31 de março de 2009
Falar da música...
Está aí uma ideia super interessante: uma parceria entre o Kriol Jazz Festival (Harmonia) e a Universidade de Cabo Verde para a realização de ciclos de conversa entre alguns artistas e o público, no decorrer do festival. No dia 1 de Abril, 18:30, quarta-feira, no auditório da UNICV, os cubanos Jorge Reyes, Changuito, e EL Panga Ramos dão o ponta pé de saída.
No dia 4, às 15:30, simplesmente Lenine (foto): uma oportunidade impar de ouvirmos esse nome incontornável da música brasileira, (de origem pernambucana). Um artista que percebeu que em cada ritmo existe um argumento de reflexão. "Reflectir sobre o que me rodeia sempre foi minha meta", diz. "Pop e samba, rock e maracatu brasileiro, o popular e o erudito, o analógico e o digital, são tudo ferramentas que eu uso."
Sábado, 5 de Abril, termina o ciclo com Mário Canongue. Uma oportunidade, quiçá, de nos despirmos dos nossos preconceitos em relação ao zouk, por que não?!, e perceber, que, afinal, esse ritmo tão mal tratado cá dentro, pode, perfeitamente, dialogar com o jazz.
Ode ao mar
Se não vejo o mar
sinto falta de ti,
e do sol que nos une,
sinto falta da vida
contigo junto.
pura eu
29 de março de 2009
Felicidade, cadê?
Queridas e caros amigos!
Cá está um pequenino texto que vale a pena ser lido. Gostei e recomendo. Sinto, despretensiosamente, dar prova de amizade transmitir o seu pensamento. Que a qualquer um, dá gosto saber haver gente que pensa bem… (GL)
"Não tenho filhos e tremo só de pensar. Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades. Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar da benesse, não levam vidas descansadas. Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos. Percebo porquê.
Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço, da posição social e da fortuna familiar. Hoje, não. A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro, lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército de professores, explicadores educadores e psicólogos, como se a criança fosse um potro de competição.
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a via não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.
Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos.
A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"
autor: João Pereira Coutinho, jornalista.
via: e-mail
27 de março de 2009
Freedom and art
as peças
o puzzle ...
a forma
It´s a matter of time.
Recuerdos
Apetece-me pronunciar esta palavra quando oiço Guilherme Arantes… por razões indecifráveis, ele cantou os meus poucos hinos existenciais.
Kriol Jazz
O Kriol Jazz Festival realiza-se na cidade da Praia de 3 a 5 de Abril, na Praça António Lereno, Plateau, que vai se transformar numa sala de concertos ao ar livre – delimitada para os que querem pagar bilhete para assistir aos concertos sentados, e livre para quem quer assistir gratuitamente, da parte de fora.
O festival reúne nomes do cenário musical cabo-verdiano a artistas dos dois lados do planeta: Brasil, Cuba e Martinica, dos lados das Américas, ilha da Reunião e Madagasgar, na parte mais oriental, com a Guiné-Conacri a representar África continental.
Tudo isso no meio do Atlântico, na encruzilhada que é Cabo Verde.
Programa:
Dia 3 de Abril: Tcheka; Meddy Gerville; grupo Ba Cissoko
Dia 4 de Abril: Mário Lúcio; Lenine; Mário Canonge e Ralph Thamar
Dia 5 de Abril: Bau e Voginha, Regis Gizavo; Jorge Reyes, El Panga Ramos e Changuito no "Tributo a Cachao"
fonte: kriol djazz: da assessoria
MULHERES 1
As parcas
mulheres vestidas de negro
nenhuma pode amar
só uma sabe fiar
só uma pode cortar
As bruxas
especialistas em ervas e ungentos
detestam cruzes e crianças
adoram o gato, sabem voar
As sereias
mulheres – peixes azuis
um beijo pode cegar
dois beijos podem matar
As noivas
jovens trajadas de branco
as que bebem vão ao bar
as que fumam desenham
circunferências no ar
As virgens
odeiam a terra, vivem no mar
algumas não cantam, dão azar
outras são boas para dançar
nota pura: mulheres, segundo Arménio Vieira
26 de março de 2009
Mulher!
