31 de março de 2005
Horace Silver: uma lenda criola-americana
O pianista cabo-verdiano/americano, Horace Silver, fundador do hard-bop foi recentemente galardoado com o Grammy Awards dos grandes do jazz. Essa lenda mundial do jazz é filho de cabo-verdiano, natural do Maio. Nos últimos tempos tem sido muito nomeado entre nós, muito devido à necessidade de um reconhecimento à sua figura. O Historiador, António Correia e Silva, por exemplo, é da opinião de que “se impõe um reconhecido à sua figura, não só pelo seu talento, mas também por ser um símbolo da relação histórica entre os Estados Unidos e Cabo Verde”. No momento em que a nação cabo-verdiana se revê, cada vez mais, na sua diáspora, urge um gesto a esse nível. Uma homenagem que também será de um tempo histórico ligado à pesca da baleia, factor impulsionador da emigração cabo-verdiana para os Estados Unidos.
Horace Silver, apesar de ser uma personagem com uma agenda determinada pelo showbizz, não perdeu a ligação à ilha e aos seus ascendentes, como afirmam as suas composições The Capeverdean Blues e Song for My Father. Ou mesmo a carta que escrevera, em 198o, a um primo radicado na ilha do Maio, que conhecera meses antes numa tournée em Portugal. Testemunhos sobre este pianista de dimensão mundial, será um dos momentos do próximo programa Monumentos e Sítios da Televisão de Cabo Verde dedicado à Ilha do Maio.
Tchalé Figueira expõe em Coimbra
O artista plástico cabo-verdiano Tchalé Figueira inaugura sexta-feira em Coimbra, Portugal, uma exposição de pintura, que ficará patente até 1 de Maio na Casa Municipal da Cultura.
Organizada no âmbito da geminação entre as cidades de Mindelo e Coimbra, a exposição reúne perto de meia centena de criações realizadas entre 2003 e este ano, algumas delas de grandes dimensões (2x1,5 metros).
O vereador da cultura da Câmara, citado pela Lusa, define a arte de Tchalé Figueira como resultado de "um permanente desassossego, uma inquietação social… uma arte comprometida, com cariz político e ideológico…”
Essa exposição é para Figueira "o espelho da sua visão sobre o mundo e a sua cidade natal". Um olhar sobre o Carnaval, a música, as pessoas, o quotidiano e as intempéries da vida são os temas que dominam a dita exposição.
Tchalé Figueira nasceu em 1953 na Cidade do Mindelo. É um artista multifacetado, com uma carreira emergente na literatura. Já editou três obras de poesia, tendo ontem lançado na Cidade do Mindelo um livro de ficção, intitulado “Solitário”.
A exposição de Tchalé Figueira dá o mote a um programa cultural de intercâmbio entre a Cidade do Mindelo e Coimbra. No final deste mês vai se deslocar a Coimbra representantes culturais da ilha como o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo, o escritor Germano Almeida e os músicos Baú, Voginha e Vasco Martins.
Salamansa desafia a história
Após 15 dias de escavações começam a surgir os primeiros sinais de presença humana na aldeia pescatória de Salamansa, em S.Vicente, anterior à data historicamente conhecida.
Presume-se que há cerca de 300 ou 400 anos terá havido presença humana nesse sítio.
A grande novidade, que pudemos acompanhar pela TCV, numa reportagem de Eduíno Santos, é o surgimento de uma casa, uma estrutura até hoje totalmente desconhecida. Os arqueólogos que estão a trabalhar na escavação do espaço conseguiram recuperar uma parede de uma casa que deveria ter uma planta rectangular, idêntica a casas que ainda existem em Santo Antão. “Deveremos estar perante o primeiro e mais antigo vestígio da colonização da ilha de S.Vicente que remonta não ao século XVIII, mas ao início do século XVII”, afirma o professor Luís Cardoso.
O Presidente do Instituto Nacional de Investigação e Promoção Cultural (INIPC) Carlos Carvalho, disse que a instituição, em parceria com a Câmara de S.Vicente, vai traçar medidas de protecção da zona.
Os artefactos encontrados, segundo apurou Eduino Santos, serão levados para Portugal para serem datados e estudados.
30 de março de 2005
Marca jesuita na Cidade Velha
A Praça do Pelourinho, na Cidade Velha, foi hoje palco da apresentação do 1º projecto fórum Unesco/Universidade Jean Piaget. A apresentação centrou-se na definição do sítio e da intervenção arqueológica da primeira capela construída em Cabo Verde e do Colégio dos Jesuítas na antiga Ribeira Grande. O Acto contou com a presença da Direcção arqueológica da Universidade de Cambridge. Foi uma viagem aos anos de 1460. Na Cidade terá sido construída a primeira capela dos trópicos. Na área onde se ergueu a capela, existem igualmente vestígios de um colégio jesuíta. Estas e outras verdades vão ser desvendadas através de uma escavação a ser conduzida por Cristopher Evans, da Universidade de Cambridge – Londres, e Constantino Richter do Fórum UNESCO. Este último por estar ligado à Universidade Jean Piaget irá envolver os alunos daquela Instituição no projecto.
