
Procuro uma alegria
uma mala vazia
do final de ano
e eis que tenho na mão
- flor do cotidiano -
é vôo de um pássaro
é uma canção.
poem: Carlos Drummond
Ilust: Pedro Pamplona


Acompanho com interesse as telenovelas brasileiras, por razões várias. Primeiro, porque são, de um certo prisma, as melhores do mundo. Também porque é uma das formas de acompanhar o pulsar da complexa realidade social do Brasil. As telenovelas, sobretudo, as da Globo permitem isso, ainda que delas tenha uma perspectiva crítica. A depender do realizador, do elenco e da tipologia (urbana, regional, época), vai variando o nível de interesse. Sem contar a minha paixão para ler o enredo e a trama. Acompanho, sim, as telenovelas com preocupações muito particulares e próprias, mas de forma despretensiosa.


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Costumo lembrar a todos que escrevo sobre os encantos que as coisas me fazem. É aqui, e só aqui onde posso me dar ao luxo de assim agir. E é com esta subida emoção que falo do CD Badyo do músico, Mário Lúcio. Sem me ater a uma música em particular, e muito menos, ao separatismo arranjista do CD, discorro sobre o universo recriado pelos sons do Mário Lúcio.

No momento em que se debate o futuro do cinema, dominado hoje pela forma, creio ser pertinente dar a conhecer uma experiência do cinema preocupada com questões espirituais desafiadoras do homem contemporâneo. Refiro-me ao Festival Internacional de Cinema de Alba, nascido em 2002 com o nome Infinity Festival. O certame deste ano contou com a especial presença do Realizador americano Sydney Pollack. The Swimmer (com Burt Lancaster) 1968, The Firm (com Tom Cruise) 1993, Sabrina (com Harrison Ford) 1995, e The Interpreter (com Nicole Kidman) são alguns dos filmes de Pollack que cruzaram e marcaram épocas, dentre dezenas, presentes no evento deste ano. Este festival é temático e, em 2007, os debates giraram à volta do "medo". O medo que sentimos nas nossas vidas, no contacto com o outro, em relação à economia, ao ambiente, à crise energética, etc.
Uma parte de mim é todo mundo:
Depois da morte do sueco Ingman Bergman(foto), e do italiano Michelangelo Antonioni, associada a outras perdas na sétima arte, instalou-se o debate sobre o futuro do cinema. A arena tem estado aberta a prognósticos: o futuro, os essenciais, quem serão os futuros Buñuel, Bergman, Hitchcock e Godard do cinema? A última edição da revista brasileira Bravo! Aposta em 10 nomes, tendo David Lynch à cabeça. Quentin Tarantino e Pedro Almodôvar fazem parte dessa lista, sendo a argentina Lucrécia Martel (com apenas duas longas) a única mulher do grupo. Um dos fóruns a estender esse debate é a 31ª Mostra Internacional de Cinema em S. Paulo – 19 a 1º de Novembro com 300 filmes em cartaz.
Um artista da Costa Rica, Guillermo Habacuc Vargas, expôs um cão vadio faminto numa galeria de arte. Ninguém o alimentou ou lhe deu água e morreu durante a exposição. Guillermo Habacuc Vargas foi o artista escolhido para representar o seu país na "Bienal Centroamericana Honduras 2008". Existe uma petição onde é pedido que ele não receba este prémio. Por favor acesse esta página e assine a petição preenchendo o seu nome, e-mail, localidade e país. Acesse também um dos links onde esta história pode ser lida.



1. Yossou N dour actuou no Festival de Santa Maria, na Ilha do Sal, e regressou, ontem à noite, ao Senegal, depois de uma paragem de algumas horas na Capital. É a terceira vez que esse músico senegalês actua em Cabo Verde. A primeira foi no Club Naútico, em 1999, e a segunda no Fesquintal, Festival de Jazz, em 2002. Les super étoiles (a banda) disseram que no Sal foi tudo magnifique. No nosso segundo espectáculo chovia, lembra? E haveria de esquecer esse dia memorável! Perguntam se se conhece por cá o seu Live à Bercy, DVD gravado em 2005, em França, num espectáculo inesquecível. Claro, passa na TCV.