Mulher! Quando o céu da tua boca
Arrasta o corpo da terra
Até à goela da água longínqua
A febre conta no arco-íris
Da carne que sangra
A montanha roída dos dentes…
E da cicatriz da mão
Brotam raízes
Que vicejam a memória dos séculos
poema: corsino fortes
imagem: picasso
nota pura: uma homenagem do poeta às violas dos nossos corações e ao chão que nos suporta: amanhã é 27 de Março, dia da mulher cabo-verdiana
24 de março de 2009
Mais cinema
“Não quis fazer o que todos fazem: levar soluções aos africanos e dizer-lhes que nós, os ocidentais, vamos ajudá-los a superar a pobreza. A situação é forçosamente aquela, há que saber aproveitá-la.”
Numa certa perspectiva, essa visão confrontada sobre a pobreza e o sofrimento, poderia ser condenável, se o autor dessas palavras não tivesse demonstrado de forma desafiante o (s) significado (s) da sua colocação. Quando o artista belga Renzo Martens partiu para Congo para realizar, durante dois anos, Episode III: Enjoy Poverty (2008), tinha em mente isso mesmo: fazer um filme que explorasse “a estrutura montada” do maior produto de exportação africano: a pobreza e o sofrimento humano. Um “empreendimento desumano” perfeitamente naturalizado e explorado por muitos, menos pelos pobres.
Os jornalistas que vão em busca de furos de reportagem nos campos de refugiados, as organizações humanitárias, as grandes empresas ocidentais que exploram os recursos naturais (nesse caso, o ouro congolês), quando os trabalhadores dessas mesmas minas vivem abaixo do limiar da pobreza, os fotógrafos especializados em ângulos da desgraça, etc. Renzo entra no quotidiano, está na aldeia; nos casebres, convive e até se mostra no filme. “Porque não aproveitam a vossa pobreza?” Tentem encontrar os melhores ângulos fotográficos dos vossos casebres, das crianças desnutridas, da face da mulher violada” .
O banco mundial e a “monetarização” do país; a política e os políticos; nós, os outros, e uma pobreza intacta e virulenta. Nada escapa a Renzo…
Episode III: Enjoy Poverty mereceu uma menção honrosa do júri do Infinity Festival, e “despoletou muito debate no concurso para a premiação”. É que o realizador, sendo um artista, (escultor) não está necessariamente ligado a fórmulas fílmicas, assume papéis, interage com o espectador, algumas vezes de modo irónico, mas perfeitamente assumido enquanto proposta intelectual.
O filme é parte de uma tríade que começou com Episode I, emergency food distribution and the role of the cameras (Kenia, 2002) e vai fechar em síntese. Poderia ser apenas mais um documentário sobre a desgraça humana, mas Episode III, para Renzo, é arte. Foi exibido inicialmente em museus, em vez de salas de cinema, e o seu autor recebeu grandes elogios, e duras críticas (que oscilam da genialidade ao cinismo) pela sua provocação. Renzo Martens é belga, mas vive e trabalha na Holanda.
Nota
A TCV, numa parceria com o Alba Film Festival, irá oportunamente apresentar um documentário sobre tendências e linguagens contemporâneas do cinema, com participação de realizadores e críticos de cinema como Marco Ponti, Bruno Fornara, Maurizio Porro e Renzo Martens.
foto1: placa do filme
foto2: Renzo Martens e "pura eu", clicados por Claúdio Matráxia
20 de março de 2009
Momentos
“Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da vida, claro que tive momentos de alegria.
Mas se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.”
foto: van gogh
texto: jorge luis borges
A invenção da beleza no Cinema
"Hollywood não existe", a afirmação é do realizador italiano, Marco Ponti - foto. Tal como Hollywood, também se trata de invenção fílmica a Roma de “La Dolce Vita” de Federico Fellini. Hollywood é um conceito que existe, porque existem pessoas que o procuram, afiança. Quando se chega em Los Angeles, seguindo o juízo de Conti, visita-se uma rua chamada Hollywood Bolevard, e lê-se a escritura da grande colina, e é tudo. Os filmes são rodados longe dali, e os astros não estão nos cafés da cidade... exemplos que ilustram a dimensão da invenção no cinema.