O espaço, pelo peso da história que carrega, poderá ser mais um factor impulsionador da inserção da Cidade Velha, em termos práticos, na rota mundial. O terreno a ser escavado por ser privado, terá de ser antes expropriado.
Rep: Rosana Almeida
28 de março de 2005
Manuela Jardim entre nós
Encontra-se em Cabo Verde a artista plástica guineense Manuela Jardim. A artista veio à Praia para contactos com as autoridades da cultura, da educação e da edilidade do Tarrafal, na tentativa de materializar a ideia de expor as suas telas numa exposição temática intitulada “Mar de afectos”, e de promover o seu projecto de pesquisa sobre os panos de terra de Cabo Verde.
Manuela Jardim, 53, nasceu na Bolama, e ali permaneceu com os pais até os 8 anos. Depois disso, quando falece a sua mãe muda-se para Lisboa. Nunca mais regressou ao seu país natal, mas a memória desse passado é patente nas suas obras que numa mistura de cores, interpreta a mestiçagem, e a confusão de momentos que tem sido o continente africano.
Foi em Portugal que decidiu seguir o caminho da arte, muito devido à influência de seus familiares da Madeira (Ilha de seu pai) que gostavam da pintura.
É autora de um selo e de um bloco filatélico comemorativo da visita do Papa a Guiné. No seu currículo contam inúmeras exposições colectivas, em Portugal e no estrangeiro.
Manuela Jardim pretende expor os seus quadros, em Cabo Verde, algures em meados deste ano e no quadro das celebrações do 30º Aniversário da Independência Nacional, que, segundo fontes autorizadas, terá uma forte componente de exposições de artes plásticas e visuais.
Viriato Gonçalves: o cronista da dor
"O Menino do Campo" é o título do segundo livro de Viriato Gonçalves. Um livro de crónicas que versa sobre as experiências e os condicionalismos da vida das pessoas. O livro é também uma viagem indelével aos valores da nossa cultura: um olhar atento às pequenas coisas, pessoas e lugares. Foram precisos, segundo o autor, vários anos para escrever essa obra.
A obra funciona para o autor, como uma forma de exorcizar o passado. “Menino do campo”, segundo Viriato foi uma expressão que desde a infância o acompanha. E este livro, do seu ponto de vista, é apenas uma parte desse mundo. Há outras coisas igualmente interessantes a serem retratadas, a seu ver. A importância da educação; a emigração; as religiões e a intolerância colonial, tudo isso são aspectos interessantes do livro.
Para entrar no âmago da obra de Viriato Gonçalves, talvez seja imperativo ler esse trecho que ele deixa na primeira pessoa numa entrevista concedida à cvmusicworld:
“Eu vivi os meus primeiros 33 anos debaixo de um sistema colonial de opressão e dominação. Sofri na pele toda essa dor. Fui rejeitado na escola da minha ilha e da minha cidade. Acompanhei o drama da minha família. Perdi uma irmãzinha, porque o médico recusou-se a atendê-la. A minha irmã não foi para a escola, porque o meu pai não podia custear os seus estudos na Praia ou em S.Vicente. Vivi ao lado de pessoas que morriam de fome, miséria, doenças e mal nutrição. Disse adeus “aos contratados” no momento de sua partida para as roças de S.Tomé e Príncipe, de onde muitos deles nunca regressaram.”
Viriato Gonçalves considera o seu livro “rico e culturalmente denso”. Os lugares revisitados pela obra são Fogo, Santiago e Brava, mas também retrata pessoas de outras ilhas e suas peculiaridades. Aí reside, portanto, a dimensão da obra, cujo lançamento aguardamos aqui no país.
Viriato Gonçalves é natural da Ilha do Fogo e reside nos Estados Unidos. Em 1987 escreveu “Grito”, um livro de poemas que traduz momentos de frustração da dor e do sofrimento das pessoas. Já participou em três antologias, Odisseia Criola, A Travessia do Atlântico, e uma antologia com poetas brasileiros, cabo-verdianos e açorianos.
A obra funciona para o autor, como uma forma de exorcizar o passado. “Menino do campo”, segundo Viriato foi uma expressão que desde a infância o acompanha. E este livro, do seu ponto de vista, é apenas uma parte desse mundo. Há outras coisas igualmente interessantes a serem retratadas, a seu ver. A importância da educação; a emigração; as religiões e a intolerância colonial, tudo isso são aspectos interessantes do livro.
Para entrar no âmago da obra de Viriato Gonçalves, talvez seja imperativo ler esse trecho que ele deixa na primeira pessoa numa entrevista concedida à cvmusicworld:
“Eu vivi os meus primeiros 33 anos debaixo de um sistema colonial de opressão e dominação. Sofri na pele toda essa dor. Fui rejeitado na escola da minha ilha e da minha cidade. Acompanhei o drama da minha família. Perdi uma irmãzinha, porque o médico recusou-se a atendê-la. A minha irmã não foi para a escola, porque o meu pai não podia custear os seus estudos na Praia ou em S.Vicente. Vivi ao lado de pessoas que morriam de fome, miséria, doenças e mal nutrição. Disse adeus “aos contratados” no momento de sua partida para as roças de S.Tomé e Príncipe, de onde muitos deles nunca regressaram.”