2. Gosto de um filme, pelo sabor de sua história, e pela sua narrativa, seja ela linear ou não. Parece-me algo difícil de conciliar e admiro aqueles que o fazem com mestria. Aprecio as histórias do Bergman, a forma como ele reduz o ser humano à sua condição (exercício complexo): Um verão com Mónica, O Sétimo Selo, como exemplos; o seu distanciamento perante os detalhes existenciais é total. E consegue tudo isso com belos, e por vezes, longos planos, muito silêncio, toques de camera... Porque é que agora tem de ser tudo a velocidade de um chip?! Exemplo disso é o filme Firewall (2006) com Harisson Ford. Num enredo veloz desses, fica a história e as suas implicações actuais, mas dificilmente retemos as ambiências que sempre contam, para uma boa sessão de cinema.
No próximo ano vai acontecer em Porto – Madeira, no Concelho de Santa Cruz, Ilha de Santiago, um mega encontro de arte. O projecto começou a ganhar corpo há um mês quando a artista plástica Misá organizou uma exposição de arte, inédita, na Cidade da Praia. Nesse evento, foi exposta uma diversidade de quadros, livros, fotografias, esculturas e discos, de vários pontos do mundo, à escolha dos participantes e amantes de arte. Ou seja, aqueles que aderiram ao projecto, levaram para as suas casas um objecto, que depois de uma semana deveria seguir para as mãos de um amigo em qualquer ponto do globo. O receptor da peça deve ser uma pessoa com sensibilidade e disponibilidade, de modo a não quebrar a corrente. O que quer dizer que todas as pessoas que recebem o objecto/arte devem proceder do mesmo modo. Neste blog os participantes devem deixar a sua opinião sobre o projecto, descrever o trajecto da peça, e deixar impressões outras. Depois de correr o mundo, a peça deve voltar a Porto Madeira até Agosto de 2008, para um encontro Transatlântico de arte. Há já alguns anos que a artista plástica Misá, através da ONG ABIDJAN, acalenta esta ideia, e agora as coisas parecem ter tomado um rumo. O objectivo desse projecto é incluir Porto Madeira no circuito artístico e turístico nacional, em parceria com outras organizações para o desenvolvimento, melhorando, em consequência, a vida das populações.
É no mínimo intrigante aquela publicidade da margarina Planta emitida diariamente na nossa TV pública. O leitor já viu? Uma família não cabo-verdiana a tomar o seu pequeno-almoço, com um ar de satisfação. Outra incompreensão é a voz off, anunciando a certificação do produto “nacional”, pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz.
A imagem de um artista constrói-se num percurso e emerge num puzzle onde cada peça conta muito. Em primeiro lugar está a música, que pode ser boa ou má, ou simplesmente agradável, quando o artista não almeja mais do que isso. É nesse bojo médio e soft que se enquadra, dentro da música nacional, um artista como Grace Évora, por exemplo. Não se vislumbram nele outras ambições, que não a de agradar o vasto público com a sua música e, de olhos postos nessa meta, consegue, e muito bem, o seu tento. Grace, nome artístico, surgido de Gracindo é um filho de Salamansa, zona pescatória e pobre de S.Vicente. Na Holanda, fez-se músico, primeiro na bateria, depois com a voz no grupo Livity. Após a desintegração da banda (ora reerguida), Grace continuou activo na música com o grupo Splash e uma carreira a sólo. À par da música que sobrevive à merce do subjectivismo daqueles que a consomem, é nossa intenção realçar a imagem construída de Grace. Um indivíduo discreto, de gostos sóbrios, fala mansa, e senhor de bom coração, mais do que isso, um homem de bom feelling. Tudo isso é patente no balanço das suas melodias, definidoras de um estilo próprio e inconfundível. A sua voz, sem pretensiosismo, consegue agradar; os seus videoclipes, dentro da tabua-rasa estética nacional, não são de todo desprezíveis. Muito cedo, bem antes da febre di terra, soube valorizar o seu padoss di tchom e promover, à sua maneira. É o que ficou para nós, e para muitos fans, certamente, da imagem que Grace Évora vem construindo ao longo de uma carreira de quase duas décadas.
