando fico a saber que afinal Cabo Verde pertence ao Comité Português, em vez de dinamizar uma comissão própria e necessariamente independente. Lê-se em toda a parte que Cabo Verde tem pautado pela ausência nos encontros da UNESCO sobre o tema. Quando todos os países que estiveram envolvidos no comércio transatlântico têm comités próprios desenvolvem pesquisas e iniciativas culturais diversas inscritas nessa interessante rede.
Estamos em crer serem esses interesses prévios e assumidos que um dia irão contribuir para o merecido reconhecimento da Cidade Velha como Património Mundial da UNESCO. Não apenas o regresso do Amistad e as viagens de troca de experiências que, como têm sido feitas, normalmente não resultam…
imagem: António Jorge Delgado
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