Viriato Gonçalves considera o seu livro “rico e culturalmente denso”. Os lugares revisitados pela obra são Fogo, Santiago e Brava, mas também retrata pessoas de outras ilhas e suas peculiaridades. Aí reside, portanto, a dimensão da obra, cujo lançamento aguardamos aqui no país.
Viriato Gonçalves é natural da Ilha do Fogo e reside nos Estados Unidos. Em 1987 escreveu “Grito”, um livro de poemas que traduz momentos de frustração da dor e do sofrimento das pessoas. Já participou em três antologias, Odisseia Criola, A Travessia do Atlântico, e uma antologia com poetas brasileiros, cabo-verdianos e açorianos.
26 de março de 2005
Africa continua a marcar presença no PercPan
Um colectivo que utiliza instrumentos próprios da República Democrática do Congo e uma banda de hip hop da Tanzânia são as duas atracões africanas do Panorama percursivo Mundial (agora rebatizado Tim PercPan), evento internacional dedicado à percussão que neste ano – seu 12º - acontece na terra natal Salvador e no Rio, Brasil.
Idealizado desde seu início, em 1994, pela socióloga Beth Cayres, o festival será montado nos dias 7 e 8 de Abril no teatro Carlos Gomes, e nos dias 9 e 10/4 no teatro Castro Alves, em Salvador.
Além de artistas brasileiros como Adriana Calcanhoto, Gilberto Gil e outros, o evento conta este ano com as presenças internacionais de Konono Nº1 (Congo), Fanfare Ciorcalia (Romenia), On Fillmore (projecto de Glenn Kotche, do Wilco) e X Plastaz (da Tanzânia).
A curadoria do festival é assinada, além de Cayres, pelo antropólogo Hermano Vianna e pelo jornalista espanhol Carlos Galilea, crítico do "El País".
Participam no Percpan artistas de várias partes do mundo que fazem música não-convencional. Uma premissa que, segundo a organização do evento, “não são músicas para se ter "peninha" e achar boas porque são feitas por gente de países pobres. São músicas boas”.
Dos países africanos de língua oficial portuguesa já participaram no Panorama Percussivo mundial o angolano Don Kikas, a cabo-verdiana Cesária Évora e o grupo guineense Tabanka Djazz.
Com a Folha
25 de março de 2005
Morreu "Nhô Raúl"
Faleceu com 102 anos de idade o tocador de violino, Raúl de Pina. Um exímio músico, natural da Ilha Brava, conhecido dentro e fora do país. Teve 38 filhos, sendo 29 vivos.
Nhô Raúl, apesar de filho de emigrante, viveu sempre em Cabo Verde, entre Brava e Praia. As últimas três décadas passou-as em Cova de Joana na Brava, ao lado da esposa Maria Madalena Gomes de Sena, a quem dedicou o seu único álbum intitulado “Madai”, gravado em 1999.
Tivemos a oportunidade de fazer uma reportagem com Nhô Raul, na Brava, em 2001, durante um casamento de dois jovens italianos da Cidade de Noli que escolheram a zona “Djon da Noli” para o seu enlace. Foi uma festa interessante, porque uma homenagem ao navegador italiano que esteve tanto na Brava como no Fogo, emprestando o seu nome a duas localidades dessas ilhas. Nhô Raúl era a figura central dessa festa, enquanto animador. Em conversa connosco, contava a saudade que sentia da sua juventude em que animava festas durante uma semana a fio. Os seus olhos brilhavam quando falava de Eugénio Tavares, já que era conhecido como “menino da casa de Nhô Eugénio”, figura de quem recebeu uma grande herança lírica. No embalo da conversa ousava até contar alguns episódios românticos da vida do poeta.
Seu percurso...
Raúl de Pina começou a tocar violino com 13 anos de idade por influência da mãe que cantava morna. Diz mesmo que foi a sua mãe que o ensinou a cantar mornas de Boa Vista. “Eu costumava acompanhá-la a cantar”. Foi nesse ambiente que Nhô Raul começou a fabricar violinos que até lhe rendiam algum. Vendia-os por 20$00.
Numa entrevista concedida à Amidjabraba conta como conseguiu o seu primeiro violino moderno. “ Eu ganhei o meu primeiro violino através de um rapaz, cujo pai era capitão”. Nhô Raúl comprou desse jovem um relógio dos Estados Unidos que viera trocar mais tarde por um violino que pertencia ao Sr. Cristiano José Pereira, professor, na altura, em Ponta-abaixo.
Raúl de Pina tinha 17 anos quando veio para Praia. A sua primeira actuação na Capital aconteceu numa festa de boas-vindas que médicos do Hospital da Praia (na altura, apenas 3) resolveram fazer em honra do Dr. Fonseca que acabara de se formar. Nhô Raúl ficou reticente e inseguro com o convite, mas acabou por aceitar o desafio. Foi assim que começou formalmente a tocar em público e a animar bailes por 50 escudos por noite.
