6 de agosto de 2008
L(atitudes) precisa-se
"Latitudes" é um programa semanal concebido por uma produtora independente e emitido pela RTP África (canal aberto em Cabo Verde), que explora conteúdos ligados aos emigrantes africanos em Portugal. Esse programa é feito por jornalistas interessados, com reportagens pertinentes, mas o mesmo não se poderá dizer das apresentadoras escolhidas para o espaço. Desde o afastamento, por motivos de doença, do malogrado jornalista Raúl Durão que "Latitudes" não conseguiu uma apresentação à altura. As entrevistas variam entre o terreno movediço do desconhecimento e as armadilhas do preconceito. As reportagens sempre conseguem alavancar o espaço a ponto de cativar a atenção dos telespectadores mais interessados. Mas quero crer que existem deslizes imperdoáveis e, ontem, aconteceu um deles.
O convidado era Jorge Carvalho, Chefe da Missão Para-olímpica Portuguesa e a edição era dedicada aos atletas de origem africana que irão representar Portugal nos Jogos Olímpicos de Pequim. Havia também uma outra reportagem sobre os atletas deficientes de Angola que estavam, em trânsito por Portugal, a caminho da China.
No decorrer da entrevista, a apresentadora (jornalista?) jogou essa pérola: "assistimos ao sucesso no desporto dos africanos em geral: quenianos, afro-americanos. Existe alguma característica genética especial que leva a isso?" O entrevistado, visivelmente embaraçado, tentou mostrar à senhora que para ao bom atleta era preciso dedicação, treinar muito, endurance. E que na história da humanidade nunca se conheceu outro método que não seja esse para se conseguir sucesso no desporto.
Em verdade, tem sido recorrente a visão rácica, senão mesmo racista, do desporto e da capacidade desportiva afecta à origem racial. As teorias, desde Montesquieu, passando para as de Gobineau e de Chamberlain, caíram por terra, tanto pela razão da ciência como pela ciência da razão. Disparates como o branco mais racional e o negro mais emocional, o branco mais cerebral e o negro mais sexual, o branco mais forte e o preto mais resistente, hoje são inconcebíveis pela opinião pública e já não entram na pauta dos jornalistas que se prezam. Somente mentes preguiçosas, desatentas e preconceituosas se predispõem em pleno século XXI a propagar, mormente através do jornalismo, tamanho desajuste de pensamento. A apresentadora em questão, cometeu o erro estrutural, perante o silêncio dos que já perderam a indignação nesta nossa opinião pública.
Enquanto a caravana e a sua cartilha passam, os "intelectocratas" locais preferem combater a "manada caseira" e vilipendiar (como narciso fazia) por erros de português (a nossa segunda língua) os jornalistas da TCV.
foto: Adenor Gondin
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