15 de junho de 2009

Cidade Velha: maravilha ou património mundial?

da escravatura














O concurso As Sete maravilhas de origem portuguesa no mundo, heroicamente promovido por algumas Instituições lusas, incomodou a muitos nos Países de Língua Oficial Portuguesa, menos em Cabo Verde.

Por cá, o que se viu, depois da eleição de Cidade Velha, e como se tudo não bastasse, vieram as autoridades a congratularem-se com a votação, e a considerarem, inclusive, que esta neo (apropriação) irá ajudar na candidatura de Cidade Velha. Como se a decisão da UNESCO já não estivesse tomada, para o bem ou para o mal.

De concreto esse concurso português não ajudaria em nada na candidatura do Sítio Cidade Velha. De recordar que uma das possibilidades da UNESCO incluir Cidade Velha na lista de património da humanidade, está ligada à consolidação do projecto Rota de Escravos, projecto criado em Benin em 1994 exactamente com o fito de rememorar a tragédia da escravatura, e promover a investigação sobre essa que é considerada a maior deportação de seres humanos na história da humanidade, crime que contou com a participação activa de Portugal.

Essa "maravilha" que é Cidade Velha surgiu do e para o Tráfico de Escravos. Antes da sua especificidade arquitectónica (muito festejada pelo concurso), e do puro e simples fluxo de pessoas, é de salientar o peso memorial da subtracção de seu espaço de milhares de almas, da morte de outros milhares, da exploração, da diminuição humana, tudo em nome da expansão Europeia e da descoberta de Novos Mundos. Feito erigido à custa da vida de milhares de seres humanos que, em vez de repúdio e condenação, continua cinicamente a ser celebrado.

Duvido que os historiadores cabo-verdianos não tenham percebido a ligeireza com que foram promovidas essas tais maravilhas, nomeadamente o sítio Cidade Velha. Mas cai mal criticar, escrever no jornal e denunciar mais um disparate da “metrópole”… Mário Fonseca já dizia (sobre tamanha dependência) tratar-se de uma doença que foge às tentações do diagnóstico.

Num dos textos/protestos sobre o assunto, o catedrático português, Boaventura Sousa Santos, diz que “por um critério mínimo de justiça histórica, as instituições que patrocinam este concurso devem exigir à empresa total transparência de contas e que os lucros sejam integralmente destinados à recuperação dos monumentos.” Pelo menos isso...

6 comentários:

Unknown disse...

Margarida, estamos de acordo neste assunto. Já não era sem tempo! Ainda noutro dia me perguntaram porque é que eu "andava sempre às turras" com a Margarida... A resposta foi rápida: porque é alguém com quem se pode ter uma boa discussão. Fka dret.

pura eu disse...

Pois é, João. Concordando, ou discordando, o que não é o caso da vez, as discussões devem existir e persistir.


Abraço

Álvaro Ludgero Andrade disse...

Prezada Margarida, parabéns pelo comentário. A propósito,sabes de alguma maozinha espanhola na construção da Real Fortaleza? E o pior é que a imprensa crioula por pouco não dá uma recepção para comemorar o feito!!!!

Claudia Sousa Dias disse...

cai mal, nada!

cai muito bem.
O combate à estultícia nunca pode ser mal-visto.


csd

Claudia Sousa Dias disse...

cai mal, nada!

cai muito bem.
O combate à estultícia nunca pode ser mal-visto.


csd

pura eu disse...

o "cair mal" do texto é ironia, cara confrade.

Concordo em pleno.

SDC

MF