Apesar da idade avançada, Raúl de Pina animava bailes até há tempos, sempre na companhia do seu último filho (codé) adolescente.
Com amidjabraba
24 de março de 2005
Ilhéu de Santa Maria: empreendimento "world class" deve ter dimensão cultural
O Ilhéu de Santa Maria – mais conhecido por "Djéu" -, vai receber, este ano, investimentos turísticos chineses, que incluem hotéis, casinos e outras infra-estruturas, num montante superior a 50 milhões de dólares. Este colosso turístico ostentar-se-á vis-a-vis à praia da Gamboa, onde também se planeia o futuro Distrito Financeiro da Praia. Os investimentos serão do grupo chinês de David Chaw, um dos grandes magnatas do jogo, com a maioria dos negócios instalados na Ásia, concretamente em Hong Kong, Macau e Singapura.
Se, do ponto de vista económico mais puro, o interesse de David Chaw deve ser encarado como extremamente positivo, é de se lembrar que, do ponto de vista cultural, paisagístico e ambiental, o projecto exigiria um pouco mais de socialização a nível da opinião pública cabo-verdiana, da edilidade da Praia e dos vários segmentos políticos de Cabo Verde.
Recorde-se que o Ilhéu de Santa Maria foi, durante o século XIX, um porto carvoeiro, na tentativa de se instalar companhias carvoeiras na cidade da Praia, criando uma concorrência (a partir da ideia da complementaridade) ao Porto Grande do Mindelo. Igualmente o Ilhéu se inscreve no imaginário colectivo ligado a alguns ciclos de fome, servindo, por diversos momentos, como espaço de asilo aos indigentes e famintos da cidade. Só por isso, um empreendimento de tal magnitude teria de considerar, em primeira abordagem e a título de sugestão, a edificação de um grande memorial.
Outra componente a se ter em conta seria a paisagística. A configuração da cidade da Praia, sobretudo o recôncavo que faz a baía, tem no Ilhéu de Santa Maria o seu ex-libris natural.
O interesse de David Chaw pelo nosso país, em geral, e pelo Ilhéu de Santa Maria, em particular, parece trazer "outros e mais investimentos”, o que, obviamente, saudamos. Outrossim, não somos daqueles radicais que associam a indústria do jogo apenas à prática de chantagem, do narcotráfico e da prostituição. No âmbito das contrapartidas, sabe-se que o investimento em questão garantirá significativos impulsos financeiros ao sector da Cultura, o que de si é uma valência. Assim, a deslocação do magnata chinês a Cabo Verde, prevista para o mês de Abril, é bem-vinda e merece o apoio de todos os operadores, inclusive os culturais. Todavia, será ocasião oportuna para se demandar a inclusão das preocupações culturais, paisagísticas e ambientais na reformatação do projecto, pois estas não têm preço e transcendem o mais pesado dos investimentos.
23 de março de 2005
Sabina Miranda: Sucesso no Feminino
No mês em que se assinala mais um dia dedicado à mulher, as cabo-verdianas continuam a marcar ponto nas ilhas e na diáspora. Desta feita, a novidade vem dos Estados Unidos e chama-se Sabina Miranda.
Já participou em dois filmes – “Vozes que gritam” e “Destino e Sucesso”. Neste momento está a correr atrás dos seus sonhos e vive em Nova Iorque. Numa entrevista concedida à CVmusicworld a garota do momento disse que está a trabalhar no projecto do seu próprio talk show, onde pretende dar espaço à comunidade cabo-verdiana nos Estados Unidos, que, no seu entender, é ainda pouco conhecida. Ao mesmo tempo prepara-se para uma audição na hollywood.
Os Cabo verdianos não são conhecidos, precisamos difundir a nossa cultura e apresentá-la ao mundo, diz.
Sabina trabalha com a produtora americana John Casablanca’s Modeling and Career e já coordenou na BNT (Boston Neighborhood Television) o programa Video Flava. Recente desempenhou o papel de uma escrava num documentário produzido pela Northern Light que vai ser emitido neste mês no canal História.
Ainda no feminino...
Continuando a falar de vitórias no feminino não poderíamos aqui não referenciar a iniciativa do Ministério da Cultura: “O papel da mulher cabo-verdiana na afirmação da cultura”. Uma mesa redonda, iniciada hoje, que versa sobre os diversos campos de actuação em que as mulheres já se fazem fortemente presentes em Cabo verde, nomeadamente nas letras, na música e no ensino. O acto acontece na Biblioteca Nacional, enquadra-se no âmbito do trigésimo aniversário da independência de Cabo Verde e prolonga-se até Domingo.
Dentre os temas, de realçar a exposição de artes plásticas, artesanato e do livro, a ser inaugurada, hoje, no Palácio da Cultura e a entrega de Diplomas de mérito, no Sábado, aos 10 grupos de Batuque da Praia, na Biblioteca Nacional.