Ouvir falar de Mário Puzo - 1920 -1999 (foto), conduz invariavelmente ao Padrinho (a saga da família Corleone), romance, adaptado ao cinema pelo realizador, Francis Capola. A abordagem da máfia italiana é retomada no último livro desse americano de origem italiana, A Família. Uma obra que narra a vida da lendária família Borgia, mais centradamente do cardeal Rodrigo Bórgia (Papa Alexandre VI). Um livro fausto e perturbante sobre os primórdios da máfia na Itália. Puzo, valendo-se do seu conhecimento da Itália profunda e da história (em colaboração com o historiador Bert Fields) e de um árduo trabalho de elaboração, deixa para a posteridade “um livro fundamental”. Em plena peste negra na Europa do Séc. XIV, com a população a ser dizimada, os homens começam a perder esperança no poder celestial e depositam a sua confiança no imediatismo terreno. Pertencer à igreja católica romana não era necessariamente sinónimo de profecia de fé e temor a Deus. Era um meio de exercer o poder, para o qual, contavam todos os subornos e favores envolvendo a aristocracia e a cúpula da igreja. A família Rodrigo Bórgia marca o Renascimento. Subornos, incesto, ambição, assassínios, traição, conspiração e luxo são os meios através dos quais os reinos, o Vaticano, as Cidade-estados que hoje fazem parte da Itália e países como França e Espanha, chegaram, mantiveram o poder e estabeleceram alianças, a todo o custo.

O Movimento Claridoso, que tanto paradigma marcou à Cultura Cabo-verdiana, em geral, e às letras das ilhas, em particular, gerou cedo críticas ao seu fundamento, embora o seu retrato aparente paire até hoje no imaginário dos cabo-verdianos.“Há males que vêm por bem” é uma expressão corriqueira e muito fechada. Diz muito! O facto é que todos somos resistentes a ela e fugimos incessantemente dos seus tentáculos. Só depois da tempestade, bem depois, é que nos quedamos perante essa máxima. A vida comprova que os bens que vêm depois dos males têm um sabor especial, e é normalmente nessas experiências que paramos para pensar nos instantes, nos silêncios, e nos actos que nos fazem.
Essa máxima sintetiza a dialéctica circular da existência humana, e obriga-nos a reflectir sobre o real significado da palavra fim. Na verdade, reinventamo-nos a cada instante, e criamos o nosso próprio casulo com os erros e acertos que cometemos enquanto seres humanos falíveis, fracos, dependentes, carentes, tristes, e outras vezes fortes, maus, prepotentes, arrogantes e bestas. Há quem consiga o equilíbrio…
Melody
Quero cantar a tua canção/Until the end.
Saber-te
Muitas vezes me surpreendo querendo viver outras vidas. Gosto de me colocar no lugar dos outros... vivenciar em outra pele alguns sentimentos que são meus. Não sei se aquela voz em ti provoca arrepios... nem se gostas daquelas ruas e ladeiras. Não imagino o que sentes ao cruzar com ele na rua.... mas queria saber.
Outra vez...
…a canção.
Freefind
No report semanal do motor de busca, constatei, à exaustão, algumas palavras-chave, o que demonstra que alguém quer muito reler algum texto que escrevi aqui faz tempo. Queria apenas indicar o e-mail acima, e me disponibilizar a ceder todas as informações que aqui publico… O pá, não vou por aí.