Nessa linha de invenção, de um outro modo, também se enquadram os mafiosos ítalo - americanos que passaram a se vestir e a se comportarem como os mafiosos do filme de Copolla, “O Padrinho”, o mesmo se sucedeu com os mafiosos cubanos em Miami, depois do filme “Scarface”. De caso em caso, o realizador foi pontuando a sua lição de cinema no terceiro dia da oitava edição do Infinity Festival, comumente denominado Alba Film Festival. O certame decorre na Cidade de Alba, região de Piemonte, Itália, de 17 a 22 de Março.
Falar da escrita para a imagem, e a invenção da beleza não parece tarefa fácil, numa abordagem em que o desafio começa por criar o que não existe, e onde o conceito de beleza é a um tempo necessário e ambíguo. “Como contar uma história bruta de forma bela?”, eis o desafio. Um desafio que parte do realizador, da sua colocação estética e da sua “simplicidade de intenção”. Uma construção que deve provocar sensação de presença, a isso se chama potência fílmica, e finalmente beleza. E quando as tais ambigüidades chegam como sensações; quando se inventa com simplicidade e se construi uma história com imagens e uma atmosfera de modo convincente, é-se perante um belo filme.
Para mim, o exemplo mais forte disso são os filmes de Quentin Tarantino: pensar no sangue exposto, na violência bruta, em choques estridentes, e na psicopatia como retrato de grande beleza cinematográfica é uma eterna rememoração.
Marco Ponti vive e trabalha com cinema em Los Angeles, e tem duas longas metragens. Participa no Festival como presidente de júri para a premiação dos filmes em concurso.
Melodrama
Um festival apaixonado é como se denomina o Infinity Festival deste ano que reservou uma atenção especial ao cinema melodramático, sob o lema “Paixão”, e rende uma brava homenagem ao realizador americano John M. Stahl, considerado o pai desse gênero.
13 de março de 2009
Intermezzo
nota pura: os momentos "ausenta-se" por 10 dias… mas não deixa de nos fazer aquela visita. Afinal...
As dores de Laila
"Quando saíam juntos, ele ia andando ao seu lado, segurando-a pelo braço com uma das mãos. Para Laila, estar na rua tinha se tornado um exercício para evitar se machucar. Seus olhos ainda tentavam se acostumar à visibilidade limitada pela telinha da burqa e seu pés ainda se atrapalhavam com a borda daquele traje comprido. Ia andando, sempre com medo de tropeçar e cair, de quebrar o tornozelo ao pisar num buraco qualquer. Mesmo assim o anonimato que a burqa lhe proporcionava não deixava de ser confortável. Se por acaso encontrasse conhecidos, ninguém saberia que era ela. Não precisaria aguentar a surpresa estampada em seus olhos, nem a piedade ou a alegria deles ao ver a que ponto ela tinha chegado, como as suas elevadas aspirações tinham desmoronado."
In: A cidade do sol, Khaled Husseini
12 de março de 2009
A chegada da poesia
Mário Quintana dizia que poesia não serve para nada; ou será Gullar? Os meus amigos brasileiros que me corrijam, se relevante acharem essa minha distracção. Mas quando atravesso um poeta como Pablo Neruda, percebo a razão da distracção. Devemos, sim, aos poetas essa apaziguada herança dos dias: infinita e anabalável.
Esperemos
Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.
nota pura: esperamos, ela chega e parte, mas volta com "os dias que virão"
Vida com história
O Museu Cabo-verdiano, situado em East Providente, Estado de Rhode Island, nos Estados Unidos, vai ser reaberto no dia 17 de Março, e estará à disposição do público às Terças, Quintas e Sábados.
O seu espólio foi actualizado com novos artefactos, fotografias, mapas e livros relacionados com a história de Cabo Verde, a emigração cabo-verdiana e a própria Independência.