O mega evento encerra-se em alta no auditório Jorge Barbosa com um espectáculo cultural em homenagem às musas. As vozes femininas vão estar no comando: Lena França, Terezinha Araújo, Teté Alinho, Sara Alinho, Batucadeiras de Monteagarra, Arcelinda Barreto, Pedro Moreno, e Mizé Badia.
21 de março de 2005
Torre cultural para a Ilha do Maio
Quem visita o Maio, de lés a lés, fica agradavelmente surpreso com as virtualidades da ilha, apesar da aparente falta de perspectivas, e desolação. Digo isso, porque o Maio, ao contrário da Boa Vista e do Sal, ainda vai a tempo de planear o seu turismo de modo a conciliá-lo às suas especificidades ambientais e humanas.
As praias estão praticamente intactas, a beleza das suas dunas pode competir com as de Boa Vista, a hospitalidade – sua imagem de marca – é insubstituível.
Há quem diga, inclusive, que a ilha da boa música e do bom queijo ainda resguarda os traços e a autenticidade do cabo-verdiano de antanho.
Autenticidade, aliás, que convidou o casal alemão, Sabina e Miguel, a fixar residência no Maio, mais precisamente na zona de Calheta. Sabina ensina francês no Liceu da Vila do Porto Inglês e o seu marido, enquanto artista, trabalha na construção de uma torre de cultura que vai ser o Centro Cultural da Ilha. Esse espaço já ganhou corpo e fica próximo à praia de Calheta mesmo defronte à residência do casal.
A intenção é “promover momentos culturais com artistas e poetas da ilha e de outras paragens” diz a Sabina. Além desse projecto cultural o casal está a trabalhar na recuperação do espaço que envolve a torre, onde antigamente existiam extensas palmeiras que protegiam do sol as mulheres da redondeza, enquanto lavavam roupas.
O casal vive há sete anos no Maio e durante esse período tem dado sinais de muito apego à ilha, patente nos vários projectos que desenvolve a nível educacional e comunitário. Entretanto, vivem preocupados com o futuro do espaço, tendo em conta as consequências de um turismo mal explorado.
“Que turismo para a Ilha do Maio?” tem sido uma questão recorrente entre as autoridades locais e nacionais. Adalberto Silva, deputado da nação e filho da ilha, emerge desta problemática com a ideia de que “o turismo a ser promovido na ilha não poderá ser de massa”. Betú – como prefere ser chamado – é da opinião que se deve aproveitar as peculiaridades da ilha e promover um turismo que traga benefícios e qualidade de vida aos maienses.
17 de março de 2005
O Baleeiro Essex passou por Cabo Verde
Cabo Verde assumiu-se sempre como uma importante placa giratória da navegação atlântica, pois aqui se cruzavam nas viagens de ida e de regresso, a rota da Guiné, a rota do Congo/Angola e a rota do Cabo e aí aportavam à ida os navios do Brasil e os da rota das Índias de Castela. Assim, pela enorme importância geo-estratégica tiveram, a cada tempo, o seu auge, diversos espaços cabo-verdianos:
A Ilha do Maio também se insere nesse roteiro. No livro “No Coração do Mar”, do jornalista e historiador norte americano, Nathaniel Philbrick, existem relatos interessantes da passagem da embarcação Essex pela Ilha do Maio. O navio baleeiro Essex foi atacado em 1820 por um cachalote enfurecido e afundou. Este acontecimento foi tão comentado nos Estados Unidos quanto o naufrágio do Titanic no século XX. O episódio inspirou Herman Melville a escrever sua obra mais conhecida, "Moby Dick". O historiador Nathaniel Philbrick, por sua vez, reconstituiu a história na obra “No coração do mar” em todos os detalhes, apoiado em ampla pesquisa e fontes inéditas. Uma tragédia vivida por pessoas reais – alguns cabo-verdianos, possivelmente.
O Porto da Ilha do Maio é narrado no livro de Philbrick como uma enseada que servia de porto, onde montes pontiagudos de sal branco – obtidos dos largos salgados do interior da ilha – aumentavam a sensação de desolação do cenário…
Os barcos americanos ancoravam no Maio para se abastecerem do Sal, de panos de terra, de frescos e de porcos. Outra curiosidade que confirma o peso histórico das ilhas na rota atlântica.
Ricardo Lima Barros: O eterno capitão da "Ernestina"
Capitão Ricardo Lima Barros nasceu na Praia, Santiago, a 23 de Outubro de 1914. Começou a sua carreira de marinheiro a bordo do barco Nossa Senhora da Areia comandado por um capitão português em 1952. Toda a sua experiência foi ganha enquanto marinheiro no Senegal.
A sua primeira viagem como capitão aconteceu no barco Ernestina – comprado no estado de RI, Providence, pelo cabo-verdiano Henrique Mendes, e que sela, em grande medida, a relação existente hoje entre os Estados Unidos e Cabo Verde. Barros partiu do Porto Grande do Mindelo a 6 de Julho de 1954 rumo à Cidade de Providence, RI, nos Estados Unidos, tendo chegado ao seu destino a 13 de Agosto de 1954. Foi uma viagem de 38 dias com 16 tripulantes e três passageiros. Nos Estados Unidos casou-se com Domingas de Barros.
