3 de junho de 2009

Arménio Vieira ganha Prémio Camões

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Arménio Vieira é o primeiro escritor e poeta cabo-verdiano a ser distinguido com o Prémio Camões e o quarto em África lusófona. Sem dúvida o maior reconhecimento à literatura cabo-verdiana em língua portuguesa e um super prémio. Depois do brasileiro João Ubaldo (2008), Arménio Vieira, o Conde, recebe o mais importante galardão literário da língua portuguesa de há muito desejado e merecido por Cabo Verde. E porque de apoteose camoniana falamos, escolhemos para celebrar um poema/homenagem de Arménio ao poeta de Vida Severina (por entre cabras e pedras), outro artesão em Língua de Camões, João Cabral de Melo Neto (Prémio Camões 1990).

Sabido que o voo
não se prende ao chão,
do qual não é unitário
nem tão-pouco afim,
já que o pássaro
só no sonho encontra sua estação
e a razão por que voa,
diga-se que o bloco,
pesado e concreto
não é substância
que inspires
quem ao voo se rende

João Cabral, no entanto,
sendo Z de uma recta
em que Dante é o A
encontra no feijão,
e na pedra, mesmo
na cabra, isto é,
na pele da cabra
que a seca secou
sua musa e seu canto

Isto muda, coisas
enfim em que o sem jeito
se junta à ausência
do ponto em que
a linha começa
e, mesmo assim,
sem que haja
casca e gema,
o pinto nasce
Sendo um pássaro,
completo e canoro,
sobe no ar e canta.

João Cabral, in: MITOgrafias

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