Outra componente do Museu, é a valorização do contributo dos primeiros cabo-verdianos que pisaram as terras do tio Sam: mostrando os tipos de trabalham que faziam, como embarcavam e desembarcavam, e o seu percurso. Essa demonstração é feita basicamente por fotos e objectos.
A música antiga cabo-verdiana nos Estados Unidos, os nossos atletas, inclusive alguns que participaram nas Olimpíadas, está tudo lá… uma história rica que merece ser revisitada e melhor explorada.
nota: sobre Ernestina,(foto) a embarcação que é parte dessa história, ler aqui
fonte: nota do museu
11 de março de 2009
Morrer lentamente
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um feito muito maior que o simples fato de respirar. Somente a ardente paciência fará com que conquistemos uma esplêndida felicidade.
nota pura: neruda viveu conhecendo as tentações da morte lenta, mas resistiu até o infinito com os mares e os sinos ... com poesia, resistiu.
10 de março de 2009
Fesman em movimento
Abdias Nascimento,(foto) artista plástico, escritor, poeta, dramaturgo e activista pela causa negra, foi condecorado pelo presidente senegalês, Abdulay Wade, com o diploma de Embaixador da Boa Vontade do FESMAN, Festival Mundial das Artes Negras. Abdias fundou em 1944 o Teatro Experimental do negro no Rio de Janeiro; viveu no exílio (1968-1981), foi pan-africanista; é autor de dezenas de obras sobre o racismo no Brasil, e várias peças de teatro de matriz cultural negra. Prof. Abdias, como é tratado, está sendo indicado para o Prémio Nobel da Paz pelo Instituto de Advocacia Racial e Ambiental.
A 2ª reunião do Comité Internacional de Orientação do evento, que aconteceu na semana passada em Dakar, serviu ainda para estabelecer em regime definitivo as datas do certame: 1 a 14 de Dezembro de 2009.
O governo senegalês já trabalha na estrutura do IIIº FESMAN. O evento acontece num espaço de 40 mil metros quadrados na capital senegalesa, onde serão construídos várias salas de espectáculos, palcos e tendas para receber os 5 mil artistas convidados. Novos prédios estão a ser erguidos, e cerca de 800 técnicos formados para responder às exigências do certame.
A Organização espera cerca de 50 mil convidados estrangeiros, sem contar com o envolvimento de cerca de 1 milhão e meio de nacionais.
O Festival terá um avant prémier a 25 de Maio em Salvador da Bahia, Brasil.
Wade soma e segue
Consta que o presidente senegalês foi o único Chefe de Estado a marcar presença no funeral do seu falecido homólogo, Nino Vieira. Uma atitude, a todos os títulos, irrepreensível.
com Palmares: co-organizadora do FESMAN
Andar per film… a Álba
O Festival de Cinema de Alba, na Itália, homenageia este ano o realizador John M. Stahl, (1886-1950) aquele que foi considerado o maior realizador melodramático da Hollywood no período que compreende o início dos anos 30 e o fim dos anos 40 do século XX. A edição deste ano, a 8ª, acontece sob o signo da Paixão, e achou justo prestar uma pequena homenagem “a um autor muito conhecido, mas definitivamente pouco visto”.
Quatro filmes do autor, elencados numa sucessão cronológica, vão ser alvos de uma ampla reflexão no sentido de se conhecer a fundo o seu trabalho. (Back Street) melodrama no feminino com Irene Dunne; (One Yesterday, 1933), história de amor: (Imitation of life, 1934 - foto 2-) e (Magnificent Obsession, 1935 - foto 1-).
O Festival de Alba terá uma outra janela denominada They Have a Dream
No ano em que Obama chega à presidência dos Estados Unidos e num período de crise acentuada, o Festival decidiu tomar o pulso da história e reflectir sobre as diferenças entre dois países, duas culturas, dois tipos de cinema, duas formas diferentes de paixão civil. Sabe-se que o impulso para se contar uma história nasce de uma experiência difusa que atravessa os povos. Por essa premissa, o Festival decidiu confrontar as nuances da paixão civil e política em Itália com aquelas dos Estados Unidos: seis filmes, três americanos e três italianos, para compreender as convergências, as ausências de uma e/ou outra realidade, as especificidades identitárias, as ideias (ou a falta delas) e os símbolos.