Regressou a Cabo Verde no comando da Ernestina, numa segunda viagem, deixando RI a 9 de Novembro de 1954 e chegando a Mindelo a 14 de Dezembro de 1954. Esta viagem de 34 dias aconteceu com 16 tripulantes e 4 passageiros.
Em 1955 acabou por emigrar para os Estados Unidos, tendo viajado de avião. Nos Estados Unidos ao lado da esposa, fixou residência em Taunton, MA, e tiveram juntos cinco filhos. Outros familiares de Barros, inclusive um irmão, tiveram a mesma sorte e rasgaram muita água no destino atlântico.
Os donos da Ernestina
Essas pessoas da fotografia ao lado são alguns membros da família Mendes. Henrique Mendes, o famoso comprador da embarcação Ernestina, e sua esposa.
Á esquerda está o seu filho Arnaldo acompanhado do irmão à direita. O último desse grupo a falecer, há poucos anos, foi Arnaldo. Mas aqui em cabo Verde, mais propriamente na Ilha do Fogo, existem ainda muitos testemunhos vivos que podem narrar com peças do imaginário as peripécias dessa histórica ligação entre os Estados Unidos e o nosso país. Felizmina Mendes de 102 anos, uma das filhas de Nhô Henrique, residente em S.Filipe é um exemlo.
Tradução livre do Cape Verdean VoyagesLogbook 1954-1955 Transcripts
16 de março de 2005
Noblesse Oblige
Na sequência da 2ª edição do programa televisivo (TCV), Monumentos e Sítios, sobre o Plateau, da Cidade da Praia, queria agradecer o engajamento e o empenho de todos os participantes. Assim, queria destacar as contribuições valiosas do historiador António Correia e Silva, consultor do programa, do Edil praiense, Felisberto Vieira, do historiador Daniel Pereira e do catedrático Jorge Brito. Assinalaria também o profissionalismo de Jorge Avelino e Zezinho Furtado, respectivamente camara man e montador do programa. Uma palavra de apreço para um sem número de pessoas que, com sinceridade e sentido de apoio, tem acarinhado esta iniciativa. A 3ª edição, do Monumentos e Sítios, versará sobre os Palácios da Cidade da Praia.
Aproveito ainda esta oportunidade para felicitar a minha confrade Matilde Dias, pela 3ª edição, do programa Konbersu Sabi, desta feita sobre o Teatro em Cabo Verde, tema consistente e que tem merecido atenção da nossa opinião pública.
12 de março de 2005
Prémio Sonangol de Literatura
O Concurso para o prémio SONANGOL de literatura acontece este ano, e está aberto a obras inéditas de escritores de Angola, S.Tomé e Cabo Verde. Os interessados podem contactar as Associações dos Escritores desses países e dar entrada à candidatura.
O Prémio SONANGOL de Literatura foi criado em parceria com a Associação dos Escritores Angolanos, há mais de dez anos, com o objectivo de prestigiar os escritores daquele país. Em 1999 foi aberto aos escritores de Cabo Verde e de S. Tomé, passando a ser atribuído de dois em dois anos. Podem concorrer ao prémio obras que se inscrevem nos géneros de poesia e prosa (ficção, colectânea de contos, novelas, romances ou literatura infanto-juvenil). As obras a concorrer devem ser obrigatoriamente assinadas com um pseudónimo, acompanhadas de um envelope fechado contendo os dados completos do autor. O prazo de entrega dos trabalhos decorre de 1 de Janeiro a 1 de Julho. A entrega do GRANDE PRÉMIO acontece a 25 de Fevereiro de cada ano, data em que a Sonangol comemora o seu aniversário. A obra vencedora é lançada em dois actos a contecer, primeiro, em Angola, e, segundo, em Cabo Verde ou S.Tomé.
O vencedor do GRANDE PRÉMIO recebe um prémio pecuniário de vinte mil dólares americanos, mais o valor da publicação da obra, com a tiragem de 1500 exemplares. Além do GRANDE PRÉMIO, existe, ainda, o "PRÉMIO REVELAÇÃO”, com periodicidade anual, destinado exclusivamente a jovens angolanos sem obra publicada.
10 de março de 2005
Centro para Jovens Artistas
Encontra-se em Cabo Verde uma delegação do Centro para Jovens Artistas, dos Estados Unidos, para contactos com os parceiros locais, em particular instituições ligadas à juventude e à cultura, para o incremento da cooperação já iniciada.
O Centro para Jovens artistas é um curso pré-universitário de verão, ligado à Universidade de Wesleyan, no estado americano de Connecticut. O curso intensivo, de cinco semanas, direccionado para estudantes liceais, procura potenciar o talento dos mesmos nas áreas da música, teatro, literatura, cinema e artes visuais. Além de tais áreas, o programa enfatiza a aprendizagem inter-disciplinar, o pensamento crítico e a liderança, aspectos considerados afins para uma boa educação no domínio das artes.