AQUI está o pão, o vinho, a mesa, a morada:
o ofício do homem, a mulher e a vida:
a este lugar corria a paz vertiginosa,
por esta luz ardeu a comum queimadura.
poem: Neruda
Jean d´Ormesson , citando Paul Valérie, disse, numa recente entrevista, que o escritor é motivado pela morte, e o jornalista tem na vida o seu motor. Essa afirmação levou-me de imediato aos poemas de Ferreira Gullar. O poeta que reinventa a morte.
Admiro a forma cerebral e natural como ele encara o sopro final à vida. Os poemas de Gullar saboreiam, em concreto, a vida, e cultivam intimidades com a morte. A sua abordagem do espaço, e de instantes é algo de conclusivo. Encanta-me de forma sublime o seu enquadramento da eternidade... nesse particular é emblemático como ele revisita incessantemente a atemporalidade da fotografia, enquanto registo, ou sujeito infinito.
Sente-se ainda nos poemas de Gullar alguma paixão frutal, às podres, inclusive. Amigos morrem/ as ruas morrem/ as casas morrem./ Os homens se amparam em retratos./ Ou no coração dos outros homens./ *
*Trecho do Improviso ordinário sobre a Cidade Maravilhosa (Rio)
Eu deixarei o mundo com fúria.
Não importa o que aparentemente aconteça,
se docemente me retiro.
De fato
nesse momento
estarão de mim se arrebentando
Raízes tão fundas
quanto esses céus brasileiros.
Num alarido de gente e ventania
olhos que amei
rostos amigos tardes e verões vividos
estarão gritando a meus ouvidos
para que eu fique
para que eu fique
Não chorarei.
Não há soluço maior que despedir-se da vida.
Com esse poema final de Ferreira Gullar, Os momentos sela o seu profundo pesar pelas vítimas do acidente aéreo ocorrido, ontem à noite, em S.Paulo, Brasil. Morreram 170 passageiros e outros trabalhadores do prédio da Companhia aérea TAM, em que embateu o avião.
imagem: Sadness, Picasso
Gabo é o nominho de Gabriel García Márquez, o autor de Cem anos de Solidão, O Amor nos Tempos do Cólera e outras nomeadas. Num jantar com amigos e familiares, recebeu uma repórter da revista brasileira Caros Amigos para uma conversa, o que foi considerada pela publicação nada mais, nada menos do que um furo fantástico. E é, de facto, se lembrarmos que o Prémio Nobel da literatura de 1982 não tem dado entrevistas faz tempo. A conversa aconteceu em Cartagena de Índias, Colômbia, cidade onde García Márques nascera há 80 anos, e não pisara há anos. Transcrevo em baixo umas linhas cheias de encanto da entrevista que García Márques concedeu à jornalista Ana Luiza Moulatlet (Foto).Tenho uma disposição particular para momentos e atitudes que emergem de encontros. Nesse bojo entram as artes, nas suas múltiplas manifestações, a cultura, em si como matriz identitária, e outras confluências.
Neste momento, percebe-se que a música de Cabo Verde tem sido a variante mais utilizada para a universalização da "coisa" cabo-verdiana. O disco Das Ilhas Mestiças do bandolinista brasileiro Rodrigo Lessa, é exemplo disso. São treze sons musicados num espírito eminentemente marítimo, porque nos transporta de Cabo Verde, mais precisamente do Calango Mindelo (a primeira faixa do disco) para o Brasil, de onde seguimos viagem para Cuba e Caribe.
No disco, Lessa legitima esse diálogo cultural com motivos históricos que, como sabemos, fazem de nós “seres atlânticos”. Um mundo com suas "afinidades e diferenças".
O disco contou com a participação dos cabo-verdianos Toy Vieira e Vaiss. A brisa caribenha do disco surge do trompetista cubano Júlio Padron. E nunca é demais acrescentar que Das Ilhas Mestiças contou com a participação especial de João Donato, o homem d´a paz.*
...A paz fez o mar da revolução
Invadir meu destino, a paz
Eu pensei em mim
Eu pensei em ti
Eu chorei por nós...
* João Donato escreveu essa canção em parceria com Gilberto Gil e este interpretou-a maravilhosamente.