Este percurso será feito por dois encontros-debates entre os diversos participantes do certame: um primeiro que apresentará argumentos do ponto de vista cinematográfico e um segundo que será de carácter político-jornalístico.
O Festival que acontece entre 17 e 22 de Março comporta ainda concursos de filmes documentais e de ficção, workshops com críticos de cinema (Maurizio Porro) e realizadores italianos (Marco Ponti e Guido Chiesa).
De frisar, que o Festival de Cinema de Alba foi fundado por Padre Octávio Fasano, missionário capuchinho residente na Ilha do Fogo: este certame que acontece anualmente em Piemonte, Cidade de Alba, virá provavelmente a partir do próximo ano para Cabo Verde, passando a ter, assim, dois palcos.
9 de março de 2009
Maiu na kapital
1. A Cidade da Praia estará mergulhada, dentro de dias, num turbilhão de acontecimentos: todos de cariz cultural e de grande relevância. A primeira grande nota vai para a exibição do filme ALIKER de Guy Deslauriers, no Centro Cultural Francês da Praia, marcada para o dia 20 de Março. Quem se deslocar ao local, terá a oportunidade de conversar com o realizador e o protagonista filme Stomy Bugsy (na foto), rappeur e actor francês de origem cabo-verdiana.
No dia 21, Stomy actua na Cidade da Praia com o seu grupo La MC Malcriado: um dos selos desse grupo francês cabo-verdiano, surgido em 1998, é o resgate de conhecidas músicas crioulas numa versão mixada de textos e ritmos.
2. O ano internacional de Darwin será assinalado em grande na Capital cabo-verdiana. De referir que a Cidade da Praia, foi o primeiro ponto da viagem de 5 anos de Charles Darwin para as suas pesquisas naturalistas que viriam resultar no seu trabalho científico incontornável: “A origem das Espécies”. A Câmara Municipal da Praia, em parceria com a Universidade de Cabo Verde, decidiram não deixar passar em branco mais uma data que comprova a relevância histórica destas ilhas. O programa comemorativo vai ser conhecido no dia 19 de Março. Das actividades, constam uma série de palestras, exposições e concursos Inter-Liceus. O ponto alto, que acontece a 3 de Julho, será a inauguração de parte da Exposição sobre Charles Darwin que tem corrido o mundo, e o lançamento de uma brochura do extracto do Diário de Beagle referente a Cabo Verde.
MariAzul
vai
catando
migalhas
Maria!
pedrinhas de ladrilhar
semínimas
furando
o sonho
uma luz
de não negar
Vai
de pé com o infinito
Maria
nobreza sem espaldar
com as mãos
oferece a terra
sorrindo
oferece o mar
Nem pense
verter
Maria...
Um rio sem foz
Um acorde
acordará
o ar
chorar
Uma cachoeira
Nas pedras do soluçar
nota pura: teria que recebê-las de uma flôr para até aqui trazê-las … é quando dos dias deixamos de duvidar para em paz perseguirmos a certeza dos momentos. Nem pense verter Maria... Um rio sem foz, suplicou o poema
6 de março de 2009
QUADROS 2
POEMA DE NZÉ DE SANT’ Y ÁGU
Indiferente observo
a veemência dos insultos
nas pelejas das comborças
inundando o sôfrego silêncio
das tardes dos subúrbios
Impotente assisto
ao regular faiscar das navalhas
na vaidade das feiras semanais
e na euforia das festas de são salvador do mundo
Impávido perscruto
o arquitectado duelo de palavras
atiçando a sensualidade das suladas
sobre as ancas largas das moças do interior
refulgindo nas alegres incursões aos fontenários
na eloquente solenidade das procissões e das missas cantadas
e no burburinho das festas de romaria e dos santos padroeiros
Sorridente comovo-me
com o terno sossego
das mães-de-filho
e enternecido lacrimejo
com o apaziguado júbilo
da amamentação
nas festas do sétimo dia
de guarda-cabeça
dos filhos primogénitos
Lisboa, Janeiro de 2009
José Luís Hopffer C. Almada
a veemência dos insultos
nas pelejas das comborças
inundando o sôfrego silêncio
das tardes dos subúrbios
Impotente assisto