Como em muitos programas educativos americanos, o Centro para Jovens artistas realça o multiculturalismo na sua abordagem didáctica.
Há três anos que jovens cabo-verdianos participam nesse programa, graças a José Monteiro, professor de teatro e cabo-verdiano. Monteiro trabalha no centro de Jovens criadores há cinco anos, e numa das suas viagens a Cabo Verde pôde conferir a potencialidade artística dos jovens locais, e levar uma proposta ao seio do programa. Aqui foi criada uma equipa multidisciplinar, sob a alçada da Secretaria de Estado da Juventude, que trabalha em parceria com a instituição americana.
Neste momento a ideia é abrir essa cooperação para outras ilhas do país. Para já existe a intenção de instalar na Cidade da Praia uma extensão desse curso.
O curso, de 26 de Junho a 30 de Julho, tem lugar na cidade de Middletown, em Connecticut, um estado onde a comunidade cabo-verdiana tem uma forte e secular presença, o que permitirá aos alunos seleccionados conhecer, além de aspectos da vida americana, mais um cenário da nação cabo-verdiana, que é a diversidade da sua diáspora.
8 de março de 2005
Cabo Verde vai ter áreas protegidas
Vão ser criadas em Cabo Verde áreas protegidas nas ilhas do Fogo, Santiago, S.Nicolau, Santo Antão, S.Vicente, santa Luzia, e Boa Vista consoante a sua biodiversidade.
Prevê-se áreas protegidas terrestres e marinhas. Estas últimas vão ser nas ilhas baixas como Santa Luzia e Boa Vista. Das áreas terrestres podemos destacar as ilhas de S.Vicente e do Fogo tidos como os futuros pólos do ecoturismo.
A Direcção Geral do ambiente, responsável directo pelo projecto socializou, hoje, com os parceiros a sua implementação. De observar, por exemplo, o caso de S.Nicolau que reserva uma vegetação inicial da ilhas, em que a degradação ainda não se fazia presente. A intenção é conservar essa riqueza natural, e através dela, preservar o ambiente e promover o turismo.
A implementação do projecto das áreas protegidas é uma componente do PANA II que, por sua vez, respeita os objectivos do milénio, enquanto motor de preservação ambiental e redução da pobreza.
Este projecto avaliado em 6 milhões de contos será implementado numa primeira fase durante 4 anos, e conta com os apoios do governo de cabo verde, do PNUD através do Fundo Global do Ambiente e de outras fontes.
“Os momentos” faz votos para que o projecto ganhe corpo e fôlego, porque só assim poderemos legar algo de bom para os nossos filhos, nestas ilhas que, dia após dia, ganham rugas de degradação ambiental.
7 de março de 2005
Direito e Cidadania
O décimo nono número da Revista “Direito e Cidadania” coordenado pelo Jurisconsulto, Jorge Carlos Fonseca, é lançado hoje, na Biblioteca Nacional, na Praia. O evento que acontece às 18 horas vai ser marcado por uma conferência proferida pelo Jurista, Geraldo Almeida, cujo tema será “A responsabilidade do Estado por actos da Gestão Pública”.
A revista que, a cada lançamento, se reveste como mais um documento jurídico, sócio-político e criminal da vida nacional e internacional, conta, desta feita, maioritariamente com a participação de autores nacionais. Pode-se realçar as participações de Carlos Veiga com o tema “Cabral e a Constituição do Estado em Cabo Verde – Uma apreciação política” e de João Pinto Semedo com o tema “Crime de tráfico de estupefaciente.”
“Subsídio em torno dos direitos de Cidadania na Sociedade de Informação”, de Geraldo Almeida é outro assunto que, pela actualidade, pode ser de forte interesse.
5 de março de 2005
Vergonha Nacional
Esta semana tomei conhecimento de uma situação, no mínimo, chocante. A Associação dos Ganeses em Cabo Verde pretendia limpar as instalações e as imediações da Televisão de Cabo Verde para assinalar o 48º aniversário da independência do seu país – e assim aconteceu. A atitude desse grupo de emigrantes tem sido recorrente. Lembro-me, como se fosse hoje, quando tomaram a mesma iniciativa, em finais do ano passado, de limpar o Hospital Central da Praia e as suas imediações. Na altura, numa entrevista concedida à Comunicação Social, o presidente da referida Associação justificou o acto dizendo que esta é uma forma de mostrarem aos cabo-verdianos que estão dispostos a colaborar positivamente com o nosso país. Na ocasião tivera lugar alguns incidentes desagradáveis, cujas responsabilidades tendia-se a atribuir aos emigrantes da Costa Ocidental da África.
Houve, inclusive, uma manifestação de cidadãos dessa região da África, residentes em Cabo Verde, a exigirem melhores formas de tratamento por parte dos nacionais.
O representante dos ganeses, Tony Parker Danso, disse-me que esta campanha de limpeza é uma forma que encontraram para se aproximarem dos cabo-verdianos que “às vezes os concede tratamento diferenciado” dos demais estrangeiros aqui residentes.
Custa aceitar que nos dias de hoje um grupo de cidadãos estrangeiros se sinta obrigado a esforços a esse nível para provar a sua intenção. Pode-se pensar, como chegou a dizer-me um colega, que foram eles a se oferecerem ao trabalho. Concordo! Mas a questão que se impõe é o porquê dessa proposta. Porque são esses emigrantes negros e nunca brancos que se emprestam a esse acto (louvável, entretanto) para se afirmarem como pessoas de boa índole. Os brancos e nunca pretos têm um tratamento de topo no nosso país. A hora é de equilíbrio… os nossos emigrantes lá fora que o digam.
Num à parte, a título de convite, informar que manhã, Domingo, a referida associação, ainda no âmbito do aniversário da independência de Gana, promove, no Palácio da Cultura, na Cidade da Praia, uma exposição de artes e gastronomia, seguida de uma palestra subordinada ao tema “Gana, ontem e hoje”.
Houve, inclusive, uma manifestação de cidadãos dessa região da África, residentes em Cabo Verde, a exigirem melhores formas de tratamento por parte dos nacionais.
O representante dos ganeses, Tony Parker Danso, disse-me que esta campanha de limpeza é uma forma que encontraram para se aproximarem dos cabo-verdianos que “às vezes os concede tratamento diferenciado” dos demais estrangeiros aqui residentes.
Custa aceitar que nos dias de hoje um grupo de cidadãos estrangeiros se sinta obrigado a esforços a esse nível para provar a sua intenção. Pode-se pensar, como chegou a dizer-me um colega, que foram eles a se oferecerem ao trabalho. Concordo! Mas a questão que se impõe é o porquê dessa proposta. Porque são esses emigrantes negros e nunca brancos que se emprestam a esse acto (louvável, entretanto) para se afirmarem como pessoas de boa índole. Os brancos e nunca pretos têm um tratamento de topo no nosso país. A hora é de equilíbrio… os nossos emigrantes lá fora que o digam.
Num à parte, a título de convite, informar que manhã, Domingo, a referida associação, ainda no âmbito do aniversário da independência de Gana, promove, no Palácio da Cultura, na Cidade da Praia, uma exposição de artes e gastronomia, seguida de uma palestra subordinada ao tema “Gana, ontem e hoje”.
3 de março de 2005
“Morabeza Records é história”
Nota: Morabeza Records é referenciada no jornal Le Monde como uma defensora da cultura cabo-verdiana num passado recente da nossa história… Tomamos a liberdade de fazer uma tradução livre da matéria feita por Patrick Labesse, enviado especial do jornal a partir destas ilhas.
Uma Guerra pela Identidade... é isso que defendia Djunga D'Biluca ao fundar Morabeza Records no ano de 1960, por outras motivações que não comerciais. Nascido em S.Vicente a 1929, Djunga D'Biluca emigrou para Dakar, seguido de Holanda, em 1958, onde chegou a ser coordenador do PAIGC, criado dois anos antes por Amílcar Cabral e outros filhos da Guiné e Cabo Verde engajados na luta contra o colonialismo.
"A ideia de Morabeza, surgiu da necessidade de restituir a identidade cultural cabo-verdiana e ajudar na sua divulgação na diáspora”, conta Djunga D'Biluca. “Amílcar Cabral dizia : Independência sem cultura não tem valor. A música deve ser uma arma”. E Morabeza foi uma forma de resistência cultural, um meio de «reafirmar a identidade do povo».
Aquando da independência, a maior parte dos países africanos foram libertos, pelo menos, na vertente cultural. No Senegal, por exemplo, vizinho de Cabo Verde, o presidente Senghor pediu em 1960 ao percussionista Doudou N'Diaye Rose que africanizasse o seu trabalho!
Na sua criação em 1965, Morabeza Records foi a expressão das reivindicações identitárias dos cabo-verdianos. Certos discos, para escapar à censura da PIDE, a polícia política portuguesa, circulavam às escondidas. O selo editou os dois primeiros tours da história da música cabo-verdiana (Caboverdeanos na Holanda e Os Verdeanos) e os álbuns de Voz de Cabo Verde, o primeiro grupo de músicos originários de Cabo Verde.
Morabeza Records assinou ainda as produções do angolano Bonga. Um irmão. Já que também foi exilado em Rotterdam e combateu para a independência do seu país. O cantor se apresentava como «um angolano que toca a música revolucionária de Angola.
Três anos após a independência, em 1978, a produtora afrouxou o ritmo das suas actividades. Djunga D'Biluca abre um consulado de Cabo Verde nos Países Baixos e se rende às suas novas funções diplomáticas até 1990.
A caminhada da Produtora se resume a 45 álbuns editados. "É uma história que deve continuar como começou e contribuir para o crescimento do património cultural nacional”, declarou Djunga D'Biluca. Ele confiou a chave desta pequena empresa ao seu sobrinho, Elísio Lopes.
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