ao regular faiscar das navalhas
na vaidade das feiras semanais
e na euforia das festas de são salvador do mundo
Impávido perscruto
o arquitectado duelo de palavras
atiçando a sensualidade das suladas
sobre as ancas largas das moças do interior
refulgindo nas alegres incursões aos fontenários
na eloquente solenidade das procissões e das missas cantadas
e no burburinho das festas de romaria e dos santos padroeiros
Sorridente comovo-me
com o terno sossego
das mães-de-filho
e enternecido lacrimejo
com o apaziguado júbilo
da amamentação
nas festas do sétimo dia
de guarda-cabeça
dos filhos primogénitos
Lisboa, Janeiro de 2009
José Luís Hopffer C. Almada
4 de março de 2009
Fesman a caminho
Decorre desde ontem em Dakar, Senegal, e termina hoje uma reunião do Comité Internacional de Orientação do III Festival Mundial de Artes Negras, FESMAN. Esse evento será realizado de 1 a 21 de Dezembro sob o lema Renascimento Africano em sítios emblemáticos do Senegal, e com alguns palcos em Cabo Verde. O encontro de Dakar foi aberto pelo Presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, que na ocasião disse que, «L’heure de l’histoire vraie est arrivée pour que les pays d’Afrique continuent à lutter contre toute domination.» Afirmou mesmo que «le Fesman est l’arme la meilleure pour fortifier la foi en l’unité africaine».
Na reunião marcam presença figuras dos 80 países participantes do festival, com destaque para os representantes do Brasil, o Ministro da Cultura, Juca Ferreira, e o Presidente da Fundação Palmares, Zulu Araújo. De realçar, que só do Brasil vão participar 300 artistas das mais diversas áreas. Os nomes ainda não foram divulgados, mas Gilberto Gil é presença incontornável. Inicialmente, de outras paragens, falou-se, por exemplo, em figuras como Wynton Marsalis e Stevie Wonder.
De Cabo Verde, o Ministro da Cultura enviou um representante para a reunião preparatória, o historiador Charles Akibodé. Como se referiu no início, Cabo Verde se disponibilizou a receber alguns palcos do FESMAN. O Ministro da Cultura do Senegal encabeçou uma comissão que se deslocou expressamente em Junho do ano passado para fazer esse convite a Manuel Veiga: o seu homólogo aceitou o repto.
Quatro redes de satélites vão percorrer o mundo inteiro mostrando toda a programação, que será transmitida em cinco idiomas: inglês, francês, espanhol, português e árabe.
O Fesman é a o maior encontro das artes e da cultura negra, fundado na década de 60 por Léopold Sédar Senghor, ex. Presidente do Senegal. A segunda edição aconteceu na Nigéria em 1977.
3 de março de 2009
A Canção da Vida
A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...
A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:
Como eu sou bela
amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...
(Como a vida é bela! como a vida é louca!)
Mário Quintana
2 de março de 2009
O Colunista, a África Negra e Nino Vieira
Nino Vieira e Amilcar Cabral nas matas da Guiné
Sempre apreciei cronistas com capacidade de tematizar, indivíduos que escrevem sobre temas de interesse que muitas vezes estão lá, sem ninguém dar por eles; e acho mesmo que esses são uma mais valia para qualquer jornal, porque complementam, em vez de estar a repisar em factos da actualidade que merecem, como não podia deixar de ser, tratamento jornalístico pelo órgão.
Escrevo a propósito do último artigo de Onésimo Silveira no Jornal A Semana intitulado "O poder político africano". Um texto bastante elucidativo, e que ganha mais força hoje com o assassinato do Presidente da Guiné Bissau, João Bernardo "Nino" Vieira.
Escrevo a propósito do último artigo de Onésimo Silveira no Jornal A Semana intitulado "O poder político africano". Um texto bastante elucidativo, e que ganha mais força hoje com o assassinato do Presidente da Guiné Bissau, João Bernardo "Nino" Vieira.
Com um rasgo didáctico que lhe é peculiar, Silveira começou por definir Poder em duas frentes, primeiro como “arte de comandar a natureza”, e finalmente “a arte de comandar os homens”; num percurso evolutivo e dialéctico pontua o surgimento das bases do poder político, depois a configuração jurídico-legal do exercício do poder nas sociedades modernas. “A fonte do Poder é a lei e a ela ficam sujeitos tanto os que prestam obediência como os que mandam”, escreve.
Caracteriza extensivamente o estado moderno, na sua composição institucional, e discorre sobre as faculdades do poder político desse sistema de estado.
Tudo isso, diz Onésimo Silveira, é uma herança que o ocidente partilhou com a África “num quadro de alienação quase completa dos valores de cultura e de civilização africanos dentro do qual podemos realçar os conceitos de poder político genuinamente africano, que serviu de força motora aos impérios e reinos africanos”.
Várias décadas depois da independência, muitos países africanos continuam mergulhados em instabilidade, o que, segundo Silveira, revela o desencontro entre “a sociedade africana de raiz tradicional” e o novo sistema de governo de “perfil ocidental”.
Sem querer pontuar exaustivamente o artigo de Silveira, sublinharia uma expressão como esta: “a falta de convergência entre Direito e Estado acaba por legitimar interferências particulares que minam a soberania da lei”.
Onésimo Silveira não atribui como causa de todos os males africanos esse transplante mal sucedido, pondera criticamente sobre ele. Pondera também sobre as bases da nação que foram completamente ignoradas pelos colonizadores, que nunca encararam seriamente as estruturas socioculturais tradicionais africanas; pondera ainda sobre as precariedades institucionais, sobre o esvaziamento dos mecanismos clássicos de governação, sobre uma “massa crítica acanhada” e “uma cidadania anémica”.
À guisa de conclusão, Onésimo é peremptório: “À medida que a África negra se distancia da independência, ou seja, da era colonial, é penoso constatar que ela se encontra ainda bipartida entre os fundamentos da tradição e as aspirações à modernidade. A convergência entre Direito e Estado parece estar ainda bem longe de acontecer; O processo de integração nacional está virtualmente parado no tempo”.
Os assassinatos ocorridos, ontem, na Guiné Bissau, do general Tagmeh Na Waieh e de João Bernardo "Nino" Viera confirmam, em toda a linha, as análises de Onésimo Silveira. E mais, o anúncio feito pelo Estado Maior das Forças Armadas de que “o exército irá garantir a ordem constitucional no país” é prova inequívoca de tudo aquilo que escreveu o Colunista.
Uma vida a morrer
O texto de Onésimo Silveira fala da África Negra, e fala indiscutivelmente de uma figura como Nino Vieira (69). Um nome indissociado ao percurso do Estado soberano Guiné Bissau: Foi combatente da Liberdade da Pátria, onde ganhou o seu nome de guerra “Nino”; foi eleito Primeiro-Ministro em 1978 e chegou à presidência do seu país em 1980, através de um Golpe de Estado que derrubou Luís Cabral, e ditou a cisão do PAIGC.
Com a democratização da Guiné Bissau, Nino Vieira ressurge na arena política e, depois de uma disputa renhida com Kumba Ialá (1994), e uma segunda volta nas urnas, torna-se no primeiro Chefe de Estado democraticamente eleito na Guiné Bissau. Em 1998 devido a uma tentativa de golpe contra o governo, Guiné Bissau vive o seu pior momento; uma guerra sangrenta entre facções pró Nino e Ansumane Mane. O exílio (1999), anos depois o regresso (2005), a presidência de novo em 2005: tudo a acontecer num misto de instabilidade política e acentuadas fragilidades económicas, ultimamente com fortes interesses narcóticos de permeio.
Na madrugada de hoje Vieira não resiste, tomba de um golpe mortal…
Parafraseando Albatrozberdiano, "É o regresso da instabilidade nesse País. Em como isso afectará Cabo Verde será uma matéria para a reflexão de todos. É uma grande ângustia a situação em Bissau com o reinstalar do círculo infernal. Quo vadis?"
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